Bond. James Bond. Você sabe quem ele é, você soube por décadas, e todos sabiam por décadas. Mas em 2006, uma reimaginação da primeira história do agente apresentou um Bond mais humano, mais bruto, mais fiel aos livros originais de Ian Fleming. Essa reimaginação é Cassino Royale, dirigida por Martin Campbell, e estrelada por Daniel Craig.
Livros x filmes
Existem algumas grandes diferenças entre os livros de Fleming e os filmes produzidos nas décadas de 60, 70 e 80. A mais perceptível, talvez, seria a brutalidade, e até mesmo a natureza crua de algumas histórias, eventos e acontecimentos ao agente. Na visão de Flemming, Bond é elegante, sedutor, bem-arrumado.
Porém, ele também é um assassino, ele mata por seu país, e essas mortes são representadas de forma muito nua e crua. Isso cria dá um aspecto interessante ao personagem, ele pode ter duas facetas distintas, ele é uma pessoa de verdade.
Já os filmes, por muito tempo apresentaram um Bond mais triunfal, com traços mais glamourosos, quase cartunescos. Obvio que a persona, a natureza, e o ar do personagem original ainda eram carregados de ator para ator.
Talvez a primeira tentativa de realmente trazer esse choque de realidade dos livros, foi no filme A Serviço Secreto de Sua Majestade. Onde, nos momentos finais, a mulher com quem Bond se casa, Tracy, é assassinada por Blofeld e seus capangas.
Nesse sentido, o Bond de Craig personifica muitos desses traços dos livros. Às vezes essas mudanças bruscas nos personagens podem causar certa revolta nos fãs, Craig, em específico, foi muito criticado pela mídia quando fora escolhido para o papel, com muitos afirmando que ele não tinha a aparência de um Bond. Ele surpreendeu a todos.
Um clássico de todos os lados
O resultado é uma experiência de tirar o fôlego. Cassino Royale é um clássico filme de James Bond, mas ele é um clássico que se arrisca, que vai contra todas as possibilidades e volta para contar uma história sublime.
A direção se adapta a cada ato, sendo que o primeiro inteiro é lotado de cenas de ação, lutas corporais e tiroteios. A partir do segundo ato, essa atmosfera muda para um filme mais lento, mais cuidadoso, onde as batalhas são mentais e envolvem um jogo de pôquer.
O suspense nessas cenas é construído através dos olhares, das mais pequenas ações que podem ter consequências gigantescas no jogo.
O vilão principal da vez é Le Chiffre, que mantém um banco internacional para terroristas. Quando suas ações caem e ele perde tudo, Le Chiffre precisa ganhar o infame jogo de pôquer no Cassino Royale para recuperar seus milhões, mas Bond irá impedir seus planos e tentar ganhar o jogo, já que o mesmo estava na cola do banqueiro por meses.
007 é ajudado por Vesper Lynd, a melhor Bond Girl já desenvolvida em um filme, tendo um arco de personagem interessantíssimo e um segredo obscuro.
A trilha sonora é um dos pontos fortes do filme. Ela se inspira em temas clássicos de Bond, mas os moderniza para o filme. O tema principal, escrito e cantado por Chris Cornell, talvez seja o melhor tema de um 007 já feito.
O agente, obviamente, recebe a ajuda do MI6, com Judi Dench reprisando seu papel como M. A química de Craig com cada um desses atores é assustadoramente perfeita. Seu romance com Vesper é acreditável, tendo uma anatomia psicológica forte que desenvolve ambos os personagens, sua relação de filho e mãe problemática com M, e é clara sua rivalidade com Le Chiffre.
O vilão não é invencível, nem possui um exército à disposição. Ele, na verdade, está no mesmo barco que Bond, e sua vida está em jogo. Ambos são ótimos jogadores, ambos são rivais, e só um dos dois pode vencer.
Conclusão
007 – Cassino Royale é um dos melhores filmes de James Bond já feitos. Ele respeita as temáticas dos livros, dos filmes, e adiciona seus próprios elementos para uma história quase definitiva do agente secreto mais conhecido da ficção. A música, a direção e as atuações formam uma sincronia perfeita que compõe uma sinfonia de um lindo filme.