Sob a direção de Tatiana Issa e Guto Barra, a minissérie documental Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez está completa no catálogo do HBO Max. Ela se tornou a série original mais assistida da plataforma, tanto do Brasil quanto da América Latina, deixando outros títulos nacionais e internacionais para trás.
O documentário relata um dos crimes mais chocantes do Brasil. Com o depoimento de várias pessoas, principalmente de Glória Perez, a narrativa foca nos momentos anteriores e posteriores à morte da atriz Daniella Perez, brutalmente assassinada por um colega de elenco da novela em que trabalhava.
A memória de Daniella Perez
Desde já, vale dizer que o documentário se estende à Daniella além de uma vítima. Justamente por acontecer na década de 90, há inúmeros registros que ela fazia questão de captar e que felizmente são bem-aproveitados. Chega a ser emocionante ver alguns de seus vídeos, fotos e todas as pequenas marcas que ela deixou em cada uma dessas lembranças. Mesmo que você tenha zero conhecimento sobre ela, de alguma forma, se sentirá próximo.
Antes de toda a tragédia, que perdurou com resquícios até hoje, nós adentramos mais em sua vida. Em simultâneo, é bom vê-la sorridente, cheia de sonhos e com um mundo à frente para conquistar — é no mínimo melancólico pensar que tudo isso foi tirado dela. E os relatos a seu respeito são de pessoas que realmente falam com um brilho no olhar, nos fazendo simpatizar mais ainda com alguém que sequer conhecemos.
A atmosfera de tristeza é um fator que define a experiência. Acompanhamos imensas tristezas em olhares e falas, atitudes que poderiam ter sido tomadas e palavras completamente desoladoras. E mesmo com a crueldade e desumanidade presentes nessa tragédia, a minissérie faz questão de prevalecer uma boa memória de Daniella: uma pessoa alegre, bonita, carismática, afetuosa e intensa.
Então, existe um equilíbrio entre as sensações de afeição e angústia. Conforme a trama vai se desenrolando, ficamos cada vez mais presos na tela, curiosos com os próximos detalhes a serem revelados. Dessa forma, sempre existe algo que acaba fascinando, por menor que seja, tornando tudo mais importante.
Um grande estudo apresentado
A ideia do documentário é excelente, visando acabar com uma visão superficial que muitas pessoas tinham. Afinal, houve um sensacionalismo repugnante, que o documentário faz questão de abordar. Nesse sentido, é interessante os diferentes tipos de impacto que essa história proporciona, com uma vastidão de elementos que a tornam necessária para discussão.
Dessa forma, cada faceta revelada do caso é um choque. Onde menos esperamos, o roteiro aborda e faz questão de ser o mais didático possível, enriquecendo com os lados mais inimagináveis dessa história. O trabalho apresentado, seja criminal ou judicial, são bastante instigantes e fazem você sair da experiência sabendo os mínimos detalhes do que aconteceu; embora alguns elementos soem repetitivos.
A recriação de momentos é bem sugestiva e soturna, procurando calmaria em meio ao caos. A junção de todos os materiais já existentes com o novo gera uma intercalação fluida; além do excelente uso da trilha, que por mais estranho que pareça, horas soa como a trilha de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, e horas como a de Halloween, onde tem essa mescla do doce e sentimental com o sombrio e desconcertante.
Dessa forma, esse retrato jamais procura romantizar os assassinos ou dar palco a eles. Ambos são construídos a partir de uma imagem suja, egocêntrica, nojenta e cruel, como realmente eram e ainda são. E acaba se tornando até um objeto interessante para estudo, que expõe os pormenores dessas mentes perversas e doentias.
Portanto, Pacto Brutal – O Assassinato de Daniella Perez é uma grande e esforçada obra, que utiliza de uma estrutura sólida e pontual. O documentário é enriquecedor para quem já conhece a história e esclarecedor para quem não conhece. De qualquer forma, se prepare para fortes emoções!