Desenvolver e moldar personagens em um mundo corporativo sempre é uma ideia bem-vinda na televisão. Já tivemos séries como Suits, House of Cards, Designated Survivor, Mad Men. Séries que exploram os aspectos deste mundo cruel de forma muito sinfônica com seus personagens.
Portanto, onde Succession se difere? E, porque ela merece sua atenção?
A família Roy

Succession é, em primeiro lugar, uma série sobre família. Sendo o oposto de uma família ordinária, os Roys são donos de uma das maiores empresas de comunicação do planeta, ou para ser mais específico, seu patriarca é. Logan Roy já não é o homem que um dia foi, velho, abatido, cansado. Porém, se recusa a abandonar seu posto de presidente, e seu filho, e provável sucessor, Kendall, se vê humilhado e em busca de seu cargo de seu posto no controle da empresa.
Mas Kendall não é o único que luta pelo topo da cadeia alimentar na hierarquia familiar dos Roy. Seus irmãos, Roman, Shiv, e Connor tem suas próprias ambições, saciando poder como predadores a espreita. Quando Logan sofre um ataque cardíaco sendo internado, todos começam a fazer suas jogadas, e esse jogo pendura pelo resto da série.
A série trabalha cada um desses personagens, das posições mais altas na família até as mais baixas. Além dos herdeiros, temos Tom, esposo de Shiv que tenta a todo custo se provar para o resto da família. Assim como Greg, um primo distante da família que se junta aos negócios e no meio da teia de poder da família.
As tramas e os conflitos de Succession são esses encontros entre família e negócios. O roteiro trabalha de formas fascinantes e incitantes a cabeça dessas pessoas, criadas desde pequenas para lutarem por dinheiro, posição, e é claro, provação ao seu pai, Logan.
Desenvolvimento de personagens

A série deixa claro desde o primeiro episódio que estaremos acompanhando a vida de pessoas desprezíveis. A narrativa constrói batalhas mentais, sujas e psicológicas que englobam toda a persona de seus envolvidos. Todos os personagens, cada um deles tem arcos e núcleos muito bem estabelecidos ao longo dos episódios, seja as ansiedades de Kendall, ou as doentias obsessões de Tom.
Com atuações impecáveis de Jeremy Strong, Brian Cox, Sarah Snook, e Nicholas Braun temos um elenco diversificado de personagens para amar ou odiar. Não há meio-termo.
Dessa forma, Succession consegue ser um estudo muito profundo e realista do meio corporativo, e é claro, um estudo sobre uma família quebrada. Esses aspectos são personificados de forma bruta na relação de Kendall e Logan, pai e filho. Os dois personagens passam a temporada inteira em uma batalha de poder, seja dentro ou fora da empresa.
Logan consegue ter um poder psicológico assombroso não só sobre Kendall, mas como em todo o resto da família, que fica a mercê de sua fúria e imprevisibilidade para controlar a história a seu bel-prazer. Cox cria uma aura vilanesca, a mais desprezível entre todos os personagens, reforçada pelas opiniões dos outros à seu respeito.
Direção e trilha sonora

Primordialmente a direção da obra é uma das peça-chave para emergir o espectador na mente dos personagens. Os cortes e os planos se diversificam bastante para atingir este proposito, seja em escritórios sufocantes, campos no interior, ou jantares empresariais.
Juntamente com a trilha sonora composta por Nicholas Britell, cria-se um senso amedrontador, quase intimidador para a vida urbana. Essa ideia fica clara logo na abertura da série, misturando os arranha-céus de Nova Iorque com vídeos antigos da família Roy. A série é ótima em apresentar esses cenários onde os personagens estarão constantemente lutando uns contra os outros.
Em salas de escritórios, ou em suas próprias casas, não há escrúpulos para muitos dos envolvidos aqui. Cabe ao espectador saber entender, e desvendar os vários motivos por trás dessas personas que anseiam por mais atributos, virtudes, prioridades.
Também há uma certa aura cômica na trama. Sejam eventos absurdos do passado ou presente, que você já espera de uma família rica como essa. Contudo, o roteiro não extrapola essas oportunidades para a comédia, é balanceado, assim como todos os outros aspectos da história.
Mesmo que tenha seus momentos, Succession não se aproveita como deveria da ambientação para planos sequência mais ambiciosos. Pode-se dizer que a direção é dosada, como muitos dos personagens que guardam seus truques na manga, mas quando a direção o revela com os personagens, tem alguns dos melhores momentos já vistos na televisão.
Conclusão
Succession é uma das surpresas mais agradáveis dos últimos anos. Com personagens fascinantes que se envolvem em tramas envolventes, mesmo que corruptas, enroupadas por ótimos aspectos da produção e direção. Esta é uma daquelas séries com selo de qualidade da HBO, e talvez uma das mais autônomas de seu longo catálogo de ótimas produções.
No fim das contas, a luta interna dos herdeiros de Logan por autonomia emocional só prova que esta é uma série sobre relações destruídas por esse meio corporativo tão presente no mundo contemporâneo.
Succession e suas três temporadas estão disponíveis no HBO Max.
			



