Dirigido por Alex Garland, Men – Faces do Medo é o novo longa da A24, (com distribuição da Paris Filmes) que está chegando nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (8). Desde que foi exibido no Festival de Cannes, as opiniões até o momento são mistas, onde há elogio às atuações e críticas à narrativa.
No filme, Harper (Jessie Buckley) parte para uma zona rural inglesa, após vivenciar uma tragédia próxima. Visando se recuperar, ela passa a explorar o local e percebe que está sendo perseguida. Além disso, todos os homens ao seu redor possuem uma certa semelhança, fazendo seus traumas tomarem forma.
Men, um terror perturbador

Desde os trailers, Men aparentava ser um projeto incomum e desafiador. Porque, apesar da premissa simples, com uma boa condução dos acontecimentos e aplicação de boas ideias, poderia fazer desse filme, um diferencial. E ele é exatamente isso, pois, além de todos os simbolismos que serão melhor discorridos a seguir, usa o terror como pano de fundo para a construção da história.
Mas antes de qualquer elemento aterrorizante a ser citado, é inevitável falar sobre as atuações. Jessie Buckley vem estrelando projetos muito peculiares nos últimos anos, e aqui não difere; sua atuação é carregada de uma verdade externalizada da personagem, sendo visceral e eloquente. Além dela, Paapa Essiedu, apesar de ter um papel que ocupe um menor tempo de tela, impressiona na forma com que passa realismo no drama de seu personagem.
E o grande destaque do filme se chama Rory Kinnear. A própria concepção dele interpretar todos os homens do filme é naturalmente assustadora, pois essa imagem é muito característica e suas expressões são nítidas; nunca sabemos se ele está prestes a fazer algo ruim ou está simplesmente sendo uma pessoa ”normal”. As situações em que percebemos sua presença maligna nos locais, mesmo que ele esteja longe, nos deixam aflitos. Ele é brilhante!
Nesse sentido, o filme jamais esconde suas cenas horrendas, porém, aguarda para mostrá-las. Há conceitos realmente perturbadores inseridos em momentos propositalmente lentos e de difícil absorção, indo desde o que seria possível até o mais inimaginável do grotesco. Ainda assim, um momento menor em que Harper está fazendo eco com sua voz no túnel, marca por ser divertido e arrepiante, em simultâneo.
Um filme não literal

O filme pode decepcionar quem espera ser surpreendido com uma história de terror literal, em que as coisas acontecem por uma força maligna e sobrenatural. Só que ele é muito mais simbólico e metafórico, novamente, usando os elementos de terror como palco para a história. E, afinal, sobre o que ela é?
Men esconde uma mensagem relevante: Harper é uma mulher assombrada por um trauma, que se sente culpada de diversas formas. E mesmo que a jornada seja para ela superar algo que nunca deveria ter carregado, todos os homens ao seu redor jogam mais culpa e desprezo nela. Ela é constantemente mal-tratada, não levada a sério e perseguida por vários que possuem o mesmo rosto. Então, as tantas ações em comum que ocorrem com a protagonista, a forçam a lidar com esses pesadelos da maneira mais íntima e intensa possível.
As cores quentes também chamam a atenção. O uso do vermelho na coloração da casa, ficando mais evidente no terceiro ato, passa uma sensação violenta e perigosa, nos advertendo do mal que ali circula. A utilização do laranja no apartamento de Harper, pode ser interpretada com apreensão, visto o calor emocional desses flashbacks. Também temos o verde da natureza, que mesmo sendo aplicado mais sutilmente, remete a algo sinistro e até opressivo, quando deveria ser acolhedor.
Portanto, Men – Faces do Medo engloba uma experiência econômica, centrada e surpreendente. O modo como somos introduzidos nesse universo psicológico deixa certos conceitos medonhos e incomodativos. Além de um visual contemplativo, somos convidados a refletir sobre questões recorrentes na atualidade, jogadas de maneira bizarra na tela.