Se aquele professor humilde de Oxford tivesse noção do que se tornaria para muitos de seus leitores e admiradores, teria largado a lousa para sempre, e se dedicado exclusivamente à sua obra.
John Ronald Reuen Tolkien, o nome mais influente da literatura de fantasia mundial e famoso por O Senhor dos Anéis e O Hobbit, começou a conquistar o mundo lá por volta de 1937, quando sua primeira obra foi publicada. A história de Bilbo Bolseiro, o Hobbit que habitava um buraco no chão numa toca sossegada e abastecida de alimentos e conforto e, que foi convocado por um mago a sair para uma aventura, conquistou leitores mundo afora. A alta fantasia, como passou a ser chamada a obra do professor, foi um marco para a época já que desafiava vários tipos de padrões da literatura dos anos 30.

Tolkien, nasceu em 3 de janeiro de 1892 na África, mais precisamente na cidade de Bloemfontein. Ainda criança, foi para a Inglaterra, e muito jovem, perdeu a mãe e o pai, passando a ser criado por um padre amigo da família, junto de seu irmão Hilary. Estudou letras na faculdade de Exeter e se especializou em filologia devido à sua paixão pelas línguas, tendo sido professor na universidade de Oxford. Além disso, o mestre da literatura fantástica serviu ao exército britânico na Primeira Guerra Mundial, sendo nomeado Comandante da Ordem do Império Britânico.
Seus primeiros escritos se deram nessa época, em que servia nos frontes e se protegia nas trincheiras de guerra. O resultado, deu origem ao que hoje conhecemos como O Silmarillion. Mais tarde, o professor deu vida ao já citado O Hobbit enquanto corrigia provas de seus alunos e depois, deu sequência à história com a sua ‘Opus Magnum‘, O Senhor dos Anéis. O peso disso para a cultura mundial, principalmente para a literatura, viria com os anos seguintes.
O Senhor dos Anéis na Literatura
Inúmeros são os autores influenciados por Tolkien. De J.K. Rowling a Stephen King e George Martin, por exemplo, os livros que temos hoje em dia, em sua grande maioria, os de fantasia, possuem o toque indireto do professor. Quando Tolkien criou todo o mundo da Terra Média, idiomas como o Sindarin e o Quenia ou a língua maldita de Mordor, ele não sabia que estava criando todo um legado para as gerações futuras.
A tolkienmania que explodiu no mundo assim que O Senhor dos Anéis se tornou um sucesso, foi uma das grandes responsáveis por tornar Tolkien o que ele é hoje. Na época em que o livro foi lançado, o professor ainda vivia de correções de provas e aulas nas universidades. Mas, sua mitologia mágica começou a correr de boca a boca, e as edições da obra começaram a vender no mundo inteiro numa velocidade altíssima, e hoje é impossível fazer qualquer análise de livros de fantasia sem mencionar a marca deixada ali por ele.
Alguns dos principais exemplos de sua influência podem ser encontrados em obras famosas como por exemplo, As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, a trilogia A Crônica do Matador do Rei de Patrick Rothfuss, famosa pelo livro O Nome do Vento, e até mesmo Harry Potter de J.K. Rowling (embora obviamente as histórias sejam diferentes, é evidente a intervenção do mestre da fantasia sobre a autora do bruxo mais famoso de todos os tempos). Além disso, o próprio autor Stephen King se diz influenciado pelo professor, e afirma que foi Tolkien quem o inspirou a se tornar escritor.
O Senhor dos Anéis possui sua marca até mesmo em obras de ficção científica como Duna de Frank Herbert, ou nos livros do mestre do gênero, Isaac Asimov.
Isso tudo sem citar uma das maiores sagas da literatura que compete lado a lado com O Senhor dos Anéis, e que foi escrita por um dos melhores amigos de Tolkien, C. S. Lewis: As Crônicas de Narnia. Embora o professor não gostasse dos livros e deixasse bem claro, que sua obra era bem diferente da do amigo, é impossível não notar semelhanças em ambas.
Outros autores influenciados por Tolkien: Christopher Paolini, escritor e criador de Éragon, Terry Brooks – fã confesso do professor – e autor de A espada de Shannara, Neil Gaiman, famoso por Deuses Americanos, Sandman e inúmeros outros livros. Isso só para citar alguns.
A influência cinematográfica

Uma das maiores e mais premiadas obras cinematográficas atuais é sem sombra de dúvida, a adaptação de O Senhor dos Anéis. Tendo sido vencedora de um total de 17 Óscares, e dirigida por Peter Jackson, a trilogia de filmes é uma obra prima da Sétima Arte e sem sombra de dúvida, a maior influência em termos de filmes de fantasia por todo o mundo, sendo até hoje adorada pelos fãs de Tolkien e, até mesmo pelos que não conhecem a obra do professor. Apenas isso, já mostra o quanto os livros se tornaram atemporais e gigantescos. Porém, o fato é que existem muitos outros filmes que carregam o estigma da Terra Média.
Star Wars, por exemplo, é uma das maiores sagas cinematográficas do planeta, e é confesso por seu autor e criador, George Lucas, que ela sofreu a intervenção da obra do mestre da fantasia. “George Lucas frequentemente afirmava que O Senhor dos Anéis foi a influência principal em Guerra nas Estrelas. O material superficial é o mais óbvio, mas a lição sutil que Lucas aprendeu de Tolkien, é como controlar os pontos delicados de um mito. (…)” (Santos; Rosati; Ribeirão Preto – 2011). A questão de uma escolha entre o bem e o mau, seres mágicos como fadas e elfos tão presentes na mitologia de Tolkien, estão no coração de Star Wars. Uma religião que rege tudo, como a Força, inspirada não apenas no shamanismo, fé dos índios norte-americanos, também tem sua pegada na religião dos povos de Arda (Terra Média), que acreditavam em uma força maior, mais conhecida como Eru Ilúvatar, além dos Valar, deuses menores e abaixo deste. Os Jedi, são os seres mágicos de Lucas. E algumas das semelhanças mais legais encontradas nas duas obras, está no fato de que Obi-Wan Kenobi, é como Gandalf, Frodo é como Luke Skywalker, as espadas brilhantes como a Ferroada de Bilbo, lembram os sabres de luz dos Jedi. Tudo isso sem falar da cena (tanto no filme quanto no livro) em que Bilbo presenteia Frodo com sua espada, é como a cena em que Kenobi entrega o sabre de Anakin Skywalker a Luke. Além de tudo, por sua vez, Luke é parecido com Frodo.
Star Wars tem como sua casca e moldura, a série Flash Gordon de 1934, mas sua essência é puramente “tolkienista“.
Para mais fins de comparação, Tolkien foi um dos perpetradores do mito A Jornada do Herói, criado pelo estudioso norte-americano Joseph Campbell. o Monomito, como também é conhecido, consiste numa jornada cíclica do personagem, em que esse, possui um padrão básico, sendo que na maioria das vezes, é órfão, criado por um tio ou outro parente próximo, se envolve em alguma jornada heroica com um mentor ou mestre, e precisa cumpri-la, além de enfrentar o vilão no final. Esta, é a estrutura de Senhor dos Anéis, Star Wars, Harry Potter, Éragon, etc., e é onde notamos mais uma vez, o toque sutil do professor Tolkien.
Influência na música

É estranho pensar que uma obra literária tenha deixado sua marca até mesmo na música, mas a verdade é que existem várias bandas de rock que compuseram letras baseadas nas histórias da Terra Média e deram melodia à elas. O próprio Tolkien era um poeta. As páginas de seus livros estão recheadas de canções, poemas cantados, trechos de músicas até mesmo em elfico. Isso só para mencionar a genialidade do autor.
Muitos músicos consagrados cresceram lendo os livros de Tolkien e são verdadeiros fãs do professor. Uma das maiores bandas de power metal que abordou o tema em seus discos, é o Blind Guardian. Fãs confessos de toda as histórias da Terra Média, os membros da banda possuem um álbum inteiro sobre as histórias presentes no Silmarillion, Nightfall in Middle-Earth, obra prima dos alemães.
Além disso, muitas outras canções dos músicos fazem sua bela homenagem ao criador da Terra Média como By the Gates of Moria, Gandalf’s Rebirth e Majesty – “(…)com a citação direta “Running and hiding I’m left for the time. To bring back the order of divine. Hunted by goblins no Gandalf to help. With swords in the night” (Em português ‘Fugindo e me escondendo, fui deixado pelo tempo. Para trazer de volta a ordem divina. Caçado pelos orcs, sem Gandalf para ajudar. Com as espadas na noite’) (…)” ( RIBEIRO; 2013; Whiplash.net) – que estão presentes no disco Battalions of Fear. No álbum Tales From the Twilight World, encontramos a belíssima The Lord of The Rings e em Somewhere Far Beyond, The bard’s song – the Hobbit.
Além do Guardian, muitas outras bandas mencionaram Tolkien em suas músicas, como por exemplo, a banda Rush com a canção Rivendell, Running Wild e a música Mordor, Led Zepellin com The Battle of Evermore e Ramble On, Nightwish com Elvenpath, além de centenas de outras.
Isso sem mencionar bandas que carregam em seus nomes, a denuncia de uma influência evidente, como a banda Lothlorien (referência à morada dos Elfos da rainha Galadriel), Amon Amarth (que significa “Montanha da perdição em élfico), ou as bandas de black metal, Gorgoroth e Balrog.
A obra de Tolkien é com certeza, o ponto de partida para a arte. Sua mão alcançou filmes, séries de tv, jogos, desenhos, livros, etc. Um legado que viverá para sempre, enquanto a humanidade viver sobre a Terra.