Quem não lembra da boneca falante dos cabelos coloridos do Sítio do Pica-Pau Amarelo? Figura marcante da infância, Emília não desapareceu com o tempo, pelo contrário: se tornou uma das mais famosas marcas do nosso país.
Neste livro da Skript Editora, vemos uma coletânea de histórias escritas por 26 autoras que trazem versões diferentes da boneca: com cores diferentes, mágicas, mais adultas, de todas as formas. Conhecemos Emílias protagonistas, solitárias muitas vezes, que mostram sua vulnerabilidade diante do público em vez da costumeira molecagem.
O livro funciona como uma coleção de pequenos gibis, com ilustrações acompanhadas de falas ou não, e que possui desenhos de versões de Emília entre páginas. É muito legal perceber o contraste entre as páginas e ver a diversidade sendo abordada na arte. Uma hora temos uma estética bem infantil, uma página toda em tons pastéis e com um roteiro meigo, e então viramos a página e vemos uma temática bem sombria e reflexiva.
E não são só os traços divergentes que nos surpreendem, as narrativas escolhidas também. É claro que há histórias que o leitor irá apreciar mais, seja pela estética ou linguagem, mas é bom que tenha essa variedade disponível, assim como as diferentes versões da boneca.
Com mais de 90 páginas, a edição também conta com extras que mostram o processo de criação da capa, e um breve texto da editora que aborda a iniciativa de inserir mulheres e questões raciais nesse projeto. Mesmo que existam várias representações da personagem de Monteiro Lobato, ainda se pode identificar traços que as quadrinistas fazem questão de mostrar ao leitor: a boneca Emília tem em si, grande energia, um infinito protagonismo em que mesmo quando colocada como uma personagem de apoio para um tema, ainda atrai olhares para suas falas, para seus olhares.
Emília é, sempre, a intérprete de todas as conversas infantis, com um olhar ingênuo e uma boca que sempre diz o que é certo da maneira errada. Não é isso que todas as crianças fazem?
A obra Emília 100 anos faz com que recordemos sobre os dias em que éramos inspirados por sua personagem, em que aspirávamos para sermos mais como ela. A edição vale a pena não só por sua qualidade no quesito visual, mas também pela nostalgia que está sempre entre nós.