Iniciado por Bryan Singer e finalizado por Dexter Fletcher, Bohemian Rhapsody chegou aos cinemas em 2018.
O longa, destaca-se por ser a primeira cinebiografia que aborda a história da banda Queen, com um grande foco na vida do vocalista, Freddie Mercury. Tendo faturado quase um bilhão de dólares na bilheteria mundial, o filme foi um sucesso e fez história na temporada de premiações, ganhando quatro prêmios no Oscar 2019, incluindo o de Melhor Ator para Rami Malek.
No filme, somos situados nas décadas de 1970 e 1980. Freddie Mercury (Rami Malek), Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello) formam a banda de rock Queen. Logo no início, o grande show de suas vidas está prestes a acontecer, no entanto, muitas histórias envolvendo amizades, brigas e transformações precedem esse momento.
O coração em Bohemian Rhapsody

Bohemian Rhapsody, acima de tudo, é um filme muito divertido. É uma história que celebra a vida de Freddie Mercury e os principais momentos do Queen. É interessante como as músicas foram remasterizadas e usadas no filme; esses são, de longe, os melhores momentos para quem assiste.
A banda sempre foi conhecida por ter uma grande interação com o público. E por mais que o filme seja lembrado pela má edição, na cena dos vários cortes durante uma conversa, fato é que ela é bem dinâmica nos momentos de shows.
Nós conseguimos fazer parte daquilo que está acontecendo. Entramos nas músicas e ficamos fascinados com as atuações que estão ocorrendo na tela, assim como a plateia mostrada. Assistir ao filme é como ver um grande show da banda.
A retratação visual é impecável, as roupas, as perucas e o trabalho feito nos cenários. É notável como trabalharam fielmente nos detalhes que existiram. Nesse aspecto, o filme salta aos olhos e é incrível quando comparamos com a realidade.
Ainda sim, o que mais nos cativa são os laços criados pelos membros da banda. Todo esse processo de amizade exala um ar de cumplicidade, afeto e amor. Existe coração, não apenas nas músicas, mas também, na relação de companheirismo dos membros.
Existem brincadeiras, profissionalismo carregado da genialidade, brigas e, claro, a volta por cima. Mas, como o foco está na vida de Freddie, notamos como o filme abre espaço para outras pessoas. E ele nos convence nisso, na relação com seus pais, com Jim Hutton e, principalmente, com Mary Austin.
Nesse sentido, o filme apresenta muita energia e muita emoção. Existe a decisão de acabar a história em 1985, para não mostrar os anos finais de sofrimento do Freddie. Então, sim, existe a mescla de acontecimentos e alterações, que, claro, não irão agradar a todos, além dos detalhes tratados com mais sutileza.
As atuações

Hoje em dia, muito se comenta sobre a vitória de Rami Malek na maioria das premiações. O Freddie, de fato, tinha os dentes chamativos, mas também é um fato que existe um certo exagero dentadura usada no filme. De repente, dava para ser um pouco menor.
Além disso, o ator não se parece fisicamente com a figura que está interpretando. Porém, é essa desassociação abre caminhos para o ator explorar nuances de seu personagem. Ele reproduz até a forma com que Freddie cobria os dentes com o lábio superior.
Rami Malek se entrega completamente na atuação. É a movimentação do corpo, os passos, o jeito de segurar no microfone e a ótima gesticulação. A recriação do Live Aid é incrível, quando comparamos o original com o que está no filme, a sincronia se mostra perfeita e notamos o esforço de todos, mas, principalmente, na forma com que esse protagonista encarnou no papel.
O vocalista da banda, foi, sem dúvidas, um dos maiores da história. Não faz sentido o ator cantar com sua própria voz no filme. Seria, no mínimo, frustrante assistir ao filme com as músicas cantadas pelo Freddie Mercury, sem ouvir a voz do próprio. E essa figura tinha toda uma presença de palco e extravagância, que Malek conseguiu captar bem.
Nos momentos de drama, também existe força nessa atuação, como, por exemplo: a cena da AIDS, a cena da proposta no carro, a cena da chuva, a cena de Love of My Life, a cena que precede Another One Bites the Dust, as cenas sensíveis no piano, as cenas com os pais e as cenas com Mary Austin.
O elenco de apoio também se mostra competente. Mesmo que os outros integrantes não tenham tanto espaço no filme, Gwilym Lee, Ben Hardy e Joseph Mazzello convencem e trazem bastante carisma aos papéis. Mas quem se destaca mesmo é Lucy Boynton, que está no papel de Mary Austin e entrega ótimos momentos de drama, transmitindo também muita doçura.
A pressa do filme

O filme estabelece uma urgência desde o início, ou seja, o Live Aid. Então, a sensação que a história passa, é de que tudo está correndo para esse grande momento. Isso não seria necessariamente ruim, se soubessem a maneira adequada de contar. E esse show final, mesmo que acabe o filme de uma maneira sensacional, foi bastante reduzido.
Muitos acontecimentos e saltos temporais são repentinos. Algumas coisas não parecem fluir naturalmente e é nesse aspecto que o filme não inova. É a cinebiografia que aposta no seguro, que tem as pontuações e raramente decide seguir para um caminho mais autêntico.
Para um filme que está retratando uma das melhores bandas de todos os tempos, talvez tenha faltado uma linguagem mais original. E mesmo que tenhamos um passeio por muitos momentos, podiam ter realizado um melhor aprofundamento em determinadas situações.
Os próprios integrantes da banda, que por mais que tenham seus papéis, poderiam ter mais espaço na história. O filme todo segue nessa linha: ele tem bons elementos e boas ideias, mas às vezes para por aí e segue adiante.
Era necessário que tivessem momentos mais longos, mais naturais e orgânicos, conforme a trama se movimentasse. E talvez esse seja um problema para fazer apenas um filme que retrate o Queen, condensar tanto dessa história em duas horas é complicado.
Enquanto ainda estava sendo produzido, o longa sofreu uma troca de diretor. Ocorreram muitas controvérsias durante os bastidores e muito tempo demorou para que o filme fosse lançado. Conforme assistimos, é possível perceber como o longa foi afetado.
Portanto, Bohemian Rhapsody sofre de alguns problemas nítidos, que se você ignorar, irá rir, se emocionar e, com certeza, terá um entretenimento garantido. E mesmo que o filme pudesse ser mais grandioso, ainda é uma celebração à vida de Freddie Mercury e instiga uma nova geração a saber mais sobre a tão querida banda.