Crítica | História de um Casamento (2019)

Roteirizado e dirigido por Noah Baumbach, História de um Casamento é um dos melhores filmes presentes no catálogo da Netflix e, com certeza, um dos melhores de 2019. O longa teve uma ótima recepção nos festivais em que foi exibido, além de ter recebido seis indicações ao Oscar e rendido o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern.

No filme, Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) estão se divorciando. Os dois combinam de não contratar advogados para tratar do assunto, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), uma advogada especialista no assunto. Agora, os conflitos, principalmente envolvendo a guarda do filho Henry (Azhy Robertson), se tornam maiores.

História de um Casamento e um charme único

Acima de tudo, é importante dizer que os cinco minutos de introdução são uns dos mais belos que você verá no cinema. É claro que estamos falando de uma história sobre um divórcio, assim, poderemos ter inúmeros conflitos sendo abordados nas duas horas, mas ele começa logo com as qualidades do casal sendo apontadas de um para o outro. E o filme em sua totalidade não é isento de humor, há muitos momentos de colocar um sorriso do rosto!

Essas pessoas que posteriormente estarão tão furiosas uma com a outra, já se amaram antes e existiu um motivo para isso. E por isso, esse começo se mostra tão sublime, pois passamos a conhecer o mais íntimo desses personagens, narrado de uma carta e com ilustrações reais. A trilha musical se destaca desde esse momento, sendo incrivelmente relaxante, segura e triste.

É interessante como os ângulos de filmagem soam propositais, parece que os personagens sabem que há uma câmera próxima deles, mas, na verdade, é apenas uma janela que nos transporta para suas vidas. A câmera do filme é estática, realizando longas tomadas e com pouca movimentação, sugerindo algo mais monótono e condizente com o tema abordado. Tudo parece sóbrio demais.

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Ainda assim, a estética não deixa a desejar em como compõe suas cores. O visual se mostra realmente extraordinário, não só pelos flocos evidentes de um filme rodado em película; mas por como essas cores estão adequadas a cada ambiente e sentimento desses personagens. Muitas vezes temos tonalidades mais melancólicas, outras vezes mais alegres, sempre dependendo do que Charlie e Nicole estão vivendo.

Nesse sentido, o filme é muito real. Os personagens falam e agem como se fossem pessoas vivendo o dia a dia, seja pela naturalidade dos diálogos ou por como eles são interrompidos por uma situação externa; por exemplo, eles estão constantemente falando sobre uma determinada coisa enquanto fazem outra, mantendo diferentes níveis de concentração, como acontece na vida real.

De que lado você está?

Quando os términos de relacionamento acontecem, geralmente existe essa divisão dos dois lados e, para quem está de fora, a discussão sobre quem estava certo ou errado. E o filme poderia muito bem favorecer um dos lados para desmerecer outro, mas, ele não o faz.

Charlie e Nicole não são folhas em branco, pelo contrário, eles são multifacetados e possuem complexidades de fácil afeição. Conseguimos entender perfeitamente ambos os lados e como esse amor continuará existindo, mesmo que não faça mais sentido. Dessa forma, a atuação de Adam Driver é, em todos os sentidos, perfeita. Ele traz um cuidado com o Charlie, acompanhado de uma entrega de emoções absolutamente profunda e devastadora.

Enquanto Scarlett Johansson, com muita sensibilidade, muda suas feições em questões de segundos e impressiona pelo seu controle em cena. Entendemos essa personagem só pelo seu olhar, e chega a ser triste pensar que ela não levou o Oscar pela melhor atuação de sua carreira. E a grande cena do filme se destaca pelo peso narrativo e como as palavras ditas se direcionam a nós. Como pode um roteiro ser tão crível e as atuações tão talentosas?

A própria questão judicial é um fator instigante de presenciar, afinal, existe essa desvinculação entre os sentimentos e o que precisa ser feito. E, ao fim, depois de tantos problemas, xingamentos e ódio, o respeito entre esse casal irá continuar perdurando, pois essa história teve um fundamento. Uma simples cena de Nicole amarrando o tênis de Charlie ou cortando seu cabelo, pode parecer simples, mas diz muita coisa.

Portanto, História de um Casamento é um grande filme pautado na realidade, mostrando as coisas como elas realmente são. O senso de tristeza anda ao lado do de propósito, nos fazendo compreender e refletir essa história para sempre em nossas mentes.