Scarface – A Vergonha de uma Nação foi um filme produzido durante a era de ouro dos mafiosos ítalo-americanos, em meio à Lei Seca. Nessa época, homens como Al Capone andavam pelas ruas de Chicago como reis, e cabia a população glorificar, temer e odiá-los.
Décadas depois, as mensagens que o filme apresentam ainda são muito interessantes. Sua discussão sobre cultura americana, lei, crime, amor e violência fizeram de Scarface um nome reconhecível na indústria. O filme chegou até a receber um reboot nos anos 80, estrelado por Al Pacino. Mas, será que seu precursor envelheceu bem?
Tony Camonte

A história narra a ascensão e queda do capanga mafioso, Tony Camonte, um homem ítalo-americano com um porte físico tão intimidador quanto a cicatriz misteriosa em seu rosto. Além de ambicioso, Tony também é um visionário, que busca se tornar um grande chefão em Chicago.
Entretanto, estas ambições parecem cada vez mais distantes, a medida que o chefe de Tony, Johnny Lovo, toma o controle da parte sul da cidade, e o mesmo precisa ajudá-lo a se manter no poder.
Camonte é um protótipo do icônico Tony Montana, e os dois partilham de várias características e nuances. Por exemplo; ambos possuem uma irmã que juram proteger das impurezas do mundo, ambos são brutais e ótimos em seu trabalho, e andam com um amigo e companheiro ajudante ao seu lado.
Como resultado da atuação maneirista de Paul Muni, nos vemos torcendo por um protagonista cruel, violento, e psicótico, cujas ações são sustentadas pelos outros ótimos elementos do longa-metragem.
O longa retrata as discussões sociais a respeito dos gângsteres de forma majestosa, desde a visão da mídia, da população, até da polícia. Há um certo cuidado do roteiro em não cruzar essa linha entre questionamento moral, e uma boa história, o que é benéfico para o filme.
Um clássico do cinema gângster

Apesar de o cinema gângster já ter ficado saturado há muito tempo, é interessante olhar para Scarface e os arquétipos desse gênero cinematográfico que fez parte da cultura americana por tanto tempo.
Afinal, este filme ainda é uma história da queda de um mafioso, uma narrativa tão comum naqueles tempos. Apesar disso, o lendário Howard Hawks opta por uma direção e estética bastante ambiciosas para o filme, desde explosões mirabolantes, até tiroteios de tirar o fôlego com ângulos inovadores.
Dessa forma, o resultado é quase um épico mafioso, anos antes do Poderoso Chefão sequer chegar as telonas.
As atuações são sólidas, creditáveis, apesar de algumas serem propositalmente canastronas. Com uma trilha brilhantemente composta por Adolf Tandler e Gus Arnheim, somos arrastados para os subúrbios sujos de uma Chicago dominada por gangues de rua.
Um fato curioso à respeito da produção, é que o próprio Al Capone inspirou o personagem de Tony. Considerando que o livro original de Scarface é uma história do infame chefão do crime.
Infelizmente, a sequência final parece surgir do nada, e apesar da trama dar lampejos da inevitável queda de Tony, suas ações finais são abruptas e o filme termina em uma nota solta.
Veredito
Em suma, mesmo com esses problemas, a narrativa cíclica se consome, e a nação do título engole a sua vergonha, Tony.
As boas atuações, uma ótima trilha sonora, uma história bem caminhada abastecem o conto trágico de Tony Camonte. Assim, Scarface – A Vergonha de uma Nação se prova como um clássico do cinema gângster e do cinema em geral.


