O gênero de horror possui diversos conceitos que o moldaram, mas poucos foram tão genias e impactantes na cultura pop como os zumbis de George A. Romero.
Mortos-vivos que caminham sob a terra com sede de sangue. Essa é a premissa utilizada por Romero em todos os seus trabalhos. No entanto, essa é apenas a parte mais rasa de suas produções, que vão muito além do que se propõem.
Neste artigo, vamos falar sobre a importância de George A. Romero para a cultura pop e o legado deixado pelos mortos-vivos criados por ele. Mas, antes, vamos entender a origem do surgimento do termo “zumbi”.
Os mortos-vivos e a lenda do zumbi
Embora Romero seja considerado o pai dos zumbis na cultura pop, a lenda dos mortos-vivos surgiu muito antes.
Zumbi, na verdade, vem de “nzambi“, uma palavra que significa “espírito” nas religiões vodu do Haiti e da diáspora africana. Acredita-se que o termo tenha chegado ao Haiti por escravos africanos. No entanto, a criatura conhecida nos cinemas demorou algum tempo a chegar da forma que estamos acostumados.
No folclore haitiano, um zumbi é um cadáver animado com falta de cognição ou livre arbítrio, cuja alma está aprisionada e possuída por meios mágicos, e cujo corpo é controlado por seu mestre.
Em um modo geral, a palavra zumbi traz consigo um peso muito maior do que um morto-vivo. Nela, habita o simbolismo da escravidão, uma vez que o conceito fora utilizado por colonizadores franceses para espalhar o medo da “zumbificação” em escravos.
Somente na década de 1920, os zumbis chegaram ao imaginário popular do resto do mundo através do — exagerado — “diário de viagem” de William Buehler Seabrook, que visitou o Haiti e escreveu o livro The Magic Island. Na década seguinte, 1932, Hollywood estava a procura de um novo canibal, após o sucesso de Conde Drácula. Então, Bela Lugosi (Drácula) protagonizou o filme Zumbi, A Legião dos Mortos.
E então, alguns anos depois, George A. Romero surge com A Noite dos Mortos-Vivos, elevando o conceito do zumbi para outros problemas sociais.
George A. Romero, crítica sociais e os zumbis
Em 1968, o cineasta norte-americano, George Romero, dirigiu o longa A Noite dos Mortos-Vivos. O filme foi um grande sucesso na época pelo seu terror visceral. No entanto, Romero entregou um longa que vai muito além do horror proposto.
Durante os anos de 1955 e 1970, os EUA passaram pela Guerra do Vietnã. E Romero fora um grande crítico em relação ao conflito. Em A Noite dos Mortos-Vivos, o diretor traz metáforas que criticam a sociedade americana e o conflito da Guerra.
No filme, os zumbis são uma metáfora para desumanização da guerra e a violência que ela traz. Além disso, o autor trata outras questões, como o ego e a falta de empatia humana. O filme também causou uma revolução estética no gênero de terror e é, sem dúvidas, um dos grandes clássicos de todos os tempos.
Em 1978, na sequência, O Despertar dos Mortos, Romero utiliza mais uma vez a criatura para criar metáforas e críticas sociais. Dessa vez, o foco está no consumismo exacerbado e na desumanização causada pela crescente do capitalismo.
Já em 1985, com o terceiro filme, Dia dos Mortos, o diretor usa o termo zumbi para criticar a militarização da ciência e a Guerra Fria.
Os zumbis de George A. Romero, não foram importantes apenas por conta de suas fortes e pertinentes criticas sociais. Romero trouxe criaturas monstruosas e assustadoras, algo que revolucionou a maneira que o cinema produzia seus filmes. A partir disso, os filmes de horror tornaram-se muito mais viscerais e factíveis.
Legado e Importância
O diretor é um dos nomes mais importantes para o cinema de horror. Filmes, como O Exorcista (1973), não seriam possíveis se antes Romero não demonstrasse que era possível fazer tanto com tão pouco. Além do visual das criaturas que influenciaram todo um gênero que viria na década 80.
Além disso, os zumbis de Romero eram frequentemente retratados como lerdos e famintos por carne humana, e a mordida de um zumbi transformava suas vítimas em zumbis. Logo, a figura do morto-vivo andante se tornou parte de um cenário popular que marcou gerações da cultura pop em diversas mídias.
Vale lembrar que obras como The Walking Dead, Extermínio, Resident Evil e muitas outras, não existiriam sem o trabalho do diretor. Inclusive, nessas citadas, há o envolvimento dele em parte da produção.
Os zumbis de George A. Romero deixaram um legado extraordinário, assustador e reflexivo para a cultura pop, demonstrando que tudo pode ter mais profundidade desde que seja bem trabalhada sem superficialidades.
Todos os filmes citados, entre outros do diretor, estão disponíveis no streaming DarkFlix+.