Dirigido por Fernando Meirelles e prestes a completar vinte anos, Cidade de Deus continua sendo um dos filmes nacionais mais queridos por nós, brasileiros. Internacionalmente, o filme é bastante reconhecido e foi até indicado ao Óscar, nas categorias Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Diretor. O longa, infelizmente, não ganhou em nenhuma das indicações. Porém, sabemos que sua importância continua sendo muito maior do que uma premiação.
O filme, tem como protagonista Buscapé (Alexandre Rodrigues), um pobre jovem que cresce em meio à muita violência. Ele mora na Cidade de Deus, uma favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro. Buscapé tem um notável fascínio por fotografia; é através de seu olhar atrás da câmera que ele analisa o cotidiano da favela, onde esse ambiente tão conturbado gera uma das figuras mais temidas por quem vive ali, Zé Pequeno (Leandro Firmino).
A genialidade de Cidade de Deus
Primeiro, é impossível falar de Cidade de Deus sem destacar sua genialidade. Existe um claro controle no filme, tanto em roteiro quanto em direção. Afinal, vários núcleos são contados e todos acabam por fazer sentido no conflito principal.
Cada mínimo detalhe na história tem sua parcela de importância. A própria narração é bem posta, de uma forma que Buscapé não deixe o filme expositivo, mas, sim, que ele nos situe para o que está por vir.
Então, a montagem de Daniel Rezende tinha a difícil missão de juntar todos os arcos apresentados. E esse é um dos grandes charmes do filme, a sua montagem, ou seja, é esse o fator que traz fluidez para a narrativa e a deixa orgânica. Tudo que é mostrado, torna-se necessário.
A direção de Fernando Meirelles é arrojada, as câmeras estão sempre em movimento e nos sentimos dentro daquelas situações. Não existe absolutamente ninguém do elenco que está mal no filme, todos ali conseguem nos convencer e impactar de alguma forma.
Muitos desses atores nunca atuaram antes do filme, o que é surpreendente. O elenco sustenta parte da força dos diálogos, tudo nos é passado com muita veracidade. Destacam-se: Alexandre Rodrigues, Douglas Silva, Jonathan Haagensen, Seu Jorge e, principalmente, o icônico Leandro Firmino.
Assistir ao filme, é como se estivéssemos entrando em uma janela para acompanhar outras vidas. Afinal, muito daquilo que estamos vendo, não é inventado do zero. Aquilo é real, aqueles diálogos são reais e o retrato do filme, de fato, existe.
Apenas o brasileiro consegue se identificar com o que é proposto. O tipo de humor, a ambientação e a crueldade existente. Dessa forma, o filme nos conquista com seu realismo e dinamismo presentes.
A atemporalidade do filme
O trabalho de todos os envolvidos no filme é hipnotizante. O filme não envelheceu um dia sequer, narrativa e visualmente falando. Existe consistência em tudo que estamos acompanhando, a própria escolha das músicas é sensacional. Tudo se encaixa muito bem!
O que mais impacta na experiência, é o fato de o filme não ser distante da nossa realidade. Muito daquilo, se baseia em coisas que já aconteceram na vida real, mas que, infelizmente, ainda acontecem atualmente. Apenas com os detalhes, o filme nos atinge.
Assim, ficamos investidos nesse universo e nesses personagens. Nós estamos vivendo com eles. É muito maior do que assistir, mas, de fato, sentir. Nesse sentido, é possível sentir afeição, desprezo, nervosismo, alívio, etc.
É interessante como nem sempre precisamos da violência gráfica, mas sim, de uma boa atmosfera de tensão e perigo. Cidade de Deus está repleto disso e nos imerge a cada cena que acompanhamos.
A força do filme só cresce a cada dia que se passa. Existe um valor artístico, um esforço de quem está por trás e um resultado mais que satisfatório. As frases são icônicas, muitas das cenas são memoráveis e o desconforto é garantido.
Portanto, Cidade de Deus é forte, impactante e alucinante. É um dos grandes orgulhos do nosso cinema, sendo sempre relevante e extremamente necessário. Em outras palavras, um filme sublime em sua forma!