Em um mundo totalmente patriarcal, onde mulheres são obrigadas a se casar ainda crianças, escravizadas e violentadas por homens, às vezes até, assassinadas, acontece uma revolução silenciosa por mulheres escondidas sob um véu negro que lutam pelos seus direitos e sua liberdade.
A história escrita pelo italiano Ugo Bertotti, O Mundo de Aisha, trata-se de um quadrinho documentário baseado em entrevistas e fotografias da fotojornalista italiana Agnes Montanari, que ao acompanhar seu marido em uma missão para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Iêmen, acabou conhecendo mais sobre a cultura muçulmana e a luta diária das mulheres que lá vivem.
O quadrinho possuí um traço rústico e estilizado, com páginas em preto e branco que contam com auxílio de fotografias reais para mostrar a veracidade dos fatos narrados na história. O que torna esta obra tão assustadora, comovente e triste, mas, ao mesmo tempo, interessante e curiosa. Pois, aqui, acompanhamos uma cultura bastante desconhecida pelo ocidente, já que o pouco que vemos em livros de história e nos rápidos noticiários de televisão, conhecemos apenas características básicas e fatos que a mídia resolve nos passar: a Al Qaeda e Osama Bin Laden, o baixíssimo PIB do local, e quais armas são utensílios comuns para os habitantes (duas AK-47 por habitante, incluindo recém-nascidos).
Com isso, a cada novo trecho da história, somos apresentados a um mundo desconhecido e uma cultura quase que surreal, dado a experiência de Agnes, que também, não conhecia muito mais do que nós. Bertotti então separa o quadrinho em três histórias sobre mulheres iemenitas, onde nos mostra a cultura do local, como o uso do niqab, um véu negro que revela apenas os olhos das mulheres.
O niqab é bastante explorado na primeira história, onde conhecemos a jovem Sabiha, vítima de violência doméstica por ficar um tempo em sua janela sem o uso do véu negro. Essa primeira parte demonstra o tamanho da ignorância do Homem no local.
Já na segunda história, vemos que a ignorância é muito maior em relação à cultura envolvendo mulheres. Aqui, somos apresentados a Hammeda, uma mulher empreendedora que criou dez filhos, sozinha e foi extremamente criticada pelos moradores de sua região por conta disso. Hoje, Hammeda é dona de vários restaurantes e hotéis, e se tornou reconhecida pelo governo do país, mas a jornada até essa conquista é árdua e cheia de superação.
Por fim, a terceira e última história, conhecemos a jovem Aisha, que nos leva ao seu cotidiano ao lado de outras iemenitas, em um mundo repleto de desigualdade e ignorância. Aisha mostra as dificuldades de ser mulher na região, como, por exemplo, o fato de frequentar um emprego onde só existem homens no ambiente pode se tornar motivo de preconceito; sobre a necessidade que as mulheres têm de se casar cedo; como uma mulher é julgada por simplesmente decidir seguir sua vida sozinha, entre outras histórias abordadas no traço minimalista de Bertotti, e nos registros fotográficos de Montanari, que tornam a história mais real.
O Mundo de Aisha: A revolução silenciosa das mulheres no lêmen é uma história visceral sobre um mundo desconhecido pelo ocidente, que nos leva a inúmeras reflexões, não apenas em aspecto cultural, mas também religioso e político, sobre a vida que essas mulheres levam. Um quadrinho essencial para quem gosta de entender novos costumes, e que precisa ser lido por pessoas do mundo inteiro.
A edição da Editora Nemo possuí uma capa belíssima, com 144 páginas, formato: 17 x 24 cm, acabamento de brochura e uma excelente tradução. Esta é uma ótima obra para se ter na estante.