Dirigido por Stanley Kubrick, De Olhos Bem Fechados é o último filme da carreira do cineasta e se baseia no romance Traumnovelle, de Arthur Schnitzler.
No filme, Bill (Tom Cruise) e Alice (Nicole Kidman) passam por dificuldades no casamento, sendo cada vez mais tentados por externos. Então, após ela admitir uma quase traição, ele é imerso em uma série de descobertas morais e sexuais.
De Olhos Bem Fechados e um amor conturbado
Acima de tudo, este filme fala sobre um relacionamento. É interessante como logo nos primeiros minutos, temos o que parece ser um casal comum, feliz e estável; para então, colocá-los separados em uma festa e mostrar que, na verdade, ambos são facilmente tentados por outras pessoas.
Quando chegamos no pós-festa, a verdade se esclarece. Existe peso em cada palavra dita durante os diálogos, isso além da entrega angustiada de Nicole Kidman e a ilustração do que Bill imagina após o que é dito. Essas duas pessoas estão deterioradas em sua relação, estando completamente no automático.
Conforme assistimos ao filme, notamos como seu visual é chamativo, afinal, as cores estão em uniformidade e saltam à tela. Mas perceba como o azul é perfeitamente colocado, principalmente quando está de noite ou amanhecendo; seja pela forma como reflete nos personagens ou pela melancolia e depreciação que representa esse momento conturbado em suas vidas.
Nesse sentido, o filme sabe trabalhar muito bem a tentação e o sentido de vazio. Bill é um médico rico, bem-vestido, com um apartamento gigante e família, não se preocupando em gastar dinheiro, oferecendo até mais do que deveria. Contudo, tanto ele quanto Alice não são bem-sucedidos no amor.
Ambos têm desejos e fantasias, não os fazendo e amargurando aquilo por conta da união. Note como a maioria das mulheres (e homens) anseiam por Bill, fazendo ele quase ceder, mas sua esposa desvia o olhar enquanto ele a beija. Da mesma forma que ela é tentada por outro homem na festa e se tortura com seus pensamentos, estando claramente infeliz. O que está errado, afinal?
Uma noite atípica
Com certeza a noite de Bill é um dos fatores que mais marca quem assiste ao filme. Quando entramos naquela casa com ele, a atmosfera muda e o medo se torna presente. Quem são essas pessoas? Por quais propósitos elas fazem isso? Pois bem, isso não importa tanto.
A exaltação da luxúria é de impactar, isso pela forma crua com que é mostrada. Aquelas pessoas vestidas de preto, com máscaras expressivas e assustadoras, causam arrepios em qualquer um que assiste, principalmente pelas movimentações sutis. O que vem logo a seguir, traz um tom misterioso perfeito para o filme, mesclando curiosidade com tensão.
Dessa forma, a aplicação de Musica Ricercata II faz você se contorcer onde estiver assistindo, as poucas teclas tocadas no piano na exata ordem causam desconforto e cabem dentro desse contexto. E esse é o grande charme do longa, ele é simples e direto ao ponto, sua expositividade é dosada e a estrutura escolhida favorece cada tomada de atitude do protagonista; além de podermos sentir esse senso de perseguição e instigação junto dele.
É engraçado pensar que Bill teve que viver a experiência mais bizarra e aterrorizante de sua vida para, enfim, poder compreender. Tanto ele quanto Alice, agora com diálogo e elucidação, podem retirar suas máscaras metafóricas e seguir à diante. A partir disso, temos um dos melhores diálogos finais da história do cinema. Novamente, é simples, mas honesto.
Portanto, De Olhos Bem Fechados é competente em tudo que se propõe. A experiência é tão completa, que você com certeza irá querer embarcar nessa viagem novamente. Aliás, esse filme certamente deveria estar no topo de melhores filmes do Stanley Kubrick, mas sabemos que um gênio como ele terá outros filmes para brigar por esse posto.