Morte em 140 Caracteres é um conto policial que narra uma história por meio de uma thread de tweets. Nesta narrativa, o hacker Samuel explica sua vida e crimes que cometeu até chegar ao celular do famoso deputado Firmino.
Uma thread cheia de trama
Até em meados de 2018, a rede social Twitter permitia que seus usuários utilizassem apenas 140 caracteres por tweet. Depois disso, o número aumentou para 280 caracteres (ufa!).
Porém, antes disso, os 140 caracteres já tinham uma certa importância. Algumas pessoas já tinham achado que o número era significativo. Entre elas, estava André Comanche, um escritor que pensou que seria interessante contar uma história cheia de parágrafos de 140 caracteres.
A ideia, sem dúvidas, demonstrava muita criatividade. Mas, afinal, que história seria tão interessante a ponto de todos acompanharem todas as atualizações, a ponto de chegar no Trend Topics?
Um conto com violência, pegada cibernética e viés político serviria muito bem. Com duração curta, Morte em 140 Caracteres nos apresenta um relato muito fácil de ser digerido, com palavras fáceis de serem entendidas e um trama quase previsível.
Aqui, o interesse recaí sobre a execução da ideia criativa, e a semelhança de sermos tanto os leitores que leem a thread fictícia quanto os que leem o livro da vida real. Chega a ser curioso como ficamos ávidos para ler o próximo tweet, assim como os leitores da realidade do livro também ficaram.
Robin Hood da tecnologia
Samuel está longe de ser um mocinho. Mais como um anti-herói, ele surge como um Robin Hood tecnológico que se apropria dos pecados de outros para fazer o que acredita ser o certo, ao seu ver: movimentar o dinheiro do próprio bolso, e se divertir às custas do desespero de suas vítimas.
E, com tanta esperteza, ele ainda é humano e capaz de cair em golpes que não são orquestrados por si. É no final, entretanto, que assistimos que sua inteligência consegue ganhar a situação, mesmo em um momento tão crítico. Samuel pode não ter vencido, mas não saiu perdendo.
As pessoas pensam que formatando o celular seus pecados serão apagados também. Ledo engano. Uma vez feito, para sempre feito.
Vale também elogiar a maneira como há uma imersão no conto, através do uso de layouts que simulam a estrutura de um tweet ao longo do texto. Parece que estamos mesmo lendo outra pessoa escrever.
Ainda assim, a obra parece apresentar excessiva simplicidade. Como um suspense, não há respostas. Mas a ausência delas também dá um teor de “é só isso?” que incomoda quando a leitura é finalizada.
Veredito de Morte em 140 Caracteres em alguns caracteres
Morte em 140 Caracteres esbanja criatividade, imersão e dúvidas. Leitura rápida, é uma boa escolha para matar o tempo, e refletir sobre o mundo virtual por um tempinho.