Após o imenso sucesso de Dark, todo mundo queria saber qual seria o próximo projeto de Baran bo Odar e Jantje Friese. Sendo anunciada após o fim da terceira temporada da aclamada série da Netflix, 1899 finalmente lançou e todos os seus episódios estão disponíveis na plataforma, também trazendo algumas figuras do elenco anterior. Mas será que esta nova obra, também de gêneros mistério e ficção científica, superou as expectativas?
Nessa primeira temporada, situada no ano de 1899, um navio a vapor parte à América. De diferentes origens, os passageiros compartilham as mesmas esperanças e sonhos, porém, carregam segredos desoladores. Então, quando outro navio que, até então, estava desaparecido surge à deriva, a jornada toma um rumo inesperado e revelações vêm à tona.
A identidade de1899
Acima de tudo, deve-se dizer que, apesar dessa série ser dos mesmos criadores de Dark, as duas histórias são bem diferentes. Ainda assim, existem certas similaridades isoladas, como, por exemplo, o mistério que se revela aos poucos. Bo Odar e Friese mais uma vez estabelecem uma abordagem densa, repleta de personagens que carregam subtramas. Embora alguns elementos soem mais interessantes do que outros, ali existe um ponto em comum que conecta esses personagens: o passado.
As interações com as memórias surpreendem por não serem somente uma revisitação, mas também por deixar os personagens confusos com o senso de realismo. Assim, existem momentos pontuais que assustam, pois essas lembranças voltam em tom assombroso. Ver esses personagens que querem aparentar alguma coisa, mas, na verdade, sendo outra, contribui para o desenvolvimento individual deles; e pelo que eles lutam para ser ou superar. O próprio padrão de todo início de episódio ser uma espécie de transe onde os personagens ”viajam” e logo acordam, com a câmera girando no que seria o interior do olho da pessoa, é bem criativo.
Mesmo com a premissa de se passar quase inteiramente em um navio, somos facilmente transportados para o ano em que a história se passa. Os figurinos convencem e as cores dessaturadas passam uma sensação mais fria, dura e infeliz; afinal, essa não é uma história sobre uma viagem feliz com pessoas felizes. A seleção de músicas também é excelente, principalmente no fim do primeiro episódio e do último.
Um mistério imprevisível
O mistério funciona por ser gradativo e imprevisível. Primeiro somos instigados a questionar sobre o navio com passageiros desaparecidos, e o único menino que lá é encontrado. Logo mais, objetos e figuras misteriosas que vão tendo mais presença, com a mostra dos traumas anteriormente citados. Então passamos a pensar a respeito do que realmente está acontecendo, fazendo assim, o poder de indagação da série ser um dos seus grandes pontos altos.
Aliás, se os episódios fossem lançados semanalmente, as discussões poderiam se estender mais, já que ao fim de cada episódio temos uma surpresa. E conforme a grande resposta vai se evidenciando e escalonando, existem ótimas distorções dos cenários vindas de regras quebradas que fazem sentido dentro dessa proposta. Mas a maior virada de chave é em relação à protagonista, visto que a trama sempre volta para ela e como suas atitudes foram catalisadoras para tudo que estamos acompanhando.
Portanto, a primeira temporada de 1899 sabe como prender a atenção. O desenrolar dos personagens é tão competente quanto o enigma em questão. Há conceitos que realmente não são tão originais e não iremos citá-los diretamente, mas é nítido como Baran bo Odar ama a grande obra-prima de ficção científica lançada em 1999, se antes era só uma citação em Dark, agora é um fator intrínseco na trama.