Dirigido por Chad Stahelski e David Leitch, John Wick – De Volta ao Jogo marca a estreia de ambos os diretores. Tanto Stahelski quanto Leitch vieram de trabalhos como diretores de segundo plano e coordenação de dublês. Stahelski chegou até a trabalhar como dublê de Keanu Reeves na trilogia de Matrix.
A abordagem dos cineastas vem com fortes inspirações em animes e filmes de artes marciais. Além disso, pelo fato dos dois terem uma notável experiência no cinema de ação, esse projeto parecia mais do que promissor. E já devemos adiantar; foi, sim, promissor. As outras 3 sequências não foram à toa.
No filme, John Wick (Keanu Reeves) é um respeitado assassino de aluguel aposentado, que está lidando com a recente morte da esposa (Bridget Moynahan). Quando um gângster (Alfie Allen) invade sua casa, mata seu cachorro e rouba seu carro, ele se vê obrigado a voltar à ativa e inicia sua vingança. Assim, velhas figuras do passado e ambientes que ele frequentava voltam à tona.
A construção da figura de John Wick
Hoje em dia é bem comum vermos pessoas falando que este é bom filme de ação, mas que tem uma história simplória. E desde já é importante apontar que não tem absolutamente problema nenhum quando um filme possui uma história simples, ainda mais nesse caso. Histórias simples, de fácil entendimento e sem maiores complexidades são interessantes quando bem encenadas. E para isso, basta ter um universo estabelecido, seja nas regras que fazem ele funcionar ou na própria identidade visual. Assim, John Wick executa todos esses elementos com maestria. A condução da ação e acontecimentos menores supre a premissa no mínimo inusitada.
John não está fazendo tudo isso por conta de um cachorro ou um carro, que dada à sua fortuna, ele poderia facilmente comprar outro, mas sim, por causa de uma memória afetiva. Sua construção o mostra como um homem vaidoso, rico, determinado, habilidoso e frio. E por diversos momentos, o seu histórico de assassino da Alta Cúpula gera momentos divertidos, pois ele é uma figura que impõe respeito. Ninguém pode parar aquele que é chamado de Bicho-papão, nem mesmo a polícia, nem mesmo os assassinos mais treinados e temidos. Exceto, uma mulher.
Nesse sentido, o cara mais badass de todos se aposentou, ao encontrar um propósito de vida. E nem mesmo ele, que é o John Wick, conseguiu impedir a maior inevitabilidade da vida: A morte. E, afinal, sua esposa morreu devido a um risco de sua antiga vida? Simplesmente não. Ou seja, a única coisa física e simbólica que ela havia deixado para ele, foi brutal e aleatoriamente tirada de sua vida também.
Dessa forma, quando olhamos por esse prisma, tudo desencadeado depois faz sentido, não dá para reduzir esse conceito a somente um cachorro ou apenas um carro.
Aliás, será que essa seria uma desculpa inconsciente para voltar a essa vida em que ele era tão bom?
Ação sem igual
A ação desse filme é completamente alucinante e certamente virou inspiração para muitos filmes desse gênero que vieram depois. Os planos são longos, com pouquíssimos cortes, o que deixa aquelas mortes mais reais e dão mais tempo para apreciarmos a dinâmica das coreografias. O uso gráfico da violência é bem pontual, e perfeitamente complementado com o uso da sonoplastia nos tiros e facadas.
As próprias escolhas de locais para ilustrar essas cenas são bem criativas, afinal, uma perseguição ocorrer em meio a uma boate, em que todos estão se movimentando e curtindo a música, é o cenário ideal para adequar à ação.
As escolhas visuais tornam a experiência um tanto atrativa, deixando toda a agilidade e urgência contemplativas. Como outros críticos diriam, esse é um cinema de atrações. Perceba como no início do filme, quando acompanhamos a rotina de John com seu cachorro, a tonalidade é completamente acinzentada, demonstrando essa vida sem sentido que ele estava tendo. E conforme ele vai sendo puxado para sua antiga vida, o tudo ao redor dele vai ganhando cor. As boates abusam de uma estilização de cores primárias e a cidade adquire uma coloração verde semelhante à Matrix, ilustrando talvez a doença desse submundo ou o renascimento desta figura.
Portanto, John Wick – De Volta ao Jogo tem consciência de que não é pautado na realidade, mas sim, em um mundo com suas próprias regras. Aqui está um dos personagens mais icônicos do cinema moderno, além de o início de uma das melhores franquias de ação de todos os tempos, que não demorou para se tornar referência.
É uma história que marca, inserida em um esplendor audiovisual.
A Avaliação
John Wick – De Volta ao Jogo tem consciência de que não é pautado na realidade, mas sim, em um mundo com suas próprias regras.
Detalhes da avaliação;
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Nota