Mesmo que Cassino Royale tenha prometido uma era perfeita para Daniel Craig no papel de James Bond, 007, sua sequência, Quantum of Solace, se provou uma decepção em termos de história e desenvolvimento.
Portanto, Operação Skyfall carregava uma das bagagens mais pesadas da história de 007. Um especial para os 50 anos do personagem, uma reimaginação da era Craig, uma redenção. O filme conseguiu cumprir esta missão?
Sutilmente esperto

Sabendo que mergulhar na psique conturbada de James Bond novamente seria uma decisão arriscada demais após Quantum of Solace, Skyfall prefere focar no que engloba o personagem. Seus deveres, seu país, infância, mas principalmente, passado e futuro. Muito pelo fato de ser um filme nos 50 anos do agente, Skyfall faz uma exposição de sua obsolência no mundo atual.
E essa ideia da saturação de Bond no Século XXI está em todos os lados. Não apenas temos uma história que personifica esta narrativa, como também escolhas estéticas, direção, trilha sonora, e os personagens.
Q, um dos principais aliados de Bond, é reimaginado neste filme. Aqui ele é muito mais jovem, é arrogante, às vezes inseguro, mas sua dinâmica com Bond é de tirar o fôlego. O roteiro abraça e reconhece o absurdo das histórias de 007, e os usa como gás para contar uma ótima história, se não, a melhor com Daniel Craig no papel principal.
Isso faz de Skyfall um filme que sabe trabalhar com o ícone de James Bond. Seus defeitos, suas qualidades, e os elementos que compõem a ideia de que o personagem é velho demais para o século atual.
Mas essa sutileza é apenas um dos muitos modos de interpretar o que o filme realmente representa.
Visto que quatro anos separam Skyfall de Quantum of Solace, houve muito mais cuidado na fotografia e na sublime direção de Sam Mendes. O filme substitui a ação desenfreada e errônea de Quantum por um tom mais sóbreo. Como resultado, o longa faz um uso muito mais efetivo dos diferentes lugares para qual Bond viaja no filme, que aqui possuem um propósito artístico. Sejam os festivais coloridos de Shangai, até as planícies solitárias da Escócia. Há tons mais introspectivos e amplos nos planos dessas sequências, que proporcionam um deleite visual para o espectador.
Um ótimo vilão

O conflito da vez também trabalha com esse encontro entre passado e presente. O filme se inicia com Bond atrás de um criminoso inter-nacional, carregando consigo uma lista vazada com os principais agentes do MI6 infiltrados em organizações terroristas pelo mundo. Após uma tensa perseguição em Istambul, Bond leva um tiro de Eve sob ordens de M, que erra e deixa o criminoso fugir com a lista.
O ex-007 pede demissão, questionando se ele merecia levar um tiro por uma mínima oportunidade, um tiro impossível, e passa a viver em exílio. Mas após outro atentado, agora na sede do MI6, Bond tem que sair das sombras.
Seu alvo é Silva, um misterioso terrorista cibernético que partilha de um passado sinistro com M. 007 é o único capaz de achá-lo, e a partir daí sua caçada começa.
A própria ideia de Bond levar um tiro e ser considerado morto é bem óbvia. Esse é um recomeço, o 007 das aventuras anteriores morreu, e de sua lenta decomposição nasce um novo James Bond. Essa ideia é reforçada pela cena de início, carregada de ação exagerada.
É como se o filme estivesse gritando; “Não somos mais Quantum of Solace, somos outra coisa”. O embate entre James e o vilão principal, Raoul Silva, tem uma ideia central muito interessante. Já que Silva também era um agente do MI6, muito próximo de M.
Porém, Raoul foi capturado durante uma missão, torturado por semanas. M nunca veio atrás dele. Ela o deixou para morrer, e ele agora quer vingança. As comparações são claras; Silva é o que Bond poderia se tornar, o que ele quase se tornou depois daquele tiro no começo do filme, ele representa uma ideia sobre a doentia e ultrapassada lealdade de 007 ao seu país.
Javier Bardem entrega uma ótima representação do vilão, mirabolante, esperto, mas também asqueroso e doentio. Além disso, também temos Judi Dench entregando sua melhor e última atuação como M até então, muito carregada emocionalmente, até mesmo pela própria natureza da história.
Conclusão
007 – Operação Skyfall é um dos longa-metragens mais ousados do agente. Temos aqui um ótimo presente de 50 anos aos fãs da saga, além de uma história incrível para qualquer um. Com cenas e cortes simplesmente brilhantes, uma música tema vencedora do Óscar pela Adelle, Skyfall brinca com a possibilidade de uma grande homenagem cheia de referências aos filmes antigos, mas essa ideia nunca se tornaria realidade até Sem Tempo para Morrer. Esse é um dos melhores filmes de James Bond.
Todos os filmes de 007 estão disponíveis na Prime Video.