Todos nós perdemos algo. É assim que a vida funciona, e não há como lutar contra isso, apenas resistir com as consequências que essas perdas causam. Quando se trata de perder alguém, as coisas se complicam muito mais.
Torn é um verdadeiro questionamento sobre vida após a morte, a morte da lenda do alpinismo, Alex Lowe. Produzido por seu filho, Max Lowe, este é um documentário é quase como uma pergunta de Max para si mesmo, e para seus familiares. O resultado é um pedaço de arte valioso, que coincide amor com morbidez. Uma fantástica mistura para o espectador.
O homem por trás da lenda
Torn é um estudo muito íntimo e pessoal de Alex Lowe, já que é narrado por seus familiares, ou amigos muito próximos. O espectador é posto quase como um invasor, pontilhando as mais delicadas opiniões daqueles que Alex deixou para trás no seu post mortem.
Max, de forma muito madura, escolhe não fazer uma celebração histórica de seu pai, mas sim uma desconstrução sentimental dele. A desconstrução do “super-herói” que ele cresceu imaginando, ao lado de seus dois irmãos.
Por exemplo, o documentário não começa com a história da infância de Lowe, invés disso, sua mulher conta sobre como o conheceu.
De forma abrupta, somos apresentados a Alex, quase como se o mesmo fosse uma figura inalcançável. Esta escolha não só é narrativa, como também pessoal por parte do diretor.
Para ele, seu pai também era de certa forma inalcançável, lendário, espectral. Se a apresentação a Alex é abrupta, sua partida também é.
É uma história trágica, sobre uma família que teve que aprender a lidar com a ausência de seu patriarca, que vivia em um dilema entre sua vida de alpinismo e sua vida em casa.
Vida após Lowe
Conrad, Jennifer, Isaac, e Sam são tão personagens dentro desta história quanto Max é. O mesmo, de forma muito metódica, busca compreender o maquinário que movia a cabeça de seu pai. Por conta disso, a direção é bastante contemplativa, quase uma exclamação da parte do diretor que tão desesperadamente tenta formular uma solução para o trauma de perder seu pai.
Conrad Anker, o melhor amigo de Alex em seus dias de alpinismo, se casou com sua viúva e assumiu a figura paterna na família.
Dessa forma, há um conflito emocional na cabeça de Max, por ter sido o filho mais próximo de Alex, e também tendo que viver na sombra do mesmo. De fato, todos vivem. Seus filhos, sua ex-esposa, seu amigo Conrad, todos tentam continuar escrevendo a história da família após a perda da “lenda”.
Assim, o documentário constrói uma narrativa trágica, mas maravilhosa. Sustentada pelos relatos daqueles que viveram entre Alex. Max lentamente passa a aceitar o trauma, a dor, os rescaldos do triste fim de seu pai, enquanto tenta fazer o espectador passar por toda essa jornada ao lado dele.
Também sustentada por uma ótima trilha sonora, e gravações da época que Alex era vivo, essa tentativa é feita de forma orgânica e certeira.
Veredito de Torn
Há muitos documentários que seduzem sua audiência através do puro emocional cru. Relatos forçados, edição esperta, um produto de seu tempo. Torn certamente não é um desses documentários.
Esta é uma obra feita com paixão, amor, uma jornada pessoal de descobrimento tanto para aqueles envolvidos em sua produção quanto para seus espectadores. O resultado é uma dissecação compreensível de Alex Lowe, um dos maiores alpinistas de todos os tempos. Se você der uma oportunidade a esta carta de amor, com certeza não irá se decepcionar.
Torn pode ser assistido no Disney+.
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