Escrito e dirigido por Rian Johnson, Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi, certamente, é o filme mais divisivo entre os fãs. Vindo do tão bem-sucedido O Despertar da Força, essa sequência era aguardada por vários motivos, principalmente porque teríamos uma maior presença de Luke Skywalker nesta nova história.
Essa nova abordagem é composta por decisões de extrema importância. Que, certamente, iria agradar uns e desagradar outros. A estrutura do longa assemelha-se a de O Império Contra-Ataca, embora opte por inúmeras decisões diferentes.
No filme, a vida isolada de Luke Skywalker (Mark Hamill) sofre uma reviravolta quando Rey (Daisy Ridley) chega até ele, demonstrando potencial com o uso da Força e buscando ajuda. Enquanto isso, Kylo Ren (Adam Driver) e General Hux (Domhnall Gleeson) tomam partido para atacar a Resistência e expurgar as restantes forças do Bem.
Star Wars: Os Últimos Jedi e sua desconstrução
Uma das maiores controvérsias do filme é o tratamento dado a Luke Skywalker. Uma grande expectativa foi criada em relação a isso, afinal, todo mundo queria ver o tão amado personagem de volta. Porém, essa versão mais velha do personagem é pessimista e descrente.
Esse Luke é falho. Ele está constantemente questionando o legado dos Jedi e como as pessoas lidam com isso, dialogando diretamente com os prequels; somos apresentados a sua falha como Mestre Jedi e como isso desencadeou uma série de acontecimentos.
Então, conforme o filme passa, pequenas situações vão acontecendo para trazer Luke de volta ao seu auge de esperança e otimismo. Ele fica comovido com a antiga mensagem da Leia, acredita na Luz novamente após conhecer Rey e recebe mais um ensinamento do Mestre Yoda, em uma das cenas mais poéticas da saga.
No Episódio IV, Leia pede ajuda através de um holograma. Agora, neste filme, Luke vai ajudá-la como holograma. Ele aplica seus ensinamentos do Episódio V na batalha final, enganando toda a Primeira Ordem sem sequer encostar em alguém. Luke dá uma lição em seu sobrinho e proporciona a oportunidade de fuga da Resistência. Assim, Luke torna-se uma nova esperança e a rima de sua última cena é linda.
Nesse sentido, o todo o filme gira em torno de pessoas falhas que, em algum momento, conseguem se levantar. Não apenas Luke, mas todas essas boas pessoas que estamos acompanhando. Em meio a tempos tão sombrios, elas têm umas às outras e isso se torna o bastante. O filme não é “preto no branco”, ele é cinza.
Os conceitos da Força se mostram bastante intensos, é muito interessante o seu uso no filme. A montagem se destaca, brincando com coisas que acontecem em simultâneo, às vezes, utilizando até flashbacks.
Os Últimos Jedi como temática
É interessante começarmos o filme naquela batalha. Vermos de perto o terror de quem se sacrifica, logo depois, o peso disso, nos diálogos. A história segue essa linha de dar importância e propósito a quem menos esperamos.
Rey não é especial. Não importa de onde ela veio, a força pode despertar em todos e o que realmente importa é o que ela fará com isso. Essa mensagem é forte e universal, quebrando o conceito de que só quem vem de uma linhagem especial pode ter esse poder — mesmo que isso seja subvertido no filme seguinte. Todos podem ser agentes de mudança.
Kylo Ren faz aquilo que menos esperávamos: matar seu Mestre e se assumir como o verdadeiro vilão desta história. Adam Driver passa o texto desse personagem com muita intensidade e rouba muitas cenas neste filme.
Esses dois personagens são o grande pilar do filme. Além da conexão da Força imposta a eles, o desenvolvimento dessa relação deixa ambos cada vez mais vulneráveis. Será que ela irá para o lado dele? Ou ele irá para o lado dela? Felizmente, ao fim do filme, a história define o papel de cada um.
Dessa forma, o filme funciona muito bem como uma passagem de bastão. Rey entende seu lugar em tudo isso, Kylo traça seu novo objetivo e Poe torna-se um líder digno. Afinal, todos esses personagens são guiados por alguém e conseguem atingir um objetivo.
A estética contrastando branco e vermelho é simplesmente fantástica. O modo com que Rian Johnson posiciona a câmera e aproxima dos personagens, focando sempre em suas expressões, é incrível. A trilha de John Williams, novamente, traz força e emoção ao filme. Então, o longa parece muito seguro de suas decisões, tanto estéticas quanto narrativas.
Os problemas do filme
Rose é uma personagem interessante e sua dinâmica com Finn é interessante acompanhar. No entanto, a parte que o filme insere esses personagens soa muito excessiva e até desnecessária, dado o rumo que isso leva.
O fracasso na missão deles, nos leva até a simbólica batalha final. Contudo, essa é a questão: mesmo que haja justificativa, nem sempre vai ser necessariamente interessante.
Sim, existe substância nesse arco, como, por exemplo: as pessoas que se beneficiam com a guerra, de ambos os lados. No entanto, a intercalação dessa missão toma muito tempo do filme e destoa em alguns momentos.
Tudo bem, essa continuação não tem a obrigação de responder todas as dúvidas do mundo. Porém, se esse lado dispensável do filme fosse para nos dar uma melhor contextualização desse universo atual, de repente, seria mais interessante e o filme cresceria ainda mais.
Finn poderia ter tido outra abordagem nesta sequência e, infelizmente, o personagem fica sem propósito no filme seguinte. O sacrifício dele, no final, teria peso, mas é impedido e segue por um beijo sem emoção.
Portanto, Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi possui erros, mas seus acertos os ofuscam. Temos a melhor atuação de Mark Hamill como Luke, além de momentos muito emocionantes com Carrie Fisher. O filme, está o tempo todo subvertendo nossas expectativas e usando o poder dessa saga para transmitir mensagens universais. Certamente, um dos melhores que já fizeram!