Na década de 1930, como parte de expansão do Império do Japão, o país invadiu a China e diversos outros países do Leste da Ásia, culminando na Segunda Guerra Sino-Japonesa que se estendeu por toda a Segunda Guerra Mundial e foi palco de diversas atrocidades. No meio do conflito estava a Coreia, então colônia do Japão, jogada na miséria e arruinada por seus ocupadores, que obrigaram o povo coreano a adotar a cultura japonesa a todo custo, rebaixando e transformando-os em estrangeiros dentro das próprias terras. Em meio a esse conflito, milhares de mulheres foram forçadas a servir como escravas sexuais de soldados japoneses, as chamadas “mulheres de conforto”.
Grama, da sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim, é uma poderosa graphic novel que narra a história real de Ok-sun Lee. Hoje, com mais de 90 anos, Ok-sun Lee é uma importante ativista pela retratação do governo japonês perante as vítimas das atrocidades cometidas pelo Exército Imperial Japonês.
Em Grama vemos relatos e cruéis lembranças de Ok-sun Lee, que teve seu direito de estudar negado por ser mulher e pelas condições financeiras da família. Ok-sun Lee foi “doada” por seus pais a uma outra família, que prometeu melhores condições de vida e a possibilidade de ir para a escola, coisa que tanto queria, mas isso nunca chegou acontecer. A pequena Ok-sun Lee foi posta, logo cedo, para trabalhar para essa nova família e, logo nos primeiros anos de sua adolescência, foi obrigada a ser uma das “mulheres de conforto”, em uma das diversas casas que serviam ao Exército Japonês.
Privada dos seus direitos mais simples, como estudar e ser chamada pelo próprio nome, Ok-sun Lee foi rebatizada com nome japonês, cruelmente estuprada por um membro do Exército Japonês e vivia em condições precárias nas casas de conforto, sem sequer condições de manter sua higiene pessoal e alimentação adequada.
Grama traz os tristes relatos da vida de Ok-sun Lee durante esse período cruel da sua vida, nos apresentando, de forma direta e angustiante, as lembranças de uma jovem Ok-sun Lee, uma das milhares de vítimas das atrocidades cometidas naquele período pelos Japoneses.
Ok-sun Lee luta, até hoje, por um “pedido de desculpas” do governo japonês para vítimas do Exército Imperial Japonês. Um acordo foi feito, entre os líderes de ambos os países há alguns anos atrás, e uma indenização simbólica foi paga, mas em nenhum momento houve o envolvimento das vítimas. Até hoje consideram tal atitude desrespeitosa e inválida, diante tantas vidas afetadas e sonhos destruídos pela ganância por poder.
Assim como Persépolis, de Marjane Satrapi, e Maus: A história de um sobrevivente, de Art Spiegelman, e diversas outras obras, que se situam durante diferentes períodos de guerra, Grama é um importante registro histórico de guerra, mostrando a crueldade, frieza e capacidade do ser humano em propagar o mal por onde passa.
Lançada no Brasil em 2020, pela editora Pipoca & Nanquim, Grama é leitura obrigatória para qualquer pessoa, capaz de nos fazer refletir sobre diversos pontos e emocionar, diante de todos os relatos apresentados ao longo da história.