Muitas histórias conseguem nos instigar a refletir sobre a realidade das coisas, e nos levam a questionamentos sobre a nossa própria existência. Mas são poucas que conseguem fazer isso de forma tão imersiva e versátil como acontece em Recursão de Blake Crouch.
Pense. E se nossas lembranças pudessem ser trocadas por outras, de um modo em que tenhamos lembranças simultâneas de vidas diferentes, fazendo com que não saibamos mais quem somos nós ou que vivemos. É com essa proposta inicial que Blake Crouch nos coloca nesta viagem repleta de reviravoltas e com uma poderosa reflexão sobre a profundidade do ser humano.
No livro conhecemos Barry Sutton, um policial que perdeu sua filha há 11 anos, e agora investiga alguns casos de SFM (Síndrome das Falsas Memórias) onde as pessoas dizem ter lembranças de duas realidades sem saber qual é a real. E Helena Smith, uma neurocientista que dedica sua vida para desenvolver uma tecnologia capaz de curar o Alzheimer. Após Helena conhecer um dos homens mais ricos do mundo, que decide financiar seu projeto, ela descobre que o rumo que sua invenção tomou foi totalmente diferente daquele que ela um dia sonhou, se transformando em algo que só pode ser descrito como caos.
Crouch usa elementos científicos bem elaborados para explorar a importância da memória, nos fazendo refletir de o quanto somos produtos das nossas lembranças, causando novas reflexões filosóficas sobre o tempo, espaço e a realidade. O autor vai além do que já está pré-estabelecido e nos leva a considerar novos significados e propósitos na jornada, fazendo com que de fato, de um nó no cérebro de quem está lendo.
Mas calma isto não prejudica a leitura, nem diminui o ritmo da trama, pelo contrário, com a forma de narrativa versátil, a história se desenvolve de uma maneira que ficamos presos do inicio até o fim, lendo e revendo cada detalhe da experiência na qual o autor nos coloca.
A trama é tão bem desenvolvida que nos leva a muitas reflexões sobre a realidade, além de mostrar o quão frágil somos quando expostos a situações na qual não estamos preparados. E faz várias críticas sobre o ego desenfreado do ser humano, mostrando o quão cruel e caótico poderia ser o mundo caso tenhamos em mãos aquilo que não podemos controlar. É uma ficção científica com ritmo de thriller, e ainda dá espaço para uma belíssima e poderosa história de amor.
Recursão é uma história para prestar atenção em cada mínimo detalhe, e nos leva a uma viagem para dentro de nós mesmos, pelas nossas memorias, pela essência que nos faz ser o que somos, sobre as transformações e adaptações que nos fazem ser únicos em nossa imensidão.