Se o primeiro volume de Vagabond tratava da ascensão de Shimen Takezō, então o segundo conta a sua queda.
Ainda com uma narrativa muito bem escrita, e uma arte sublime por parte de Takehiko Inoue, Vagabond só melhora.
Pendurado
O “demônio” da vila de Miyamoto eventualmente se entrega ao monge Takuan, e sua amiga Otsu, após muita resistência, e então é pendurado em uma árvore, onde enfrenta os frutos de sua própria teimosia e arrogância. Ao decorrer do arco, há contrates interessantes entre a solidão de Takezō, e a natureza. Quando criança, o mesmo corria para as montanhas, os rios, e é dito que a floresta o moldou ao guerreiro que conhecemos.
Porém, seria isso uma benção ou maldição? Takezō realmente crê ser poderoso, entretanto, essa força se prova mais como uma fraqueza e desespero reprimidos do que sabedoria.
Dessa forma, através das páginas e quadros do volume, que se mostra cada vez mais bem desenhado, acompanhamos uma angustiante provação de Takezō na árvore. Pendurado por dias, sem comer, sem falar uma palavra, e se hidratando da água da chuva. É irônico o quanto a natureza mantêm o protagonista vivo, apesar de todos os seus erros, é como uma segunda chance dada a ele.
Por isso, a “morte” do próprio Shinmen Takezō no final, no topo de uma montanha, é tão simbólico. Deixando esse garoto ingênuo e impuro para trás, Takezō, agora se nomeando Miyamoto Musashi, passa a entender um pouco mais sobre si mesmo. Porém, está longe de entender sobre o mundo, afinal, ele está apenas se abrindo para ele.
Musashi parte com Otsu, sua amiga e amor de infância, para longe da vila, em busca de novos desafios.
A dor a cada página
De antemão, os traços e a arte de Inoue continuam com sua gama dramática nas entrelinhas. Além de bem desenhados, os quadros agora passam a mostrar relances, memórias de Musashi, viagens psicodélicas e abstratas por sua mente.
Este que seria um elemento tão importante para o personagem, e para a obra na totalidade ao decorrer de seus próximos volumes. Aqui começa a verdadeira provação de Musashi, que se estenderia pelo resto de sua vida.
Esta sendo a necessária conclusão de que ele não é o guerreiro mais forte, nem o mais inteligente, e tem muito o que aprender. Mas, talvez, o pior de tudo, seja que ele deve olhar para dentro de si, e isso pode ser muito doloroso.
De qualquer forma, Vagabond passa a contar histórias, batalhas e conflitos internos nas cabeças de seus personagens, e de seu protagonista. Isto só prova a capacidade de Inoue como roteirista e desenhista, e do potencial que continua ganhando qualidade e carga dramática ao longo dos volumes.
Veredito
Com seu segundo volume, Vagabond afoga o leitor cada vez mais na psique perturbada, e nem tão heroica de seu protagonista, e isso é maravilhoso. No fim do arco da vila de Miyamoto, temos um relance do novo personagem que acompanharemos pelo resto da história, Miyamoto Musashi, e assim, a história continua, de um garoto para o maior samurai de todos os tempos.
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