Sherlock Holmes, o maior detetive da ficção, mestre da dedução, resolvendo casos e salvando o dia ao lado de seu fiel companheiro John Watson. Holmes é um símbolo não só da literatura mundial, como do romance policial, e suas histórias fascinam leitores ao redor do mundo até os dias atuais.
Os contos e os livros de Sherlock Holmes, de fato, sempre seguiram uma ordem serial muito orgânica, apesar de longa. Sua história tem um começo, meio, fim, (retorno), e fim. Tudo conectado por vários casos interessantes, bem escritos e cheios de revelações, pelas mãos de Arthur Conan Doyle.
Este formato é perfeito para a televisão, e não demorou muito até que suas aventuras se tornassem uma série de sucesso.
Quem é Sherlock Holmes?

Criada por Mark Gatiss e Steven Moffat, Sherlock reconta a história de Holmes no Século XXI, colocando o personagem em um cenário contemporâneo.
Para quem vive em uma caverna e desconhece alguns fatos do personagem, permita-nos explicar; Sherlock Holmes é um detetive consultor, o único no mundo, que vive em 221B Baker Street e resolve os mais diversos casos.
Por conta de sua natureza narcisista, arrogante, e até mesquinha, Holmes tem poucos amigos, até que conhece John Watson. Veterano de guerra, Watson tem dificuldades em se adaptar ao mundo normal desde que voltou de seu serviço. Porém, ao conhecer Holmes através de um amigo, ambos passam a dividir o apartamento e a trabalharem juntos nos casos.
Em meio a intrigas políticas, familiares, e muitos inimigos, Sherlock se torna o maior detetive da Europa.
Entretanto, muitos dos fatos da lore do personagem são bastante dependentes de sua época. Sherlock Holmes era um herói que encarnava virtudes do cientificismo e racionalismo, um herói romântico, vitoriano, um herói clássico.
Dessa forma, será que uma série do nosso século conseguiria emular, retratar e modernizar tais virtudes? E se fosse, isso não arrancaria o personagem de sua essência? Pois bem! Sherlock responde muitas dessas dúvidas no curso de seus três, longos episódios, e os responde com maestria.
Um estudo em trilogia

O primeiro episódio da série, Um Estudo em Rosa, começa ousado, com uma cena de pesadelos que Watson está tendo em lembrança da guerra. Dessa forma, a direção opta por uma abordagem mais cinzenta, sufocante, e monótoma de Londres, para retratar a vida simplória que o soldado tem vivido após seus dias de glória.
Nesse sentido, várias outras nuances e características clássicas do personagem serão revisitadas e dissecadas pelo ótimo roteiro dos episódios. Por exemplo; Sherlock não fuma mais um cachimbo, prefere adesivos de nicotina, e fica implícito que ele é um ex-viciado em drogas.
Por outro lado, a natureza dos crimes e dos vilões dos episódios, que geralmente retrata uma aventura de Holmes dos livros, é completamente revisitada ou até reescrita para caber nas proporções térreas da série.
Há várias questões interessantes a serem abordadas, desde assassinos criados e alimentados pela sociedade capitalista do nosso mundo atual, escancarada na Londres da trama, até elementos mais sutis.
O mundo de Sherlock é algo completamente absurdo, cheio de intrigas, rivalidades dramáticas e revelações incríveis. Há uma certa insegurança por parte do roteiro em respeitar esses elementos, ao mesmo tempo que os moderniza para uma trama mais atual.
De qualquer forma, os três episódios que compõem esta primeira temporada são ótimos. Além da direção, é preciso elogiar a atuação de nível singular por parte dos envolvidos, principalmente as estrelas, Bennedict Cumberbatch e Martin Freeman. Ambos possuem uma química assombrosa, e conseguem retratar os maneirismos e os tiques de seus personagens com louvor.
Sherlock Holmes o bastante?

Entretanto, seria Sherlock uma série Sherlock Holmes o suficiente? Claro, você pode colocar os melhores atores, a melhor direção, e a melhor ambientação em uma série com o primeiro nome do maior detetive do mundo, mas isso faz jus a sua persona?
Bem, um dos roteiristas da série se chama Steven Moffat, e quem assiste Doctor Who sabe como o mesmo trabalha com seus personagens e tramas.
Moffat escolhe uma interpretação de encontro, ou seja, o encontro dos elementos clássicos do personagem com um mundo mais “realista” e cético, a maior ameaça de Sherlock.
Isso volta aquele ponto dos questionamentos, pois, até onde um personagem, história, ou narrativa é absurda demais para o nosso mundo? Ou até onde o nosso mundo é absurdo demais para qualquer elemento ficcional.
Por vezes, vemos personagens descordando de Sherlock, assumindo o quão insano são suas conclusões, e o quanto a maioria deles o odeiam por ele deduzir coisas pessoais de suas vidas. Para quem leu os livros, é fascinante observar uma abordagem do tipo “E se Sherlock fosse real no nosso mundo atual?”.
Isso faz do personagem, de certa forma, mais trágico e propício a um arco interessante de se desenrolar. Por isso sua relação com Watson funciona tão bem. No fim das contas, Sherlock cria sua própria mensagem, ao inserir elementos literários tão importantes, mas, em simultâneo, curiosos do detetive, isso apenas fortalece o argumento do quão bom o roteiro é.
A trilha sonora de Michael Pierce e David Arnold alimenta essa ideia, juntando, de forma sinfônica, o clássico e o atual com um toque misterioso. Dessa forma, o tema principal da série se tornou uma das marcas do personagem no geral.
Veredito
Por fim, é inevitável admitir que Sherlock envelheceu como vinho, assim como a maioria de seus livros, e este é um feito difícil de se alcançar. Adaptando, modernizando elementos do personagem para uma narrativa atual e serial, Sherlock reconhece a importância do detetive, e transforma tal importância em combustível para uma ótima história.
Cumberbatch e Freeman, ao lado de Moffat e Gatiss criaram uma linha de frente perfeita para uma nova era do personagem que se iniciava aqui.
Você pode assistir à série completa no Amazon Prime.
A Avaliação
Sherlock (1ª Temporada)
Sherlock envelheceu como vinho, assim como a maioria de seus livros, e este é um feito difícil de se alcançar.
Detalhes da avaliação;
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Nota