Crítica | Conselhos de um Serial Killer Aposentado (2025)

O longo título original Psycho Therapy: The Shallow Tale of a Writer Who Decided to Write About a Serial Killer basicamente resume a comédia sombria. Mas não se preocupe: não vamos ficar repetindo esse subtítulo pelo resto da crítica, nem usá-lo como desculpa para escrever mais de 600 palavras aqui. O que podemos dizer é que é um título inteligente que combina com o próprio filme.

O escritor desse “conto raso” é Keane (John Magaro), que está tentando desenvolver uma ideia de livro sobre o último neandertal que vive um romance com uma fêmea homo sapiens na Eslovênia, em 40.000 a.C. O problema — e nisso até sua esposa cansada Suzie (Britt Lower, de Ruptura) e seu agente David (Ward Horton) concordam — é que esse conceito não é algo que as pessoas querem ler fortemente. Na verdade, a esposa quer se divorciar dele.

O serial killer mais improvável

E o serial killer desse “conto raso” é um “assassino aposentado” chamado Kollmick (Steve Buscemi), que é fã do trabalho de Keane e quer que ele escreva um livro sobre sua história. O problema, para Keane, é que ele não escreve livros sobre assassinos, nem nunca assistiu a filmes ou séries que abordam esse tipo de tema. Então, imaginamos que esse sujeito mais velho não teme ser preso algum dia, a menos que tenha o nome trocado no livro.

Keane chega em casa bêbado, acompanhado de Kollmick, e Suzie quer saber o que esse cara está fazendo ali. O marido diz que ele é um conselheiro matrimonial. Kollmick não entende nada desse tipo de função e solta a frase: “Não existe progresso. Só a fria morte certa.”

Ou seja, Kollmick seria um Dom Quixote e Keane seria um Sancho Pança, já que eles concordam em ajudar um ao outro.

Achamos incrível que Suzie durma ao lado do marido em um clima esquisito enquanto corta cebolas porque gosta do som, e ficamos pensando no que ela e o marido tinham em comum antes de o divórcio virar uma possibilidade. E temos certeza de que ela está desconfiada com a chegada de Kollmick em sua vida.

Humor sombrio na medida

Nós rimos de como Kollmick tenta desempenhar o papel de conselheiro matrimonial, e de como Keane definitivamente não é um gênio moderno da literatura. Aliás, achamos que alguns escritores renomados se revirariam no túmulo se vissem os rumos que esse jovem escritor está tomando. E o trecho em preto e branco do romance pré-histórico imaginado por ele é mais interessante para nós, espectadores, do que para os outros personagens.

Tanto Buscemi quanto Magaro entregam uma química primorosa. Sem revelar demais, gostamos de como o roteiro lida com determinados elementos de forma ousadamente adulta, e como isso aparece num filme independente em vez de um mais comercial. Se fosse um longa de estúdio, provavelmente teriam empurrado esse tipo de coisa goela abaixo dos atores. Mas a produção usa esses recursos de forma mais competente.

O roteirista/diretor Tolga Karaçelik encara a comédia sombria com o mesmo fascínio que parte de nós tem, acertando o tom cômico com precisão. E não tenta inflar o elenco com muitos nomes conhecidos. Usa um grupo pequeno que funciona brilhantemente, e Buscemi e Magaro arrasam.