Um dos elementos mais empolgantes na versão de Devil May Cry da Netflix e de Adi Shankar é como ela consegue capturar boa parte da essência do material original da Capcom. Ela acerta precisamente ao trazer Dante como um protagonista carismático e divertido, cercado por explosões de ação eletrizantes, dublagens satisfatórias e momentos que genuinamente nos fizeram sorrir como fãs da franquia. É uma animação de caçador de demônios que entrega entretenimento com estilo e personalidade, criando uma experiência divertida e cheia de energia.
Uma história contida com espaço para Lady
A produção da Netflix conta uma história mais contida. Aqui, acompanhamos o caçador de demônios Dante em uma jornada frenética para impedir um terrorista demoníaco chamado Coelho Branco de se vingar da raça humana. Embora o carisma de Dante continue sendo um dos grandes trunfos, a trama também dedica bastante atenção a Lady, que ganha um destaque surpreendente ao longo da temporada. Essa escolha narrativa amplia o universo da franquia e oferece uma dinâmica interessante entre os personagens, o que pode agradar especialmente os fãs da personagem.
Outro aspecto que não se perde na adaptação é o próprio Dante, dublado no áudio original por Johnny Yong Bosch. Sim, o mesmo que faz a voz do Nero nos jogos. No começo, os nossos cérebros tiveram que se adaptar à voz dele como Dante, já que associamos o timbre ao Nero há quase duas décadas. Porém, a ficha caiu logo em seguida. Ele tem experiência de sobra na dublagem para diferenciar um personagem do outro em pequenos detalhes, o que é algo louvável. Scout Taylor-Compton também brilha como Lady, acertando nas emoções fortes e transmitindo a arrogância e a sagacidade da personagem. O que, em contraste com Dante, gera diálogos divertidos.
Estilo, sangue e exagero na medida certa
A Netflix também aposta alto na violência em Devil May Cry, que explode em formas grotescamente criativas. Chega a lembrar Mortal Kombat, o que é curioso, já que os jogos, embora violentos, não exageram tanto nesse aspecto. Sinceramente, é divertido ver a Netflix abraçar esse exagero na ação. Afinal, mesmo com o sangue e a violência elevados ao extremo, ainda soa como Devil May Cry.
A adaptação inicialmente se apresenta como uma aventura cheia de adrenalina que não pretende ser levada tão a sério. Algo que combina bem com os elementos bizarros e exagerados dos jogos. E, mesmo quando a trama assume um tom mais sério, a série consegue manter o equilíbrio e o estilo característico da franquia. Em meio à ação estilizada, surgem também explorações de temas mais complexos, como questões de discriminação sob a perspectiva dos demônios. Uma abordagem inesperada que amplia o escopo narrativo da obra.
Não vamos entrar em muitos spoilers sobre a história dos demônios, mas os roteiristas buscam fazer com que o público se importe com mais do que apenas os mocinhos, borrando as linhas entre bem e mal e incluindo reflexões que dialogam com o mundo real. É interessante ver uma abordagem que tenta dar mais camadas aos vilões, oferecendo uma nova perspectiva dentro do universo da série. Essa escolha traz um contraste com o tom mais animado e estilizado da produção, criando uma combinação incomum, mas que pode surpreender quem está aberto a algo diferente do que os jogos costumam entregar.
Ainda é o começo — mas um começo promissor
Quando a adaptação da Netflix acerta, ela acerta de verdade. Adi Shankar e sua equipe trazem a experiência adquirida com a série Castlevania para cá, com uma animação fluida e estilosa — que só é um pouco prejudicada pelo uso questionável de CGI. Ainda assim, nunca sentimos que o ritmo da produção fosse arrastado. Ela se move com agilidade e mantém um bom ritmo de uma cena de ação para a outra. E, por ser baseada em uma IP já conhecida, é fácil se apegar aos personagens.
A adaptação da Netflix de Devil May Cry é, em sua maioria, uma experiência bem-sucedida que consegue capturar boa parte da essência da franquia. Embora o tom varie em alguns momentos, a série combina ação visceral, humor e elementos “edgy” que remetem ao espírito dos jogos — ainda que nem sempre da forma mais convencional. Johnny Yong Bosch está competente como Dante, trazendo carisma e energia ao personagem, e as cenas de ação são sangrentas, intensas e empolgantes. Ainda não alcança o mesmo refinamento da animação Castlevania, também produzida por Shankar — mas com a segunda temporada a caminho, a sensação é de que o melhor ainda está por vir.
A Avaliação
Devil May Cry (1ª Temporada)
A animação da Netflix acerta ao traduzir o estilo exagerado e o humor da franquia, com um Dante carismático, ação criativa e surpresas narrativas bem-vindas.
Detalhes da avaliação;
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Nota