O Menino Que Desenhava Monstros, escrito por Keith Donohue e publicado no Brasil pela DarkSide Books, é um livro de horror cuja história gira em torno de uma criança com habilidades “peculiares”.
Na trama, Jack Peter é um garoto de 10 anos com Síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes, com seu melhor amigo. Desde o incidente, Jack só sai de casa para ir ao médico, e está convencido de que monstros estão à espreita em cada canto da casa e das redondezas do local onde vive com sua família. Jack, certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer ao pensa que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, começa a questionar por quanto tempo será capaz de manter o controle sob o filho que está cada dia maior e mais forte, e esse pensamento apenas lhe faz ter cada vez mais medo do filho.
Enquanto sua mãe tenta procurar ajuda, o pai de Jack julga ser apenas uma fase e que logo deve passar. Mas uma coisa é certa entre ambos: avistamentos, sons e acontecimentos cada vez mais estranhos passam a fazer parte do dia-a-dia da família; os monstros que Jack desenha, passam a ganhar vida, e quando se dão conta disso já pode ser tarde demais.
Sim, pode parecer estranho vermos um livro que parece entregar o desfecho da história logo no título, mas não se engane, a trama vai além para surpreender o leitor em suas últimas páginas.
O Menino Que Desenhava Monstros possui uma trama bastante bem construída, e vemos os acontecimentos se desenrolarem de forma intrigante e inteligente, mas um detalhe específico dessa narrativa a enfraquece, até certo ponto, e pode desagradar alguns leitores; o autor usa cada capítulo para retroceder constantemente algumas horas ao longo de todo o livro, para sabermos exatamente o que aquele determinado personagem estava fazendo. E isso pode tornar a leitura um pouco cansativa para alguns leitores. Por exemplo, se estamos vendo o que acontece com Jack em um capítulo, no capítulo seguinte voltamos algumas horas no tempo para vermos o que a sua mãe ou o seu pai estavam fazendo até o momento em que a narrativa de ambos os personagens se encontram naquele dia. Confuso? Nem tanto, é uma mecânica interessante, mas que parece não ser executada por Keith Donohue da melhor forma. Um bom exemplo disso é Psicose, de Robert Bloch — clique aqui para ler a nossa resenha —, onde o autor consegue aplicar perfeitamente essa mecânica para criar uma tensão ainda maior à trama e nos fazer especular sobre o possível destino dos personagens ao sabermos desses novos detalhes introduzidos na trama.
Enquanto isso, em O Menino Que Desenhava Monstros isso não parece ser principal objetivo desses capítulos que fazem o leitor retroceder na linha temporal da trama. São poucos os capítulos que retrocedem algumas horas na trama que realmente ajudam a complementar a história com informações cruciais para o desenvolvimento da narrativa. Alguns apenas dão a sensação de terem sido escritos para que o leitor pudesse ver o que estava acontecendo com aquele determinado personagem horas antes daquilo fora visto no capítulo anterior, sem nenhuma pretensão e objetivo de enriquecer a história e criar ainda mais tensão e expectativa — algo essencial, e esperado, em obras que propõe elementos de horror, como essa.
No entanto, é preciso dar aqui alguns méritos ao autor, visto que, como citamos anteriormente, esse é um detalhe que pode desagradar a alguns leitores, mas não empobrecem a história criada, apenas causam uma grande queda no ritmo em vários destes capítulos. Keith Donohue consegue criar um plot digno de grandes produções hollywoodianas, capazes de fazer o leitor se sentir “tolo” ao se dar conta de que diversos fragmentos daquilo que seria mostrado nas últimas páginas fossem mostrados ao longo de toda a história sem percebesse isso.
Keith Donohue propõe em O Menino Que Desenhava Monstros uma experiência de terror num cenário incomum: uma casa litorânea em pleno inverno norte-americano, com elementos simples, mas capazes de atiçar os pensamentos mórbidos de qualquer leitor amante de obras de horror. Toda a trama parece ter sido pensada para servir de base para uma adaptação cinematográfica, desde a descrição detalhada dos monstros ao desfecho inesperado e aos dramas vividos pelos personagens diante das condições da psique de Jack Peter e dos receios extraconjugais envolvendo seus pais e a família de Nick, seu melhor amigo e único companheiro.