Roteirizado e dirigido por David Robert Mitchell, O Mistério de Silver Lake é um dos filmes mais excêntricos dos últimos anos. O longa se destaca pela inesperada aventura em que somos mergulhados, que, certamente, não irá agradar a todos.
No filme, acompanhamos um jovem perdido na vida chamado Sam (Andrew Garfield), que, um dia, encontra a garota perfeita: sua vizinha, com quem passa uma noite. No dia seguinte, ela misteriosamente desaparece. Sam decide ir atrás dela por conta própria e embarca em uma jornada anormal de revelações.
A procura de um sentido em O Mistério de Silver Lake
A principal missão do filme consiste em nos relacionar com o protagonista, afinal, isso torna-se o bastante para embarcamos nessa jornada com ele. Logo nos primeiros minutos, notamos que a vida de Sam é desinteressante: ele não tem o que fazer, suas relações sexuais são banais, ele não tem amigos e está prestes a ser despejado.
Mas, ele é um personagem curioso. Logo, se sua vida é vazia e surge um motivo para perseguir, ele irá sem pestanejar. O mais interessante da história é como nós temos a mesma experiência que o protagonista, as mesmas surpresas e os mesmos medos.
O filme é muito convidativo, nos instigando cada vez mais para imergimos nesse universo e suas peculiaridades. É agradável a forma em que as coisas se desenrolam e como Sam caminha cada vez mais para onde tanto quer.
E essa é a temática do filme: pessoas perdidas que procuram sentido na superficialidade do mundo. Existe essa constante busca por algo, que dentro de todo o absurdo apresentado, é relacionável. E isso nem sempre será como esperamos, às vezes é algo gigantesco, mas, às vezes, não é nada. Por isso, pode desagradar.
Nesse sentido, Sam é completamente maluco. Notamos que ele fantasia situações e toma atitudes questionáveis sem pensar duas vezes. Andrew Garfield vive esse papel com muita intensidade e esboça reações, no mínimo, reais. Sua performance é entregue, de forma eufórica e sincera.
Teorias das conspiração?
David Robert Mitchell utiliza referências reais, ainda sim, ele cria seu próprio mundo. Então, existe a formidável criação de pessoas famosas, lendas urbanas e, claro, a inserção das teorias da conspiração e sua influência nesse mundo.
Assim, existe essa crítica à manipulação de vida e entretenimento, em relação ao que as pessoas consomem e os ricos poderosos. Esse é o ponto-alto do filme: a aflição de que algo ruim irá acontecer a qualquer momento, além de nos impactar com determinados caminhos escolhidos, como, por exemplo: a cena do idoso, no piano.
O modo com que o filme é feito, remete aos clássicos: o estilo da trilha e como ela é posicionada, o suspense que utiliza a tensão em momentos-chave, e até como estão situados nos ambientes.
Dessa forma, o estilo de Alfred Hitchcock (Janela Indiscreta, Um Corpo que Cai) é uma clara inspiração para o longa, podemos notar tanto semelhanças narrativas quanto referências diretas. A própria forma com que o protagonista é mergulhado diante de loucuras e sua vida fica em risco, remete muito ao De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick.
Quando você assiste ao filme pela segunda vez, ele cresce. As coisas ficam mais claras e existe o aviso de situações que ainda irão florescer na trama. Então, é sempre bom pegar o filme para rever, tentar pegar mais dessas referências e ter esse olhar mais vasto das coisas.
Portanto, O Mistério de Silver Lake é muito mais do que estamos vendo. A experiência engloba uma série de fatores e surpreende pela forma com que chega em tamanha escala. É gradual, assustador, desconfortável e irá te deixar reflexivo por dias!