Dizem que no Século XXI tudo pode se transformar em um produto. Bem, e se vivêssemos em um mundo onde super-heróis não passam disso?
Imagens de algo que não são, controlados pela mídia, pelas corporações, mascarando suas verdadeiras e distorcidas personas.
The Boys de Garth Ennis e Derick Robertson serve como resposta para essa pergunta, mas carregando sua própria dose de sarcasmo, sátira, e comédia ácida. Com a série baseada no quadrinho fazendo tanto sucesso hoje em dia, nós do Código Nerd 42 decidimos voltar as raízes da obra. Porém, será que o início da história em quadrinhos se compara com sua sucessora live-action?
A sátira de The Boys

Em um mundo onde a maioria dos super-heróis fazem parte do grande monopólio comercial e midiático da Vought International, há aqueles que sofrem bastante com os rastros de destruição dos chamados “heróis”.
Entre eles, Hughie Campbell, um escocês que perde a namorada por conta da ação desastrosa do herói A-Trem. Ressentido e quase silenciado pelos homens de terno da Vought, Hughie é procurado por um suposto agente da CIA especializado em neutralizar supers problemáticos, Billy Carniceiro, ou Butcher.
Um verdadeiro psicopata com sede sangue por conta de seu passado sombrio, Butcher reúne seus velhos companheiros, Os Rapazes, e de volta a ativa, agora com um novo membro, decidem caçar alguns “sups”.
The Boys é, primordialmente, um quadrinho que satiriza as velhas histórias dos super-heróis, mas acima de tudo, satiriza o estilo de vida americano pós onze de setembro. Ainda mais considerando que a raiz de todos os problemas do quadrinho está na Vought. Essa encarnação do consumismo capitalista tão presente não só na América, como no mundo todo de The Boys.
Nesse ínterim, é ótimo ver a trama pulando de diferentes perspectivas. Por exemplo, temos o núcleo da Luz-Estrela, ou Starlight, uma heroína em ascensão que entra para os Sete. Estes sendo a elite dos heróis da Vought, uma espécie de Liga da Justiça. Entretanto, ela logo percebe a sujeira do lugar onde se meteu, presenciando a verdadeira face de seus heróis preferidos.
Também é preciso elogiar a arte de Derick Robertson, que é um perito em desenhar expressões faciais que dão um ar realista, mas exagerado para obra. O próprio Hughie teve seu rosto desenhado em cima do ator Simon Pegg. Afinal, The Boys abraça esse estilo mais cômico e assumidamente satírico para sua história desde o início.
A ameaça dos Sups

Como resultado da ótima construção de mundo por parte da narrativa temos uma história que insere o leitor de forma bastante agressiva nas faces depravadas e violentas do mundo de The Boys. Exatamente como o quadrinho espera, encarnamos nossas surpresas e descrenças em personagens como o próprio Hughie. Ou até mesmo na Luz-Estrela, considerando que ambos são os dois lados de uma mesma moeda.
Hughie cada vez mais se envolve nos esquemas de Billy, enquanto o mesmo espiona um grupo mirim de super-heróis que secretamente organizam orgias e noites de drogas. É normalmente chocante que tanto Hughie quanto nós, como leitores, ficaremos chocados em como corrupto este mundo onde os personagens se encontram realmente é.
Isso faz de Campbell um ótimo pseudo-protagonista deste primeiro volume, que trata da perda de inocência em um mundo controlado pelas grandes corporações. Apesar de não exatamente sútil, a mensagem de como essas empresas moldam, constroem e propagam uma visão plástica de nosso mundo é bem efetiva.
Por outro lado, também temos ótimos personagens de apoio. Entre eles, Leitinho, um homem negro de Nova Iorque que lida com uma vida caseira frustrante e esconde seu passado nebuloso. Também temos o Francês, ou Frenchie, perito em bombas e equipamentos, além de bom para arrumar confusão. E por fim, A Fêmea, uma garota misteriosa sem nome que possui poderes em seu sangue.
Poderes esses sendo frutos do Composto-V, uma droga que é geralmente usada em quase todos os Sups para lhe darem seus poderes, revelando que a maioria não é exatamente o herói de origens que todos pensam que são.
Os super-heróis, apesar de não serem muito explorados neste volume, sendo mais figuras distantes mais enfatizadas nos trechos de Luz-Estrela, são bem aproveitadas para o choque de realidade que a mesma enfrenta.
Veredito
Este primeiro volume de The Boys é cirúrgico na entrega intensa de que o mundo onde esses personagens vivem não é dos melhores. Com suas críticas de época, porém sem nunca perder o senso de humor sombrio e sarcástico de Ennis, The Boys. Vol 1 é uma ótima introdução para toda a obra. De fato, aqui ficamos sabendo sobre o nome do jogo, e ele não é nada bonito ou lírico.
Você pode saber mais sobre o lançamento de The Boys pelas mãos da Devir aqui.





