Criada por Dave Filoni e Jon Favreau, a primeira temporada de The Mandalorian é uma das maiores unanimidades entre os fãs de Star Wars. Além de ter sido uma das séries mais pesquisadas na época de seu lançamento, a série original Disney+ apresenta um dos maiores e recentes ícones da cultura pop: o ”Baby Yoda”, que deu o que falar (e vender).
Nessa temporada, situada após os eventos de O Retorno de Jedi, um caçador de recompensas mandaloriano (Pedro Pascal) é contratado por forças remanescentes do império para recuperar uma certa criatura. Contudo, ao descobrir que se trata de uma criança, ele muda a sua missão e fica foragido.
The Mandalorian, uma essência inovadora
O que mais conquista durante a experiência em The Mandalorian é que ela nunca se propõe a ser mais do que é. Esta é uma simples história de um caçador de recompensas que corre riscos ainda mais perigosos após uma tomada de decisão. Assim, dentro dessa premissa, existe uma gradativa execução desse personagem.
Ele não possui a força ou é um ser de grande porte, o Mandaloriano é apenas um homem. Uma pessoa que, está sujeita a falhar e possui inúmeras vulnerabilidades; mas, que dadas suas experiências, carrega um grande preparo e habilidades invejáveis, seguindo sua doutrina fortemente.
Essa história é mais ”realista” e menor, não tendo um roteiro muito genial, mas também, tentando ser algo novo e o que chamaríamos “pé no chão”. Ninguém é realmente confiável, aliados inesperados surgem e mistérios ficam cada vez mais gritantes.
Dentro disso, a própria canção tema do personagem marca qualquer um que assiste e torna-se difícil desassociar dele, desde o primeiro momento em que está em cena. Ludwig Göransson faz de sua trilha uma das mais memoráveis de Star Wars, o uso da flauta e suas variações são perfeitas nesse contexto, junto das batidas que trazem um ritmo mais fluido nas cenas em que são tocadas.
O visual da série se mostra muito bem trabalhado. Além do uso do StageCraft e, consequentemente, paisagens reais e bem polidas, o nível de produção é bem competente. Ainda sim, existe o resgate do que George Lucas fez na trilogia clássica: a mistura dos efeitos práticos com os visuais, que torna a experiência estranha e agradável, em simultâneo.
Nesse sentido, sabemos quando algo dentro desses cenários e personagens é realizado manualmente, remetendo aos filmes antigos; além de trazer um senso de palpabilidade e deixar esse universo mais próximo de nós.
The Mandalorian como continuidade
Essa é uma história original? Com certeza, mas ela está atrelada a elementos já existentes no cânone de Star Wars. E justamente por se passar após a queda do império, ela mostra que, na verdade, esse mal não parou de existir simplesmente. Não existe nada mais crível do que mostrar seguidores ainda crentes em um sistema tão extremo e cruel, cujo líder já morreu.
É notável também como a base religiosa dos Mandalorianos se torna um dos fatores mais instigantes da temporada. Nesses oito episódios, somos imersos nessa doutrina e entendemos o que motiva não só o nosso Mandaloriano, mas os outros também. É um mini-universo bem abordado, que mesmo já tendo sido pincelado nas animações, não deve em nada.
Moff Gideon é um vilão clássico, calmo, imponente e frio. E a série ainda tem outros bons personagens que merecem destaque, como, por exemplo, Kuiil e IG-11, que em pouco tempo fazem nos importarmos muito com eles. Esse é o bom Star Wars, que nos conecta com os mais diversos personagens e suas peculiaridades.
De qualquer forma, não podemos negar que muitos desses episódios consistem na típica aventura semanal. Às vezes, estamos tão investidos na história principal e ela demora a engrenar, já que a cada episódio o Mandaloriano precisa fazer uma missão individual e nem sempre será tão empolgante quanto o grande conflito. Contudo, os dois últimos episódios são grandiosos e Taika Waititi traz um humor refinado ao fim da temporada, além da ação bem conduzida e os grandes momentos de emoção.
O poder emocional desta história
O que poderia amolecer o coração de uma pessoa tão bruta quanto o de um caçador de recompensas? Que mede cada palavra dita e é frio quando precisa ser? Uma criança. Uma companhia. Nesse caso, uma criaturinha que viria a se tornar seu enjeitado, que ele cria uma conexão de imediato e fará de tudo para protegê-lo.
Mas por quais razões ele faria isso? E quem é essa criança que se assemelha tanto ao Yoda? Essas são as grandes questões da história, que sutilmente vão sendo respondidas. A origem de Din Djarin, onde uma palavra nem sequer é dita e, mais uma vez, com a poderosa trilha de Göransson, finalmente consegue amarrar a história.
Embora ainda não saibamos quem exatamente é a criança e quais motivos fazem o império querer tê-la nas mãos, seu nível de fofura encanta; seja pela movimentação até a maneira com que ela usa a Força e desmaia logo em seguida. Mesmo que Din tenha um motivo claro para estar fazendo isso, nós, o público, faríamos a mesma coisa.
O Mandaloriano poderia ser um personagem de difícil afeição, afinal, ele raramente tira sua máscara. Porém, é essa conexão desses dois personagens que sustenta nosso vínculo com a história, pois é gradual e natural.
Portanto, a primeira temporada de The Mandalorian é Star Wars como deve ser. Os elementos da mitologia desse personagem são bem-estabelecidos e essa história prende qualquer um. Ela busca inovação através do que já existe e executa a difícil missão de trazer um novo público para esse universo. Se você gosta de Star Wars, você irá gostar da série. Se você não gosta de Star Wars, você irá gostar da série. ”E tenho dito”.