Hulk é um personagem bastante complexo para os padrões da Marvel Comics. Às vezes um herói, outras um vilão, mas sempre Bruce Banner, que carrega o fardo do monstro nas costas. O personagem em si, vive em uma tragédia, onde sempre se torna esse monstro verde, raivoso e destruidor quando sua pressão cardíaca aumenta.
Portanto, é complicado pegar essa fórmula e adaptar para um blockbuster cinematográfico. Tentativas já haviam sido feitas no passado com Hulk de Ang Lee, um estudo muito mais mental e emocional do personagem. Mas será que o UCM acertou com a sua versão do personagem?
O Banner de Edward Norton

Para entendermos a natureza desse filme, precisamos primeiro entender alguns dos vários problemas que envolveram a sua produção. Edward Norton é um ator difícil de se trabalhar, e o mesmo tinha opiniões muito fortes acerca da abordagem de seu personagem, Bruce Banner, no roteiro.
Norton queria um filme focado na psique de Banner, em seus traumas, seus medos, angustias, e como tudo isso culminava no monstro Hulk.
Para o azar do ator, a Marvel não concordava com esses métodos, muito pelo medo do fracasso de Hulk de Ang Lee se repetir, um filme com essas mesmas características mais emocionais. O resultado é um filme que poderia ter entregado muito mais, mas no que mira, ele acerta.
Mesmo que não tenha conseguido influenciar tanto o roteiro, Norton ainda entrega uma excelente atuação do personagem.
Diferente de Eric Bana, que interpretava um Bruce mais delicado, medroso e mesquinho, o Bruce de Norton é mais centrado e com traços de depressão, ansiedade e mais.
Um filme quase incrível

O longa trabalha toda a história de Banner de uma forma muito obscura e opaca. De modo que ele nem sequer começa com uma história de origem, mostrando flashes, visões e pesadelos do incidente que transformou Bruce no Hulk.
Aqui, Bruce Banner é um dos maiores cientistas de seu tempo, especializado em Raios Gama. Ele acaba por criar um soro para Thaddeus Ross que aumenta a capacidade humana daqueles que o consomem. Um super-soro.
Mas Bruce é enganado por Ross, pensando que está trabalhando em uma espécie de resistência radioativa. Banner se submete ao teste de sua própria pesquisa, criando um monstro dentro de seu corpo.
Após cinco anos fugindo de Ross, e do governo, Bruce retorna para casa em busca de uma cura, é aí que reencontra o amor de sua vida. Betty Ross, filha de Thaddeus, e tudo volta para a vida do conturbado cientista como um trovão.
O filme constrói as relações entre os personagens de formas muito creditáveis. Com atuações fantásticas de Liv Tyler, William Hurt, e é claro, Tim Roth, como o vilão principal. Emil Blonsky é um agente das forças especiais, tão impetuoso quanto Ross, e sua obsessão por capturar Banner acaba fazendo ele se viciar no mesmo soro que criou o Hulk, o resultado é uma segunda criatura: o Abominável.
É uma pena que as ideias de Edward Norton tenham sido barradas pelo estúdio. É possível capturar espectros de uma trama mais complexa, claro que menos complexa do que o roteiro de Ang Lee, mas com boas doses de ação e história. Fica claro que houve muita interferência do estúdio, para acarretar um produto mais comercial.
É um filme balanceado, agradável com as porradarias de Hulk, ou com o drama de Bruce e Betty, mas acaba não personificando nenhuma desses dois ângulos completamente.
Conclusão
O Incrível Hulk é um filme que merece mais amor. Ele pode não ter uma visão mais abstrata, complexa e psicologicamente carregada como Hulk de 2003, mas, certamente, consegue criar uma experiência no mínimo divertida com o que entrega. O filme joga seus quebra-cabeças na mesa, e deixa ao espectador saber encaixá-los para solucionar o enigma que compõe a sofrível tragédia do Hulk, de Bruce, e de Betty.