Quem ama livros, já ouviu falar de Oscar Wilde e Bram Stoker. Ambos os escritores irlandeses são grandes nomes da literatura. Enquanto Wilde é responsável pela obra imortalizada pelo cinema, O Retrato de Dorian Gray, Stoker é amplamente conhecido pela criação de Drácula, livro que popularizou o mito do vampiro na cultura popular.
Além da carreira e amizade de longa data, os dois possuíam algo a mais em comum: se encantaram pela mesma mulher! É de se perguntar o que Florence Balcombe tinha de tão especial assim…
Amor à primeira vista
A sexualidade do criador de O Retrato de Dorian Gray é pauta recorrente entre historiadores. Muitos dizem que o autor era bissexual, uma vez que era casado com uma mulher e possuía tórridos casos de amor com homens. Outros afirmam que, sem dúvidas, Oscar era homossexual.
O fato é que, aos 22 anos, de volta às terras irlandesas nas férias da Universidade de Oxford, Oscar Wilde se apaixonou perdidamente por Florence Balcombe. Foi amor à primeira vista.
“Estou saindo agora para levar uma garota extremamente bonita para o serviço da tarde na Catedral. Ela tem apenas dezessete anos, com o rosto mais perfeitamente belo que já vi, e não tem um tostão. Vou lhe mostrar a fotografia dela, quando nos encontrarmos da próxima vez.” O jovem universitário escreveu para um amigo, em 1876.
Quem era Florence Balcombe?
Nascida em Falmouth, Cornwall, no dia 17 de julho de 1858, Florence Ann Lemon Balcombe era filha de um Tenente-Coronel. Seu pai estava envolvido na Campanha da Crimeia, então acredita-se que seu nome pode ter sido uma homenagem à Florence Nightingale, fundadora da enfermagem moderna. Aos dois anos, a família de Balcombe se mudou para a Irlanda, em 1860.
Claro que a beleza da jovem era um traço muito marcante. Ah, se fosse apenas isso… Mas Florence era muito mais que um rostinho angelical. A jovem tinha uma reputação por ser espirituosa e falante, características que podem ter atraído a atenção de Oscar.
Romances florescendo
Não demorou nada para que o romance entre o dramaturgo e a jovem aflorasse. Os pombinhos caminhavam juntos aos domingo, em Merrion Square, local preferido de Wilde, e na manhã de Natal de 1876, ele a presenteou com uma cruz de ouro com o nome “Oscar Wilde” gravado.
Esse presente costumava ser visto como quase um pedido de noivado. Os dois já se conheciam há seis meses, mas era hora do escritor voltar para a universidade. Entretanto, o promissor casal fazia tentativas para manter o contato por meio de cartas.
Enquanto o estudante de Oxford estava de volta à Inglaterra, a bela Florence permanecia em Dublin. Estava sempre em jantares e reuniões da família de Oscar, estreitando o vínculo com a família do amado.
Por outro lado, isso não quer dizer que a estonteante moça não atraísse olhares de novos pretendentes. E, havia outro gênio irlandês muito disposto a conhecê-la.
Trocas, desilusões e novidades
As palavras que correm no mundo literário é que foi em uma das reuniões da família Wilde que Balcombe chegou a conhecer um amigo do irmão mais velho de Oscar. Esse amigo era Bram Stoker, que escreveria Drácula em 1897.
Stoker era um apaixonado por teatro. Em 1978, ele foi promovido a Gerente Interino no Lyceum Theatre em Londres. Henry Irving, novo chefe e famoso ator, ficou em choque ao se dar conta de que Bram Stoker havia se casado.
“Extremamente surpreso ao descobrir que eu tinha uma esposa – a esposa – comigo.” Bram Stoker ao falar sobre a reação de Henry Irving.
Se Irving estava surpreso, Oscar estava destruído. O dramaturgo pediu a Florence que devolvesse o presente que havia dado, e jurou carregar a cruz como uma memória dos “dois anos doces – os mais doces de todos os anos da minha juventude”
O casal Stoker
Enfim, Florence e Bram se casaram, e agora? Desde já, pode-se adiantar: o casal foi muito feliz. Além do casamento bem-sucedido, os dois desfrutaram de uma parceria profissional incrível.
Inclusive, haviam sempre relatos sobre o quanto o casal era maravilhoso. Por exemplo, a proprietária do vasto hotel Kilmanorck Arms, afirmou:
“Ele foi um dos homens mais simpáticos que já conheci… Um irlandês grande, alegre e bonito; e sua esposa era a mulher mais linda que eu já vi.” Sra. Cruickshank sobre Bram Stoker e Florence Balcombe
Ao longo dos anos, porém, o escritor de Drácula teve sérios problemas de saúde. Porém, isso não abalou o casamento, já que Florence dobrou os cuidados em relação ao marido.
“É mais difícil para a pobre Florence (que tem sido um anjo) do que para mim. Ela teve que fazer toda a contabilidade e encontrar o dinheiro para viver – só Deus sabe como ela conseguiu.” disse Stoker para Thorney, seu irmão.
Enfim, a tão esperada (e breve) Sra. Wilde
Eventualmente, após a grande desilusão amorosa, Oscar Wilde teve que seguir em frente. Fez as pazes com o casal Stoker, e virou bom amigo de Bram. Demorou, mas seis anos depois da decepção, se casou com Constance Lloyd, e teve dois filhos com a esposa.
Só que esse matrimônio não deu certo. Após uma série de escândalos pela parte do marido, Constance mudou o sobrenome, em uma tentativa de salvar a reputação dos filhos. Os dois não se divorciaram formalmente, mas se separaram, e as crianças nunca mais viram o pai.
De acordo com a biografia de Vyvian, o filho mais novo, ambos os irmãos tiveram uma infância relativamente feliz, e seu pai era uma figura amável.
O legado de Florence Balcombe
A esposa de Bram Stoker dedicou os últimos anos de sua vida em busca de proteger o legado literário do esposo, gerindo suas finanças e negócios.
Até hoje Florence é lembrada por lutar pelos direitos de Drácula, obra que foi utilizada sem permissão para o nascimento do filme Nosferatu, de 1922. Vitoriosa, exigiu que as cópias do filme fossem destruídas, mas a obra alemã conseguiu sobreviver aos efeitos do tempo, se tornando um clássico do terror.
Balcombe viveu vinte e cinco anos a mais que o marido, e faleceu em 25 de maio de 1937, aos 78 anos. Assim como a tenacidade, sua beleza também entrou para a história como legado, se mantendo intacta até o fim de sua vida. Noel, filho do casal Stoker, disse que a mãe continuou bela até os setenta anos, e que os homens se levantavam de seus assentos no teatro somente para ter um vislumbre de sua graciosidade.
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E aí? Você já tinha ouvido falar sobre Florence Balcombe?
Referências: Aventuras na História, Women’s Museum of Ireland