Superman é o símbolo de heroísmo e esperança mais reconhecível da Cultura Pop. Tal símbolo já foi reimaginado e reinventado diversas vezes ao longo dos anos; seja no cinema, nos programas de televisão, nos video games, e é claro, nos quadrinhos.
Superman – Entre a Foice e o Martelo eleva esta filosofia da reimaginação para outro nível. E se a nave do último filho de Krypton tivesse caído numa zona rural da União Soviética? E se o Superman fosse um super-herói do exército vermelho?
Tida como uma das histórias mais fascinantes, controversas e amadas do Superman, Entre a Foice e o Martelo ainda aborda temas muito refrescantes e maduros.
Herói soviético
Escrita por Mark Millar, e desenhada por Dave Johnson, Entre a Foice E O Martelo é muito mais do que apenas um cenário “e se” da DC Comics. A história busca, por meio de suas analogias interessantes, mas nada sutis, explorar ideologias como o fascismo, comunismo, e socialismo. Entretanto, Millar não está exatamente interessado em dissecar de forma cultural ou social estas mesmas ideologias e movimentos políticos. Ele quer mais transmutá-los para o mundo dos super-heróis e explorar as consequências que as mesmas teriam, até com personagens como Batman.
Isso mesmo, Batman está presente nesta história, além da Mulher-Maravilha, e até o Lanterna Verde. Mas além de outros membros da liga, temos personagens importantes para o mito do Superman, como Lois Lane, Jimmy Olsen, e é claro, Lex Luthor.
Afinal, neste mundo, as paranoias de Luthor em relação ao Homem de Aço podem ser consideradas justificáveis, afinal, ele é inimigo declarado dos Estados Unidos. Dessa forma, o jogo mental de Superman e Lex Luthor se estende por toda a história, sucedendo em manter o leitor vidrado a cada página.
Mas Millar também mergulha mais a fundo em questões governamentais tão presentes nas décadas de 60-70-80, e por aí vai. Desde a Guerra Fria, assassinatos políticos em Moscow, e a infame morte de Stalin, que muda todo o rumo desta história.
A narrativa aqui apresentada possui proporções globais, se passando ao longo de décadas e anos. Isso pode quebrar e dividir certos desenvolvimentos de personagem, mas nada que incomode tanto de forma gritante.
Arte e traços
Todavia, sem a arte sublime do quadrinho, ela poderia se tornar massante em poucos minutos. A ideia de Miller é clara até certo ponto, afinal, as ideias, o clima e o estilo da trama se dissolvem com o tempo, se tornando muito mais cinzentas e frias do que no começo. Isso de certa forma serve para representar o mundo comunista de Entre a Foice E O Martelo a longo prazo.
De repente na história, a ideia divertida do tipo “E se o Superman fosse um herói soviético?” é trocada por “E se o Batman fosse fruto de um sistema quebrado e doentio alimentado por um símbolo de medo propagado pelo comunismo?”.
São essas as águas rasas e, ao mesmo tempo, profundas, que Millar está disposto a cruzar e a navegar, porém, nunca mergulhando de cabeça, o que se torna frustrante com o tempo. Ainda assim, Johnson consegue manter o leitor vidrado mesmo nas partes mais duvidosas, usando de técnicas e enquadramentos vivos a cada página.
O design de alguns personagens também é fantástico, com destaque para o Batman soviético e terrorista da história, e o Lanterna Verde militarizado.
Veredito
Dono de um dos finais mais incríveis de qualquer história do Superman, e um plot-twist ousado, Superman: Entre a Foice e o Martelo quebra muitos dos estigmas e limites aparentemente impostos no começo da história. Fica claro que Millar nos engana para brincar com suas próprias ideias e críticas ao longo da narrativa, mas não deixa de ser uma desconstrução interessantíssima, e um estudo mental necessário para quem lê quadrinhos.
É inegável que Superman foi, por décadas, um símbolo americano de heroísmo e patriotismo, e reverter os papéis, ainda mais com uma ótima história por trás, é um extremamente divertido.
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