Roteirizado e dirigido por Ti West, Pearl é o tão aguardado prelúdio de X – A Marca da Morte, que chega aos cinemas brasileiros nesta semana. Com Mia Goth também assinando o roteiro, ela mais uma vez encarna essa personagem que, graças a essa versão mais jovem, já virou um ícone do terror.
O longa, inclusive, foi elogiadíssimo por Martin Scorsese no site SlashFilm, que descreveu os 102 minutos de duração como ”hipnotizantes e profundamente perturbadores”.
No filme, Pearl (Mia Goth) se sente isolada e presa na fazenda em que mora, estando carregada de cuidar de seu pai doente (Matthew Sunderland), enquanto está sob os cuidados de sua mãe cruel (Tandi Wright). Desejando a vida glamorosa que ela viu retratada nos filmes, uma mistura de suas ambições, tentações e repressões a assolam e fazem com que ela vire a vilã que temia se tornar.
A origem de Pearl

A personagem já havia se mostrado doentia em X, dadas às perversões em suas atitudes. E, embora o fato de ela estar idosa no filme e fazer o que faz, se entrelaça diretamente com o objetivo dos personagens que chegaram à fazenda. Mas é interessante como esse prelúdio não tenta romantizar essa figura, dando motivo para ela ser o que é. Ela tem os seus sonhos e insatisfações, mas lida com isso da pior forma justamente por ser naturalmente desvairada.
Assim, Mia Goth tem todo o espaço para brilhar e mostrar a que veio. Esta versão mais jovem de Pearl é dançante, expressiva e clama por atenção. Sendo assim, a atuação extraordinária de Goth explora as inúmeras camadas que essa história proporciona a ela. O monólogo onde ela externaliza seus sentimentos mais reprimidos com a câmera estática em seu rosto é um dos momentos mais memoráveis do longa. Bem como o Início dos créditos finais, onde ela surta sem dizer uma palavra sequer e entrega toda a loucura e angústia em seu olhar, junto de seu proposital sorriso artificial.
Ela e Maxine têm muitas semelhanças além de serem interpretadas pela mesma atriz. O tema principal das protagonistas de ambos os filmes, engloba o anseio por visibilidade. Porém, aqui, por ser um filme que não lida com tantos personagens a serem desenvolvidos na trama principal, há o espaço para adentrar em detalhes mais íntimos da protagonista. Ela é realmente complexa e imprevisível, fazendo com que a qualquer momento a bomba possa estourar, e realmente estoura. Ainda mais pelas ”pequenas atitudes” dela, no dia a dia, como ela interage sexualmente com seres inanimados ou faz um escândalo após ouvir algo que não queria.
Semelhanças e diferenças com X – A Marca da Morte

Assim como em X, a estrutura da história opta por uma construção gradual do terror. Embora aqui lidemos com um núcleo melhor abordado, os temas ainda se conversam e, com certeza, se fecharão com o terceiro filme dessa trilogia, MaXXXine. Mas, visualmente, as duas obras são muito distintas, pois Pearl abraça cores mais estilizadas e ligeiramente chamativas. É claro que essa escolha artística sugestiona as idealizações da personagem, ainda mais pela época em que a história se passa e por como ele se comunica através da época, remetendo a filmes mais antigos e otimistas.
Se no futuro teríamos um ambiente mais hostil e deteriorado, aqui temos uma fantasia materializada. Os ambientes são os mesmos, mas eles soam mais refinados e destacam tudo que está à volta. A maneira com que o vermelho salta à tela transmite esse misto de jovialidade com as fortes sensações de raiva e poder. As próprias mortes nem sempre acompanham uma instantaneidade, elas são sutilmente formadas para impactar quando acontecem. É apenas um sugestionamento temporal, ou um plano aberto de duas personagens andando.
A experiência engloba diferentes níveis de frequência para manipular o público e satisfazer a história. Os momentos menores contribuem para o estudo de personagem feito com Pearl, assim como os mais importantes soam gritantes (literal e figurativamente). O filme esbanja suas ideias de todas as maneiras, jamais perdendo a noção do que é, mantendo toda a loucura estável.
Portanto, Pearl é o excelente resultado de mais uma parceria entre Ti West e Mia Goth. As particularidades visuais e narrativas fazem com que essa originalidade se mantenha poderosa por muito tempo. Se não houvesse um esnobe por parte do Oscar com filmes de terror, o mínimo que esse filme receberia seria uma indicação para Melhor Atriz. Este é um dos grandes filmes de terror do ano, que mostra o potencial dessa trilogia em ser uma das melhores lembradas pelo público.