A beleza é dor, e ninguém sabe disso melhor do que Coralie Fargeat. Portanto, a cineasta francesa nos entregou A Substância, uma obra elegante e cínica dentro do horror – e um clássico instantâneo do gênero.
Estrelado por Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid, A Substância acompanha Elisabeth Sparkle (Moore), uma guru do fitness envelhecendo, cujo mundo desmorona quando seu empresário (Quaid) a abandona, alegando que sua idade é um obstáculo para o sucesso. Devastada e desesperada, Elisabeth descobre uma substância misteriosa que promete transformar sua vida para sempre, criando uma versão melhor e mais bonita de si mesma. No entanto, quando essa nova e melhorada versão (Qualley) começa a desenvolver vontade própria, um conflito de poder se instaura entre as duas metades de Elisabeth, resultando em um banho de sangue.
Demi Moore e o peso de uma carreira marcada pela imagem
Apesar de ter mantido uma carreira estável no cinema e na TV ao longo das últimas décadas, é inegável que, ao ouvirmos o nome “Demi Moore”, nossa mente evoca imagens de muitos anos atrás, como Ghost. Moore continuou refinando sua arte como atriz, mas segue fortemente ligada ao seu passado — e, mais importante para A Substância, à aparência que possuia no passado.
Como Elisabeth Sparkle, Moore é dolorosamente relacionável em suas vulnerabilidades e inseguranças. Apesar de ser Demi Moore — e deslumbrante sob qualquer definição —, Elisabeth passa todo o filme atormentada por um fluxo incessante de dúvidas e autocrítica. Embora isso seja impulsionado pelos muitos homens em sua vida, retratados de forma quase caricatural em seu olhar lascivo e superficial, Elisabeth rapidamente internaliza suas avaliações e inicia uma guerra, literal e figurativamente, contra si mesma.
Um duelo entre corpo e identidade
O que se desenrola é uma luta brutal e visceral pelo controle da vida e do corpo de Elisabeth. Moore enfrenta Margaret Qualley, que interpreta Sue, a versão jovem, sexy e animada (mas ainda obcecada com a aparência) gerada pela substância. Qualley entrega um sorriso largo e vazio, perfeito para um clone criado para ser belo. Embora Sue não seja um papel tão denso quanto o de Elisabeth, os momentos finais do terceiro ato permitem que Qualley explore camadas além da pele impecável e dos músculos tonificados.
Mas, enquanto Elisabeth passa o filme obcecada com a aparência de Sue, é Moore quem impulsiona A Substância para o sucesso. Sob camadas da maquiagem aterrorizante de Olivier Alfonso ou simplesmente encarando seu reflexo no espelho, é impossível tirar os olhos dela.
Há um cansaço profundo no olhar de Elisabeth Sparkle que só poderia vir de alguém que passou décadas suportando essa indústria. Mesmo quando A Substância abraça completamente a insanidade, o comprometimento de Moore com a insegurança de Elisabeth mantém o filme pulsante. Isso sustenta até os momentos mais sangrentos e surreais.
A produção também é um espetáculo sensorial. Uma experiência que Fargeat cria ao lado do compositor Benjamin Stefanski, do designer de produção Stanislas Reydellet e do diretor de fotografia Benjamin Kracun. O filme é um deleite visual — ainda que, muitas vezes, nauseante.
Embora o filme siga convenções do gênero, especialmente no banho de sangue do terceiro ato, isso pode afastar parte do público. Ainda assim, Demi Moore entrega uma performance de carreira. O conceito simples, porém perverso, torna A Substância uma exploração comovente e visceral da autodestruição feminina. O resultado é uma obra cinematográfica destemida.
A Avaliação
A Substância (2024)
A Substância traz horror visceral e uma atuação marcante de Demi Moore em uma trama sobre autodestruição e obsessão pela aparência.
Detalhes da avaliação;
-
Nota