Em O Coração Denunciador, Edgar Allan Poe nos apresenta mais uma história repleta de horror, mistério e loucura. Neste conto, um homem começa a fantasiar sobre matar um senhor de idade por sentir arrepios ao olhar para o olho do idoso. Com o tempo, sua paranoia cresce até que seja inevitável não sucumbir ao sombrio desejo.
Assim como em outros contos, Poe não nos apresenta o protagonista da história, ficando a encargo do leitor imaginar sua aparência. Mesmo assim, o que carece de ambientação e descrição é compensado na imersão sentimental.
Entramos na cabeça do personagem por inteiro, e a maneira como seus pensamentos são expressos é tão potente que se torna possível ouvir os barulhos que ele ouve, o que é visto em cena. Poe usa de uma série de artifícios para representar sentimentos, indo além da simples descrição do personagem quando utiliza onomatopeias, expressões de fala e ações.
E todas as noites, por meia-noite, e girava o trinco da porta de seu quarto e abria-a… oh, bem devagarinho.
Edgar Allan Poe é mestre em não aspirar confiança nos leitores em suas narrativas. Tudo deve ser duvidado, nada deve ser uma certeza. Mesmo que o personagem principal afirme desde o início de que não é louco, fica claro que mesmo em sua narrativa, há muitos elementos duvidosos e ações que deixam seu testemunho bem suspeito.
Eu ouvia todas as coisas, no céu e na terra. Muitas coisas do Inferno ouvia. Como, então, sou louco?
É irônica a maneira como em nenhum momento o protagonista enxerga suas ações como atestado de loucura, na verdade, pensa que o cuidado em ser pego é o que justifica de que está longe de ser um louco.
Levava uma hora para colocar a cabeça inteira além da abertura, até podê-lo ver deitado na cama. Ah! Um louco seria precavido assim?
Parece que, como de costume, o escritor de horror não decepciona em sua escrita. Com algumas palavras típicas do vocabulário da época, pode-se dizer até de que o linguajar está bem acessível para os leitores de hoje. Você pode ouvir a destreza, a vilania dos personagens enquanto lê. As palavras de Edgar Allan Poe ressoam fortes para quem está dentro da leitura. Sem dúvidas, uma das características marcantes do autor.
Jamais, antes daquela noite, sentira eu tanto a extensão de meu próprios poderes, de minha sagacidade.
O Coração Denunciador é o retrato perfeito da paranoia, já que consegue demonstrar o quão longe conseguimos ir por pensamentos intrusivos. E, mais, como denunciamos nossas próprias ações ao presumir o que outros pensam.
[…] na desenfreada audácia de meu perfeito triunfo, colocava minha própria cadeira propriamente sobre o lugar onde repousava o cadáver da vítima.
Em resumo, O Coração Denunciador é um dos contos que conseguem demonstrar toda a essência de Poe com facilidade. É emocionante, sombrio e desperta nossos sentidos. Se você está procurando uma leitura para iniciar e entender mais esse escritor, este é um ótimo primeiro passo!
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