As pessoas dizem que foram assistir O Hobbit: Uma Jornada Inesperada por vontade, Desolação de Smaug por um senso de obrigação. Mas sequer assistiram O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos. Isso diz muito sobre o estado da trilogia a esse ponto. As pessoas estavam cansadas, tão quanto Bilbo e seus amigos.
Como se feito por obrigação e dever, A Batalha dos Cinco Exércitos finaliza a trilogia O Hobbit de forma derrotada e caída. Longe da ascensão, ao encontro do fim absoluto. O filme nunca pareceu tão longe do livro quanto agora.
A batalha do filme é contra si mesmo

Smaug está morto, A Cidade do Lago está em pedaços e cinzas, Bard é um herói, mas um novo conflito se acende. Orques, Elfos, anões e homens se reúnem para invadirem Erebor e tomarem suas riquezas. Porém, Thorin e seus anões estão dispostos a defenderem a montanha com suas vidas. Perdido á tudo isso, a lealdade de Bilbo é testada entre seu senso moral e seu dever.
O filme trânsita entre Erebor, A Cidade do Lago, e tramas paralelas como O Conselho Branco descobrindo o terror de Dol Guldur englobam a história. História esta que anseia por uma conclusão imediata. Se Uma Jornada Inesperada era um filme em busca de proposito, então A Batalha dos Cinco Exércitos é um filme em busca de clímax.
Porém, tal clímax nunca parece se formar organicamente. É como se todo o longa fosse um retalho para alcançar a reta final, e a tal batalha do título.
A Batalha dos Cinco Exércitos sofre com a falta de desenvolvimento ausente do filme anterior. Como se tentando montar um espelho através de cacos quebrados do chão, a audiência é levada a acreditar que Thorin está enlouquecendo, como seu avô, e que o fim está próximo.
Da mesma forma, somos coagidos a sentir uma tensão pelo fato dos treze anões dos filmes anteriores estarem em uma trama política e sangrenta envolvendo outras raças. Entretanto, tal tensão é inexistente, considerando que não tivemos muito tempo para criar laços com os personagens, já que os filmes anteriores focavam em aspectos diferentes da história.
Desfecho insatisfatório

Smaug morre no começo do filme, o que é estranho, pois toda a construção da figura do vilão havia sido estabelecida com maestria no filme anterior. Naturalmente, achamos que ele será derrotado no mesmo filme, porém, não é assim que acontece.
O filme começa com Smaug destruindo A Cidade do Lago, e com Bard o matando, e assim o lugar fica em cinzas. É curioso, pois isso representa todo o resto do filme. A direção, apesar de ter seus momentos, só está mais mal inspirada ainda. As atuações de certos personagens ainda é soberba, mas não o suficiente.
Nada é o suficiente, é como se tivesse algo errado com o filme inteiro. Constantemente esperamos que as coisas irão melhorar, mas isso não acontece.
Entretanto, ainda há lampejos do que ele poderia ter sido, principalmente nas horas finais. A Batalha dos Cinco Exércitos é recheada de CGI, atuação cafona, e conflitos sem desfecho. Porém, quando os anões saem de Erebor para a batalha, com uma música incrível por Howard Shore, não há como não sentir um pouco de aperto no coração por toda a trilogia e seus personagens.
A morte de alguns personagens também é chocante, principalmente quando modificadas para o tom mais sombrio do filme.
Ainda assim, o filme se entrega completamente ao arquétipo do Senhor dos Anéis, como uma mera cópia. Legolas abusa das cenas de ação sem sentido, sendo que algumas dela vieram a se tornar piada na internet. O Conselho Branco lida com o retorno de Sauron! Mas não há nenhum impacto na revelação. Isso só ajuda a matar qualquer alma que o filme poderia ter tido.
Veredito
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos é um desfecho amargo para uma franquia que um dia já marcou a história do cinema. História fraca, efeitos especiais cafonas, adições desnecessárias e um senso de pressa é o que cercam todo o espírito de O Hobbit como trilogia. E esses defeitos nunca estiveram tão evidentes quanto neste filme em específico.
Isso só serve para mostrar que o mundo que Tolkien construiu décadas atrás é de tamanha riqueza literária e narrativa, que forçar um certo estilo para o espírito de sua história pode ser prejudicial. Porém, isso não faz da trilogia algo sem salvação. Pode-se encontrar paz em O Hobbit, assim como em Senhor dos Anéis, e talvez esta seja a única coisa a se abraçar para suportar alguns de seus vários defeitos. É possível apreciar todas as facetas da Terra Média, até mesmo as mais obscuras e fracas.
O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos pode ser assistido no Prime Video.





