Dirigido por Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson e Kemp Powers, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso chegou aos cinemas na última quinta-feira (1). A sequência do bem-sucedido Homem-Aranha no Aranhaverso começou a ser desenvolvida pela Sony antes mesmo do lançamento do filme de 2018; tendo como foco o relacionamento entre Miles e Gwen. Então, o projeto foi anunciado oficialmente em novembro de 2019. Já os trabalhos de animação começaram em junho de 2020, com um estilo visual artístico diferente para cada um dos universos visitados pelos personagens.
Nesta sequência, Miles Morales (Shameik Moore) está de volta para uma nova missão em sua agitada vida como Homem-Aranha. Encontrado novamente por Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), agora ele se vê em novo inusitado time de Homens-Aranha. Os heróis entram em conflito quando uma inesperada ameaça surge, e Miles se vê em um impasse.
E vale dizer: o produtor Chris Miller confirmou em 2021, na CCXP Worlds, que esta é somente a parte 1. A parte dois, Spider Man: Beyond the Spider-Verse (ainda sem tradução oficial) será lançada em março de 2024 nos cinemas.
O primor técnico na sequência de Aranhaverso
Se no primeiro filme tínhamos uma HQ em movimento, aqui temos uma pintura. É possível passar horas falando sobre como o visual de Aranhaverso foi revolucionário. E surpreendentemente, os artistas envolvidos conseguiram mais uma vez! Não existe nada parecido a Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Os cenários e iluminação estão constantemente mudando de cor, expressando justamente os sentimentos dos personagens que passam por tantos conflitos internos. No universo de Gwen, principalmente, as cores mais frias e tristes são equilibradas às mais calorosas, seja para demonstrar uma sensação mais melancólica, afetuosa ou de aceitação. O último universo do filme também se aplica a isso, um lugar escuro e chuvoso com tonalidades avermelhadas, nos antecipando que algo ali é opressor e mal. Existem frames que não funcionam apenas como um fator contemplativo, mas sim como uma forma de nos transmitir aquelas sensações de momentos específicos da história.
E dentro dessa visão estabelecida, a animação surpreende por realmente parecer um live-action em sua encenação. Os acontecimentos parecem estar sendo filmados por um cameraman de verdade, justamente por esse estilo mais arrojado escolhido. O que permite que as transições sejam mais acuradas e tragam maior fluidez à história; que em um primeiro momento serve para uma contextualização mais isolada, enquanto também observamos a explosão visual com infinitas cores das viagens multiversais. Onde momentos mais íntimos dos personagens são ilustrados cautelosamente com cores primárias, mas eficientes em sua linguagem. Todo o visual tem vida própria e se comunica com quem assiste, personificando até mesmos reflexos de pensamento.
Dessa forma, uma das coisas mais geniais que esses artistas estabeleceram foi os diferentes estilos gráficos para cada universo, permitindo com que cada versão tenha uma identidade própria. Sendo assim, com essa expansão de multiverso em relação ao antecessor, cada novo personagem (ou universo apresentado) tem uma característica única. Outro tipo de traço, cor predominante ou regras próprias que regem sua forma. E tudo o que já veio antes desta sequência é perfeitamente respeitado, seja os live-actions, as HQs, as animações e até os jogos.
Nesse sentido, para quem é fã do teioso, o filme é um prato cheio. São referências bem colocadas, não apenas por ser divertido tentar acompanhar tudo que aparece em cena, mas por como isso serve à história. O mesmo paralelo que Sem Volta Para Casa estabeleceu, de todos os três Homens-Aranha serem conectados pela perda, aqui é abordado de maneira ainda mais significativa.
Jornadas mais maduras e conflitantes
Somente o público sabe como foi difícil para Miles Morales enfim contar sua história como Homem-Aranha nos últimos momentos de Aranhaverso. E, aqui, pelo fato de o personagem já ter crescido e estar em outro ponto de sua vida, que irá definir seu futuro, seu momento se torna ainda mais relacionável. Quais escolhas ele irá tomar? Como está seus sentimentos em relação aos pais? Qual atitude é a mais correta? Assim, o principal plot da história amplifica os problemas mundanos vividos pelo personagem.
De uma maneira intrínseca, este é mais um dos filmes que traz outra perspectiva para o mesmo conceito que define o Homem-Aranha: esse é um personagem que nunca poderá viver em paz. Existem pontos fixos na história do personagem que jamais podem ser alterados. Mas… e se pudessem?
Mesmo com Miles questionando e lutando contra sua nova batalha interna, o filme apresenta outro tipo de crise existencial: será que ele deveria mesmo ser o Homem-Aranha? É esse tipo de temática que nos deixa ainda mais próximos do personagem, pois são incertezas e questionamentos que todo mundo já pensou uma vez na vida. ”Quem sou eu?” ”Eu deveria ser assim?”. E não pense que somente o Miles tem esse desenvolvimento, o próprio arco da Gwen conversa com isso.
Os personagens realmente têm motivação para serem o que são, desde o Homem-Aranha 2099 ao vilão Mancha, que embora soe bobo num primeiro momento, vai ganhando importância ao longo do filme e dá a impressão de ter mais aprofundamento na parte dois.
Portanto, é impressionante como em tão pouco tempo a Sony lançou uma bomba como Morbius e logo depois uma obra-prima como Homem-Aranha: Através do Aranhaverso.
Este é um excelente capítulo do meio que promete ser uma das melhores trilogias de super-heróis. O valor artístico, técnico e narrativo deste universo gera um resultado mais competente a cada filme, mostrando como animações e filmes de heróis podem sempre ser únicas.