Dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é o mais novo sucesso da A24. O longa já havia chamado a atenção do público pelos inúmeros elogios dos críticos que haviam assistido, tendo 95% de aprovação e certificado Fresh no Rotten Tomatoes. Além disso, esse é um dos filmes com maior avaliação no Letterboxd.
Mas, afinal, será que o multiverso tão bem vendido nos pôsteres e trailer atendem às expectativas? E será que esse é mesmo o grande filme do ano? Hoje iremos falar sobre tudo isso.
No filme, Evelyn (Michelle Yeoh) é uma senhora que leva uma vida difícil. No entanto, ela se envolve em uma aventura maluca relacionada ao multiverso e outras versões de si própria. Com um grande perigo se aproximando, ela é a única capaz de impedi-lo, mas antes, precisa entender todas as regras e usá-las a seu favor.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e seu multiverso sem limites

Quando se fala em multiverso, o despertar do interesse é inevitável. Pois, dentro desse tema, uma gama de possibilidades pode ser explorada, bastando ter criatividade e saber como aplicá-la. E é exatamente isso o que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo faz, é impossível sair desse filme insatisfeito com os elementos apresentados. A expositividade é didática e bem dosada, sem exageros e o bastante para entendermos esse contexto e suas limitações.
Enquanto o multiverso é caótico, com elementos surpreendentemente bizarros, o roteiro estabelece regras e urgência para os personagens. Dentro disso, há dúvidas e esclarecimentos para a protagonista, onde entendemos a magnitude da situação junto dela. E se você tivesse feito outra escolha em determinado momento da vida? Ou se por determinadas circunstâncias, a humanidade nunca existiu? E se a evolução tivesse sido diferente?
Nesse sentido, o trabalho tanto dos diretores quanto o do montador é magnífico. Não só por posicionarem a câmera no mesmo ângulo quando passam de um universo para o outro, ou por como as movimentações seguem um padrão orgânico; mas pelo caos controlado estabelecido quando todos esses elementos fazem parte de uma única linha, sendo uma viagem interdimensional aos olhos. É interessante também, como um universo pode ter cores predominantes diferentes de outros e, às vezes, serem só um papel com giz de cera. Tudo isso é execução de gênio, ainda mais quando paramos para pensar que praticamente todo o filme ocorre em um único local.
E não pense que o filme apenas explora e brinca com infinitas possibilidades, ele também se aventura em muitos gêneros. Ele consegue ser: um filme de comédia que não se leva a sério, um filme de ação kung-fu, um drama familiar e uma instigante ficção científica. Aliás, não vão faltar referências ao cinema para você se deliciar!
Então, o filme nos convida a refletir sobre inúmeras questões existencialistas. Uma troca de diálogos entre duas pedras, sobre o nosso tamanho dentro disso tudo, tende a ser não apenas uma excelente passagem de comédia; mas também, um momento com a mais genuína emoção que você terá. O que nós somos, afinal?
Uma jornada intimista

Logo nos primeiros vinte minutos, somos situados da vida de Evelyn com muita agilidade. Percebemos quais são todos os problemas que assolam sua cabeça e as situações não resolvidas que geram conflitos. É curioso como esses detalhes tão mundanos ditariam o grande plot do filme, que apesar de estar imerso em uma aventura multiversal maluca, é íntima e pessoal.
Dessa forma, é esse desenrolar dos problemas não resolvidos de Evelyn que constroem sua jornada de auto-descobrimento e das pessoas ao seu redor. É engraçado pensar que essa versão em questão, é a mais fracassada de todas, tendo uma fácil conexão com o público; pois todo mundo já se sentiu dessa forma. Nós somos capazes? O que eu realmente devo fazer? Estamos fadados a falhar? Qual é o sentido de tudo ser o que é?
Não iremos discorrer muito a respeito da figura antagônica do filme, por questões delicadas de spoilers que podem prejudicar sua experiência. Mas é interessante como suas motivações se interligam ao que não somente a protagonista experiencia, mas nós também. O filme abre espaço para pensarmos sobre tantas perguntas diferentes, que talvez nunca tenham respostas. A mensagem final é uma das coisas mais lindas que você verá, ainda mais por como está inserida em momentos tão pequenos.
A respeito das atuações, Michelle Yeoh é serena e dócil, entendendo essa personagem cansada e disposta, em simultâneo, como ninguém. Ke Huy Quan entrega toda a fofura e gentileza que seus personagens demandam, você irá se importar muito com uma versão dele, mesmo que apareça pouco. Já Jamie Lee Curtis, está se divertindo completamente, se encaixando em um tom mais cômico.
Portanto, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, certamente, é a grande obra-prima deste ano, há momentos que ficarão marcados para sempre na história do cinema. Quando é para ser grande em escala, ele é gigante. Quando é para ser menor, ele ainda sabe ser gigante, em sensibilidade. Suas ideias originais, misturas cósmicas e a mensagem universal continuarão em nossas mentes por muito tempo. É de tamanha felicidade que os fãs fizeram esse filme chegar aos cinemas brasileiros, não perca a oportunidade de assisti-lo na tela grande e ter uma das experiências mais divertidas, filosóficas e gratificantes da vida!