Vampiros são ícones não só do terror, como da Cultura Pop em geral. Nossos sugadores de sangue favoritos já foram reinventados diversas vezes ao longo dos séculos. Entretanto, não se pode competir com o original, o pai do horror, Drácula, de Bram Stoker.
Um clássico em todos os sentidos, que definiu elementos, personas e o que viria a se tornar o horror literário por muitos anos a seguir. Porém, como será que o livro se segura hoje em dia?
A narrativa do clássico
A história do livro é contada por anotações escritas pelos personagens da trama. Entre eles, Jonathan Harker, que trabalha para um chefão imobiliário de Londres e atua como seu ajudante e amigo. Jonathan inicia o livro em uma de suas viagens de negócios, com a pretensão de vender um imóvel no centro de Londres para um estranho comprador que mora na Transilvânia, Romênia.
Porém, quanto mais se aproxima das terras do mesmo, mais Jonathan percebe haver algo de errado. Os moradores locais temem a noite, e há uma estranha atmosfera intimidadora no ar. E após conhecer Conde Drácula, Jonathan se vê preso em seu castelo, a mercê da piedade de seu anfitrião.
A partir daí, a história vem e volta entre diferentes figuras que habitam Londres: Mina Harker, a noiva de Jonathan, ou Van Helsing, um estranho doutor que detêm conhecimentos ocultos. Seja como for, todos eles formam um improvável grupo que pretende impedir Drácula de se estabelecer em Londres e começar um reinado de terror na Europa.
O horror de Drácula
A princípio, a técnica de escrita usada nas páginas de Drácula é um de seus maiores triunfos. Ao passo que cada personagem possui sua personalidade exposta em seus capítulos. Mina Harker, por exemplo, escreve de maneira delicada e tipicamente cuidadosa a respeito dos estranhos eventos que se desenrolam à sua volta. Enquanto John Seward, o administrador de um asilo psiquiátrico, narra tudo de forma técnica e neurótica.
Isto desenvolve um creditável senso de personalidade para a história. Por mais que muitos de seus elementos de horror já tenham sido usados um milhão de vezes desde então, foi aqui onde tudo começou. Além disso, é refrescante ver a visão original do Conde Drácula novamente.
Diferente das interpretações mais contemporâneas do personagem, que envolvem muita tragédia e sofrimento, aqui ele é mais animalesco. O Drácula original é uma criatura das trevas que sente prazer em causar o mal, a perversidade, e visa se manter vivo através do sangue de suas vítimas.
Após Drácula viajar para Londres e abandonar Jonathan na Transilvânia, a atmosfera das redondezas subitamente muda. As noites se tornam pesadelos escuros nas quais a sorte caminha lado a lado com o medo. Nesse ínterim, Mina percebe que sua melhor amiga, Lucy Westerna, vem agindo de forma estranha. Não demora muito para perceber que sua amiga é a principal fonte de energia para Drácula se manter jovem.
Mesmo com a ajuda de Van Helsing, um médico de Amsterdã que possui o conhecimento necessário para destruir Drácula, Lucy acaba por morrer. Assim, decididos a vingar sua amiga e amada, Mina e seus associados se juntam para impedirem Drácula de uma vez por todas.
Fruto de seu tempo?
Embora todos conheçam a história do livro, muitos acabam olhando por cima de algumas das controversas visões apresentadas na narrativa do mesmo.
Drácula é um forasteiro, um imigrante que viaja para Londres e busca se alimentar do sangue de mulheres inglesas para construir um império das trevas. Alguns povos também são retratados de forma muito ignorante e bruta, como os ciganos, ao longo de todo o livro. A paranoia do colonialismo reverso dos diferentes povos da história é sentida na narrativa. E mesmo com toda a camada gótica e sombria que permeia todo o livro, é inegável seu tom amplamente sexual em diversos aspectos.
Toda a ideia de Drácula violar Lucy até ela ficar fraca e sem vida já é bizarra por si só. As implicações são trazidas diversas vezes ao longo da história, mas nunca devidamente discutidas. Além disso, há quem debata sobre as supostas mensagens que Stoker colocou sobre sua própria sexualidade em alguns tons da narrativa.
Isto, porém, jamais foi confirmado. Ainda assim, Drácula acaba por ser um livro bastante imperialista em suas ideias e mensagens. Estas acabam por ser sementes de seu tempo, que brotam em discussões interessantes sobra o romance.
Veredito
O que mais sobra para falar sobre Drácula? É um dos livros mais importantes já escritos, um clássico que aborda muitos temas até então novos para o gênero de horror. Seu estilo gótico e soturno definiu uma geração. E, na verdade, define até hoje. Por mais que Drácula represente muitos dos medos das pessoas daquela época, ele evoluiu ao ponto de poder representar qualquer medo.
E por mais que o tempo passe, sempre iremos temer aqueles olhos vermelhos na escuridão, e a neblina de seu poder lentamente se aproximando. Seja nas páginas do livro de Bram Stoker, ou até no nosso próprio quarto durante a noite.