A história das prequels de Star Wars é complexa. Pois, primeiro todo mundo concordava que elas eram horríveis, depois, gradualmente, uma legião de apoiadores de seus muitos erros e acertos surgiu na internet. Hoje, o fandom de Star Wars se divide entre aqueles que odeiam e aqueles que amam as prequels.
Sobretudo, boa parte desse ódio se deve ao primeiro capítulo da trilogia, A Ameaça Fantasma. Sendo considerado um dos filmes mais aguardados de todos os tempos, uma das maiores bilheterias do Século XX, e claro, uma das maiores decepções também.
Até hoje, fãs que aguardaram dias nas filas dos cinemas por todo o mundo se sentem traídos, afirmando que foram assistir a um filme, mas, ao invés disso, receberam outro. Porém, será que todo esse ódio é justificável? Ou apenas mais uma construção dos fãs, da mídia e da internet?
A trama
Antes de mais nada, a sequência de abertura de A Ameaça Fantasma já deixa claro que tipo de história estaremos acompanhando: uma crise política. E tudo bem, Star Wars sempre flertou com esses mesmos temas, mesmo na trilogia clássica, e considerando que, agora, a narrativa iria mergulhar cada vez mais nas águas da República e na corrupção da Ordem Jedi, é interessante ir para esses lados.
Dois Jedi são enviados para resolverem uma tensão política entre a República Galáctica, da qual a Ordem Jedi serve, e a Federação do Comércio.
Todavia, logo descobrimos que um dos Jedi é o próprio Obi-Wan Kenobi, anos mais novo, quando ainda era apenas um aprendiz. Seu mestre, Qui-Gon Jinn demonstra serenidade em meio à situação, com ambos prestes a se encontrar com os líderes da Federação em sua gigantesca nave.
Contudo, as negociações não vão como o esperado. A Federação ataca Obi-Wan e Qui-Gon, além de invadir Naboo, um dos planetas mais importantes nos Mundos do Núcleo. Decididos a salvarem a princesa, os dois Jedi partem em uma jornada cheia de intrigas políticas, em constante fuga das mãos corruptas da República e até de um Lorde Sith misterioso.
Entretanto, há uma discrepância gritante entre ideia e execução por parte do roteiro. Nunca sabemos de verdade que ameaça a Federação do Comércio representa, os detalhes sistemáticos, as engrenagens que unem o conflito. Nada disso, jamais temos as respostas, ao invés disso, a trama prefere nos entregar rostos familiares para nos sentirmos apegados à história.
Os muitos erros
O resultado é uma história com muitas perguntas, mas com nenhuma reposta à maioria delas, preferindo se embriagar nas próprias certezas e incertezas de ser mais grandiosa e esperta do que realmente é. Este é um defeito perceptível na escrita de George Lucas, inquestionável e imbatível durante toda a produção do filme, sem ninguém jamais confrontá-lo sobre suas ideias.
Enquanto isso, a direção se mostra tão desinteressada e desobjetivada quanto a história. Conforme as horas se arrastam, mais entendiante e fraco o filme se torna. Usando de planos fracos, nem um pouco inspirados, rasos e fracos.
A montagem também não ajuda, com a trama pulando de personagem para personagem, de conflito a conflito, separados por gigantescos diálogos de exposição. É como se Lucas não confiasse na audiência o suficiente para entender a história que ele tenta entregar, e faz todos os personagens se tornarem máquinas de informação sem personalidade.
Dessa forma, as atuações, que já são duvidosas, perdem todo o seu fervor e gosto. Mas, entre todas as más ideias que George Lucas tomou nesse filme, talvez a pior delas tenha sido Jar Jar Binks. O gungan de Naboo que acompanha os personagens se tornou o símbolo de tudo que há de errado não só com o filme, mas com as prequels também.
Aliás, frequentemente a história insere personagens antigos como R2-D2, C-3PO de forma abrupta na trama. Com C-3PO sendo uma criação do próprio Anakin Skywalker quando criança em Tatooine. É como se todas essas decisões fossem meramente comerciais, tornando-as um tanto supérfluas e perdendo seu peso.
Os poucos acertos
Por outro lado, onde esse filme acerta, ele acerta à primeira. A trilha sonora de John Williams é talvez a melhor coisa do filme, dando identidade e alma para sequências de ação, personagens e lugares, com destaque para “Duel of the Fates“, a música tema do duelo final com Darth Maul.
Darth Maul que, aliás, é um dos vilões mais ameaçadores e interessantes de toda a saga, aprendiz secreto de Darth Sidious, o misterioso cérebro por trás de toda a Crise de Naboo. Maul caça o elenco principal incessantemente. Sua presença em tela é impressionante, além de seu Bastão de Luz, que o torna um adversário formidável para Obi-Wan e Qui-Gon.
Além disso, temos a decisão de fazer a Ordem Jedi ter se tornando arrogante e cega perante os vários sinais do retorno dos Sith. Isso torna o conflito político e sistemático da República bem mais interessante, apesar de a questão do Senado ser uma das piores e mais entendiantes partes do filme, que não leva a lugar algum.
Mas, voltando para o combate final, temos o duelo mais bem coreografado da saga até hoje. Treinando por semanas, os atores receberam apoio do lendário coreografo Nick Gillard, que deu vida e imaginou todo o conflito. Até então, os combates de sabre de luz eram um tanto lentos, considerando que, à época da trilogia clássica, tínhamos bem poucos Jedi sobreviventes.
Já as prequels apresentam os Jedi em seu auge, então os combates são meticulosamente imaginados para dar a sensação e a ideia de que esses caras eram profissionais. Cambalhotas, pulos, uso da Força constante, tudo isso faz de Duel of the Fates a melhor sequência do filme.
Infelizmente, a mesma é constantemente interrompida pela batalha final dos Gungans com os Droides da Federação.
Veredito
Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma ainda é, até hoje, merecedor de boa parte do ódio que recebe, porém, não de todo. Com história, atuações, direção, conclusões e personagens entendiantes, este é o filme mais propício de Star Wars a fazer você dormir. George Lucas enganou a todos acreditando que iriam assistir ao próximo épico capítulo de Star Wars, mas acabou com um filme sem alma, apenas acendendo seu potencial momentaneamente.
Ainda assim, há coisas a serem apreciadas aqui. Seja Maul ou a trilha sonora, por exemplo, é possível encontrar beleza na bagunça que este filme é. É entendível o porquê de tantas pessoas defendem ele até hoje.