Grama é uma graphic novel antiguerra da artista Keum Suk Gendry-Kim lançada em 2017 na Coreia do Sul. A obra narra a história de Ok-sun Lee, uma sul-coreana forçada a ser uma escrava sexual dos soldados japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Coreia estava sob o domínio do Império Japonês.
Desde sua publicação, Grama vem ganhando cada vez mais admiradores pelo mundo e não seria diferente no Brasil. Se você é um deles ou já ouviu sobre a obra, mas ainda não leu, preparamos algumas curiosidades por trás da história de Grama que você provavelmente não sabe.
O motivo para criar Grama
Sua principal motivação foi perceber que todos os seres humanos sofrem e que existe uma beleza na superação destas. A autora conta, em evento realizado pelo Centro Cultural Coreano no Brasil em 2020, que não fez o livro para julgar ou cobrar a responsabilidade do Japão pela guerra e os trágicos acontecimentos. O que aconteceu com essas mulheres vai além da guerra, pois na época existia um problema de classes na sociedade coreana. A maior parte das famílias pobres tiveram que entregar suas filhas para conseguir algo de dinheiro ou porque achavam que as filhas teriam uma vida melhor. Por isso o livro também questiona o problema do sistema da sociedade da época.
Processo de criação
Em 1993, Keum Suk Gendry-Kim teve o primeiro contato com as informações sobre a história dessas mulheres escravizadas através de um documentário no festival de filmes sobre elas, na Coreia. Depois disso, em 2008 fez intercâmbio na França e, por coincidência, ela foi intérprete de um autor que escreveu um artigo que falava sobre esse assunto. Após seu retorno a Coreia, em 2013 apresentou uma obra que tratava sobre o assunto e então teve a oportunidade de mostrá-la no Festival Internacional de Comics de Angoulême na França em 2014. Após a conclusão da sua primeira obra a autora quis saber mais sobre o tema e estudou com profundidade, tanto que se envolveu emocionalmente, mas que não poderia parar, pois, para ela, era necessário terminar essa nova obra para assim dar início as outras. Grama iniciou em 2014 e foi concluída em 2017.
Estreia de Grama no Japão
No início de 2020 o livro foi publicado no Japão através dos esforços de um grupo de coreanos que residiam no país. Foi criado uma associação e junto a uma editora japonesa publicaram a obra. Com isso Keum Suk teve a oportunidade de ir para algumas cidades japonesas e apresentar seu livro. Ela conta que teve um bom público japonês interessado na obra e que ao perguntar quantos japoneses conheciam essa história ela recebeu uma resposta de que somente alguns poucos sabiam sobre as mulheres escravizadas. Ela ainda acrescenta que todos os encontros foram respeitosos das duas partes.
Uma obra aclamada
O livro recebeu vários prêmios internacionais, 5 prêmios no total – Melhor Livro pela VLA Graphic Novel Diversity Awards (2019), Melhor Graphic Novel pela Big Other Book Award (2020), Melhor Comic Impresso do Ano pela The Cartoonist Studio Prize (2020), Melhor Graphic Novel para Adolescentes pela ALA/YALSA (2020) e Melhor Livro Internacional pela Harvey Award (2020). Keum afirmou ter ficado muito feliz quando soube, pois ela teve muitas dificuldades na criação e publicação da obra na Coreia, então foi uma surpresa.
Situação atual das mulheres coreanas de conforto
A última atualização desse caso ocorreu em 8 de janeiro deste ano, quando uma corte sul-coreana ordenou que o governo japonês pagasse uma indenização de 91 mil dólares a cada uma das 12 mulheres que foram ex-escravas sexuais durante a Segunda Guerra Mundial ou para suas famílias. As vítimas afirmaram que foram enganadas e forçadas a serem mulheres de consolo durante essa época.
Apenas 5 das 12 demandantes ainda estão vivas, e das 200 mil meninas e adolescentes na Ásia, a maioria coreanas, que foram vítimas de abusos, somente 16 estão vivas.
Em resposta, o porta-voz do governo japonês afirmou que o assunto foi encerrado “completamente” e de forma “irreversível” com um acordo bilateral feito em 1965 e outro em 2015 assinado pela Administração sul-coreana, que o atual chefe rejeita argumentando que os acordos foram feitos sem que o consentimento das vítimas.
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Fonte: DW