O Ar Que Me Falta é uma autobiografia de Luiz Schwarcz lançada em 26 de fevereiro deste ano. O livro tem como tema central a longa jornada do autor com a depressão, bipolaridade e uma infância marcada pela depressão de seu pai, e o casamento conflitante de seus progenitores.
Filho de judeus, Luiz, desde criança, teve de lidar com as consequências do passado traumático de André, seu pai, mas não só ele como sua mãe também. Quando jovem, André e seu pai, Laois, estavam fugindo dos nazistas alemães e certo dia tiveram que se separar, marcando, até o fim da vida, uma profunda tristeza e culpa em André por não ter ficado ao lado de seu pai, o qual nunca mais teve notícias, Luiz conta que nem mesmo as idas a sinagoga revitalizavam seu pai.
Meu pai não dormia nem sonhava porque o passado voltava como vigília absoluta. Quando diziam para sonhar com os anjos, será que se referiam a um anjo que protegeria meu sono […], ou ao anjo que viria salvar meu avô paterno, e assim deixar meu pai e toda a família dormirem?
Este episódio faz com que o autor ainda jovem criasse um senso de responsabilidade emocional perante seu pai, sendo ainda mais reforçado por ser filho único e considerado melhor amigo do pai. Isso também afetou o casamento de André, várias brigas, abortos espontâneos, excessos de raiva e o descaso com sua esposa Marta, são mencionados do início até a metade da obra, quando Marta toma a iniciativa de divorciar-se, fatores que desgastavam ainda mais Luiz.
No conjunto, o ambiente familiar complicado pelo período da separação e a constante perda dos outros filhos tão desejados contaminará cotidianamente o ar da minha casa, resultando numa forte pressão sobre meus ombros.
Mesmo sendo um conjunto de temas fortes, o autor soube dar um balanço emocional na obra. Se nas três primeiras páginas de um capítulo temos certas revelações tristes de seu passado familiar, nas páginas seguintes temos momentos de aconchego familiar, tanto pelos pais quanto pelos avôs, e aquelas pequenas coisas que deixavam aquela criança, adolescente, e mais tarde um adulto, feliz e de bem com a vida. Nos dois últimos capítulos vemos, já na sua fase adulta, suas recaídas durante sua luta contra a doença. E somos inseridos tão bem ao universo dele que é impossível não torcer por sua melhora e pela sua felicidade.
A vida não é apenas um mar abissal de tristeza ou um céu de felicidade, mas sim uma mistura intensa dos dois, e esta autobiografia retrata exatamente isso. Luiz não esconde nada, é até corajoso ao mostrar o seu mais íntimo de forma crua para milhares de pessoas desconhecidas.
Apesar de ter algumas palavras rebuscadas, a escrita é fluida e somos capazes de sentir todos aqueles sentimentos complexos que por anos Schwarcz guardou para si, por não os entender em sua totalidade e por não conseguir externalizar suas angústias e pensamentos devido à timidez.
Talvez não seja uma boa opção para aqueles que enfrentam uma crise de ansiedade ou estão num estado crítico de depressão, mas é uma ótima escolha para aqueles que conhecem alguém que está passando por este momento complicado ou que tem curiosidade.
Obviamente, o livro não substitui artigos especializados ou um profissional da área, e este não é o intuito da obra, porém, sendo um relato pessoal de quem lida a anos com essa problemática, serve como auxílio para entender um pouco melhor sobre o que se passa na mente de uma pessoa com depressão, lembrando que existem vários tipos.
Além disso, também é uma excelente e provavelmente a única indicação para quem gostaria de saber mais sobre a trajetória de vida não apenas do autor e fundador da Companhia das Letras, Luiz Schwarz, mas da criança Luizinho e do adolescente Luizão, apelidos estes dados por amigos e familiares.