No final de 2018, foi anunciado uma parceria do aclamado diretor Martin Scorsese com a gigante dos streamings, Netflix. Pouco tempo depois, mais detalhes foram revelados trazendo o nome do filme, seu tema e seu forte elenco. Então, nasce O Irlandês. Um épico mafioso que conta com nomes de peso incluindo Robert DeNiro, Al Pacino e com o retorno de Joe Pesci as telas de cinema (ou qualquer outra tela).
Logo, podemos dizer que não é um filme comum. Além disso, podemos dizer que não é uma tarefa fácil. Altas expectativas foram criadas ao redor do filme, trazendo grandes estrelas do Oscar que, ao mesmo tempo, conta um épico sobre a máfia americana e seu envolvimento com o ex-presidente sindicalista, Jimmy Hoffa. Condensado em um filme de 3h30min.
Sendo assim, se você não é fã de filmes do gênero como Os Bons Companheiros, que é do mesmo diretor, é profundamente aconselhável que você não assista ao filme. Aqui vemos Scorsese entregando aquilo que ele faz de melhor, uma boa construção de personagens, uma história cativante e (muito) violenta.
O filme acompanha o personagem principal conhecido como o Irlandês, interpretado por DeNiro. Vemos seu início ao mundo da máfia conhecendo Bill Bufalino (Joe Pesci), sua ascensão ao lado de Jimmy Hoffa (Al Pacino) e seu declínio.
O longa, apesar de sua duração, não é cansativo. Como sempre faz na maioria dos seus filmes, Scorsese conta mais uma grande história com um ritmo bem dosado entre diálogos e cenas de pura violência.
Desta vez, ele retorna ao mundo mafioso para contar uma versão pessimista. Em seus filmes anteriores de mesmo tema, o diretor gostava de enaltecer o glamour de ser um gangster naquela época. Mas agora os carros luxuosos, limusines, joias, grandes mansões e outros luxos não acontecem aqui.
Em O Irlandês vemos o lado mais silencioso e sujo da máfia, que é perfeitamente representado no personagem do Joe Pesci, por exemplo. Surpreendentemente, ele nos é apresentado de uma forma nunca vista nos cinemas. Diferente de personagens estéricos em seu currículo, aqui ele está mais calmo e mais ameaçador do que nunca. Inclusive, as cenas que mais causam o pavor no telespectador é quando ele diz tudo em seu olhar.
Assim como DeNiro e Al pacino, não só como houve uma inversão de papéis para Pesci, mas também para Pacino, que dá a vida a Jimmy Hoffa. Vemos o ator em um papel estérico diferente de seus filmes mais famosos. Mas, conforme o desenrolar do filme nos é apresentado, Hoffa se demonstra um homem de princípios e que, acima de tudo, lutava para se manter alguém importante.
Já Robert DeNiro, que é o personagem principal de toda a trama, faz o mediador entre os personagens extremos. Logo vemos Frank Sheeran, seu personagem, crescer de forma lenta e gradativa, apenas seguindo ordens e sendo um “cara que pinta casas”, ele do seu jeito carcamano e calmo de fazer as coisas, ganha seu destaque entre a corporação mafiosa.
Contudo, quando o final do filme está cada vez mais perto, você entende que o conto de máfia não é exatamente o tema principal, mas sim o envelhecer e a morte repentina, por isso o motivo do filme ser longo. Assim como as cenas de assassinato que são tratadas da maneiras mais banais possíveis. Você precisa de tempo para entender, que todos os personagens, ou pelo menos a maioria, que passam pela tela da sua televisão tiveram o mesmo fim, a morte.
Então, no final do terceiro ato o diretor coloca você o mais perto possível do que é envelhecer e morrer. Como exemplo, o fato do personagem escolher o próprio caixão, a própria lápide na parede e seu cemitério. Assim como, em certos momentos do filme onde a tela é congelada e mostra como determinado personagem morreu. A forma como é exposto isso não é importante, mas sim, seu entendimento sobre o que é o filme de verdade.
O Irlandês consegue fazer algo inacreditável. Ele nos traz um elenco forte, com personagens cativantes e únicos nas mãos de um dos maiores diretores da história… em um filme que, discute o fim da jornada de qualquer ser humano. Disfarçado em um épico de mafia muito bem executado e escrito.