Com o sucesso esmagador de Senhor dos Anéis, a obra de Tolkien se tornou não só uma das maiores sagas da literatura, como uma das maiores trilogias do cinema. Logo, era óbvio que o mundo esperava por uma prequel que adaptasse o livro anterior á Senhor dos Anéis, O Hobbit.
As aventuras de Bilbo Bolseiro ao lado dos treze anões de Erebor era uma história tão popular quanto a jornada de Frodo. Principalmente na literatura infantil. Entretanto, após algumas confusões na produção, o fardo acabou caindo nas mãos de Peter Jackson novamente. O resultado é curioso, debatido até hoje por fãs da franquia.
Indo em uma aventura

Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) é um Hobbit do Condado, uma raça que passa despercebida entre tantas outras na Terra Média. Bilbo, em específico, é respeitado em meio a seu povo. Ele nunca chamou a atenção, nunca se meteu em nada inesperado, e vive feliz em sua vida pacata no Bolsão no topo da colina mais alta do Condado.
Porém, isso muda quando um dia, o velho mago Gandalf o visita. Em busca de um gatuno, Gandalf convence Bilbo a se juntar a uma aventura. Após alguma relutância, Bilbo deixa seu lado aventureiro falar mais alto, e ele parte com Gandalf e a Companhia de Thorin. O ex-príncipe anão precisa recuperar sua montanha das mãos do terrível dragão Smaug.
Assim, ao lado dos treze anões, Bilbo parte em uma jornada que o muda como pessoa e Hobbit.
Em primeiro lugar, O Hobbit é uma obra extremamente difícil de se adaptar. De acordo com o próprio Tolkien, ele escreveu o livro como um conto infantil para seus próprios filhos, juntando partes do folclore popular europeu.
Assim, capítulos são narrados como histórias a serem contadas para crianças antes de dormirem. Tudo é muito episódico, nada constante, e não há bem um desenvolvimento para os personagens, além dos anões, respeitarem Bilbo a cada empreitada.
Pois O Hobbit é uma história que tira o leitor da zona de conforto, juntamente com Bilbo. Das colinas do Condado, até as montanhas sombrias dos Orques, a aventura é muito mais momentânea do que constante como em Senhor dos Anéis.
Ainda assim, é admirável como Peter Jackson conseguiu replicar, em partes, tal sentimento nas telonas. Pelo menos aqui, nós como espectador nos sentimos vivendo essa aventura ao lado de Bilbo e os treze anões.
Um filme em busca de proposito

A princípio, isso parece perfeito, não é? Um filme que foca na parte mais aventureira da coisa. Todavia, não é bem assim que funciona.
Uma Jornada Inesperada é um filme preso a uma interminável crise de identidade, e tal crise é sentida não só nesse, como nos outros dois filmes da trilogia. A responsabilidade de fazer uma prequel tão, se não mais grandiosa que Senhor dos Anéis fez Peter Jackson tentar inserir muitos elementos que não combinam com a obra original de Tolkien.
Orques de Gundabad, figurino duvidoso de certos anões, sequências de ação vazias, batalhas sem sentido. Tudo isso está presente aqui, e com força, como um blockbuster forçado na cara do espectador. Em outras palavras; eles tentaram transformar O Hobbit em Senhor dos Anéis.
Apesar de tudo isso, a mágica ainda existe a certo nível. A trilha sonora permanece fantástica, a direção se mostra ambiciosa em refletir a alma mais leve do livro, além de um retorno a lugares familiares que irão aquecer o coração de qualquer fã da trilogia original.
Uma Jornada Inesperada também é o filme que possui o desenvolvimento mais coeso de personagem. Apesar das constantes tentativas do roteiro de inserir esta narrativa na de Senhor dos Anéis, O Hobbit ainda é, e sempre será, a história de Bilbo Bolseiro. Conforme a companhia de Thorin sobrevive a perigos, desafios e ameaças, a utilidade de Bilbo é testada. Até o fim do filme, é gratificante ver o nosso protagonista evoluindo e provando que ele pode sim ajudar, e ser um deles.
Veredito
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é uma experiência conturbada, mas agradável. Certas vezes, o longa não confia em si mesmo e seus próprios objetivos, deixando difícil para a própria audiência decifrar seu proposito. Porém, quando o filmea acerta, ele acerta em cheio. O Hobbit funciona muito bem quando está sendo apenas O Hobbit, e não Senhor dos Anéis.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada pode ser assistido no Prime Video.





