Dirigido por Jordan Peele, Corra! é um dos filmes mais aclamados dos últimos anos. O filme recebeu quatro indicações no Óscar, em 2018, vencendo na categoria Melhor Roteiro Original. Então, o filme lançado há quatro anos já fez história, mas, quais fatores o tornam tão memorável?
No filme, Chris (Daniel Kaluuya) é um jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada, Rose (Allison Williams). O comportamento da família com o rapaz é muito estranho, e, com o tempo, ele percebe que a família está escondendo algo perturbador.
A construção de Corra!
Corra! é um daqueles filmes que não param em momento algum. O ritmo construído para a história é um dos grandes méritos de Jordan Peele, que nos entrega um roteiro inteligente e uma direção dinâmica. O filme tem seus plots e entrega-os muito bem, mas o curioso é você se sentir desconfortável com o protagonista, sabendo que, ali, algo está definitivamente errado.
Aliás, o protagonista, Chris, é um grande acerto. Sua construção é perfeita, saindo do que parece ser “normal” e entrando no que há de mais perturbador, sendo muito inteligente. O que incrementa no nosso vínculo com ele é a excelente interpretação de Daniel Kaluuya, que entrega todas as nuances possíveis, apenas com seu olhar. A cena de hipnose, dele olhando para a tela e chorando, com certeza, será lembrada por muito tempo.
É interessante como o roteiro é sutil, apresentando detalhes, que, quando analisamos a obra na totalidade, fazem muito sentido. E mesmo com todas as bizarrices que a história nos apresenta, temos boas críticas e mensagens nas entrelinhas. Desse modo, não é um filme vazio ou sem alma, na verdade, tudo nele é encaixado perfeitamente e sua identidade é fortíssima.
No filme existe uma boa atmosfera de suspense e terror, porém, também ainda há humor. A comicidade está mais voltada ao personagem de Lil Rel Howery, que rende ótimos momentos e um final satisfatório. Nesse sentido, o terceiro ato do longa é muito bem executado, se aproveitando do uso da violência e criando um ótimo senso de urgência.
O racismo no terror
Estamos lidando com uma história que se passa dentro de um suspense e terror, então, é muito interessante como o filme trabalha o racismo em ambos os gêneros. Sendo um fator colocado de maneira intrínseca na história, desde como as pessoas tratam o nosso protagonista e tentam disfarçar, até a grande virada perturbadora.
Conforme o filme se movimenta, ele nos causa essa sensação sufocante, de não pertencimento. André e Georgina são os personagens que aparecem pontualmente e nos deixam aflitos, como se eles quisessem dizer algo e por algum motivo, não conseguem. Ainda mais, quando somos revelados à solução do problema, onde toda essa situação se mostra triste e com grande relevância na crítica do filme.
Ainda sobre a família Armitage, é bizarro como essas pessoas agem. Tudo que elas dizem, como dizem e como tentam não dizer, é extremamente desconfortável, enquanto tentam reproduzir uma imagem agradável. Ou seja, era isso que o Jordan Peele queria que sentíssemos, nos gerando uma reflexão e nos fazendo viver esse cotidiano desagradável, pois, certamente, não é a primeira vez que Chris passa por isso.
Portanto, Corra! consegue impactar e causar incômodo. A crítica é aplicada perfeitamente e o terror é muito bem construído. As atuações são de alto nível e a execução de Jordan Peele é sublime, nos mostrando a verdade através de sua arte, tornando o filme, um dos mais memoráveis dos últimos anos e que, com certeza, ainda irá gerar muitas discussões no futuro!