Crítica | Abraço de Mãe (2024)

O novo filme de Cristian Ponce, Abraço de Mãe, se passa durante uma terrível tempestade que assolou o Rio de Janeiro em janeiro de 1996. A tempestade causou uma devastação generalizada, retratada na abertura do filme. Ouvimos que a cidade se tornou “um lugar de dor e lama” e que centenas de pessoas morreram. Uma bombeira chamada Ana (Marjorie Estiano) está de licença obrigatória após ter travado durante um resgate, aparentemente revivendo terríveis lembranças de um incêndio em sua casa de infância. Agora, ela está de volta e pronta para trabalhar novamente.

Após Ana ajudar a resgatar um homem que bateu o carro em um cabo elétrico de alta tensão, sua equipe é chamada para um asilo em risco de colapso. Quando chegam ao prédio decadente, os residentes e a equipe não sabem quem fez a chamada. Eles insistem que está tudo bem. No entanto, os tetos estão vazando e as águas estão subindo, e logo o prédio pode desmoronar em sua fundação. Os bombeiros querem evacuar os residentes idosos.

Estranheza e Tensão

Enquanto investigam o prédio e preparam a evacuação, fica claro que algo muito mais sinistro e estranho está acontecendo. A equipe do asilo está se comportando de maneira estranha. Os residentes parecem estar se preparando para algo, e há alguma coisa na água.

Esse é um filme estranho e surpreendente, que transita entre memórias, alucinações e um presente eletrizante. Quando era mais jovem, Ana e sua mãe visitaram uma feira e entraram em uma atração que imitava o interior do corpo humano. No fundo do prédio, elas viram um feto gigante flutuando em um útero suavemente iluminado, assustando a jovem Ana. Já adulta, Ana é assombrada pela memória daquela noite, de algo nas chamas que destruiu as paredes de sua casa.

Ponce faz um excelente trabalho ao manter o controle das mudanças de tom do filme. O comportamento dos residentes do asilo é bem equilibrado com os elementos de terror da criatura, e tudo é ancorado pela atuação de Marjorie Estiano como uma bombeira completamente fora da sua zona de conforto. Ana permanece profissional, com sua equipe metodicamente tentando fazer seu trabalho enquanto o mundo ao redor deles desmorona, e Estiano faz um ótimo trabalho ao mostrar tanto a competência quanto o medo crescente de Ana.

Maternidade e Cuidado

Como o título sugere, o longa também é sobre maternidade, sobre o que é necessário para ser uma cuidadora. A mãe de Ana morreu no mesmo dia em que ela travou no trabalho, embora elas não tivessem contato há décadas. Enquanto explora o asilo, Ana encontra uma jovem apavorada e, pela primeira vez, assume um papel de mãe. Embora isso pareça deslocado em relação ao resto da obra, a garota acaba sendo a chave para desvendar tudo.

Parte do que torna Abraço de Mãe tão eficaz é sua câmera fluida. Enquanto os bombeiros exploram o prédio degradado, a câmera de Ponce desliza pelos corredores, mudando de perspectiva para nos mostrar o que precisamos ver, em vez de cortar diretamente para a ação. Ana sai de cena, e a câmera vira um momento para mostrar um residente aplicando uma maquiagem branca assustadora, ou permanece em uma poça de água até vermos algo nadar por ali. É uma maneira simples, mas excelente, de construir tensão, sinalizando ao público que algo está vindo, em vez de nos surpreender com isso.

Adoramos filmes que se arriscam, e Abraço de Mãe realmente faz isso no ato final. Não temos certeza se vai funcionar para todos, porque o filme resiste firmemente a oferecer uma explicação fácil para os horrores que Ana e sua equipe presenciam. Isso não nos incomoda, pois, momento a momento, a produção inspira algo mais sensorial. Mesmo que não tenhamos os detalhes específicos da trama, certamente nos lembraremos de como o final desse longa nos fez sentir e, muitas vezes, isso já é o suficiente.