Não é exagero afirmar que Doctor Who havia se consolidado novamente como uma das séries mais importantes da televisão britânica no ano de 2008, e talvez, do mundo, graças às suas duas temporadas anteriores, segunda e terceira respectivamente. Em toda essa era de renascimento para o Doutor, Russell T. Davies esteve no controle criativo de boa parte das histórias dos episódios, sendo ele próprio um grande fanático do seriado que acompanhou tal trajetória por grande parte de sua vida.
Porém, era inevitável que em algum momento essa história teria que terminar, com as últimas aventuras de David Tennant no papel do glorioso Décimo Doutor.
Na Quarta Temporada de Doctor Who, o Décimo Doutor continua perambulando pelo Espaço e Tempo após separar caminhos com Martha Jones, sua companheira anterior. Ele eventualmente se encontra com Donna Noble em uma de suas investigações, e os dois se unem para impedir uma ameaça em Londres e acabam por continuarem se aventurando. Donna já havia feito uma aparição no especial de natal entre a segunda e terceira temporada, ela foi tão bem recebida pelos fãs trazida de volta como uma companheira primária do enigmático viajante.
A relação do Décimo e de Donna simplesmente funciona! Uma coisa que ofuscou muito a relação do Doutor e de Martha, foi esse interesse amoroso desnecessário que já teve sua natureza criticada aqui no site na resenha anterior. Ainda que o season finale da terceira temporada tenha consertado essas brechas, já era tarde demais, e muitos fãs acabaram por odiar a relação de ambos.
Já com Donna a história é completamente diferente. A personagem, além de ter conhecido o Doutor em seu casamento falso e por conta disso, acaba por estranhar ter qualquer tipo de sentimento amoroso com ele, também teme ver um alienígena como um par romântico. Eles são como dois melhores amigos, sempre ajudando um ao outro e nunca quebrando limites desnecessários por meras artimanhas do roteiro.
Donna é uma companheira tão original quanto o próprio Doutor, além de ser dura e desconfiada, ela tem um humor muito instável que pode explodir a qualquer momento, e quem paga as consequências disso é o nosso protagonista.
Falando nele, é nessa temporada que o Décimo Doutor começa a mostrar os vários traumas que as perdas e batalhas de suas aventuras anteriores causaram-lhe. O doutor está mais impetuoso, mais perigoso do que nunca, é até sublinhado que ele precisa de alguém ao seu lado para mantê-lo na linha.
David Tennant continua fazendo um trabalho fantástico em mostrar as falhas, qualidades, inteligência e espontaneidade do personagem que ele mesmo ajudou a fixar na história da série.
Como fora mencionado antes, essa foi a última temporada de Russell T. Davies na série, mas ele aproveitou, e muito, para apresentar algumas das melhores histórias que Doctor Who já teve o prazer de conceber; Midnight, The Fires of Pompeii, Silence in the Library, além do próprio season finale, The Stolen Earth / Journey’s End, sendo simplesmente brilhante! Davies e seus roteiristas carimbaram para sempre o seu estilo de contar e escrever histórias de ficção-científica na série, tal estilo que faria muita falta aos fãs nas temporadas seguintes. Também é aqui que River Song é introduzida, uma das personagens mais importantes de toda história do Universo Who.
Vale a pena ressaltar que a esse ponto, Davies já tinha vários spin-offs de Doctor Who sendo transmitidos, criados por ele próprio, tais como Torchwood e The Sarah Jane Adventures. Toda essa era do Décimo Doutor já estava fixa na cabeça de todos os Whovians pelo mundo, quando se falava em Doctor Who, já se pensava no rosto de Tennant, e de seus companheiros em séries paralelas. Mas tudo tem um fim.
Vários personagens dessas séries fizeram aparições especiais nos últimos episódios da Quarta Temporada, que tem um final lindo revisitando toda a trajetória e história do Décimo, trazendo até mesmo velhos companheiros. Ainda assim, a fórmula de algumas tramas já estão bem cansadas. Por exemplo, os Daleks, que deveriam estar extintos após a Guerra do Tempo, mas sempre arrumam uma forma de voltar.
Sejam Daleks escondidos, perdidos em universos paralelos, dimensões de bolso, é algo bem ridículo para ser sincero. O verdadeiro final do Quarto Doutor ocorreu em especiais separados da temporada, e até em episódios de internet.
A quarta temporada de Doctor Who é um final digno para um dos melhores Doutores da série inteira. Seus episódios fazem jus a loucura caótica e dimensional de Russell T. Davies, e também da fúria repentina do Décimo Doutor. Tudo aqui é agradável para quem acompanhou as temporadas anteriores, poucos episódios são lembrados como ruins. Prontos para um novo Doutor?