Egeu se apaixona por sua prima Berenice, que sofre com uma enfermidade desconhecida. O homem tende a se fascinar com objetos e logo desenvolve uma obsessão com dentes, a única parte saudável do corpo de Berenice.
Denso, obscuro e simples. Assim podemos definir esta obra de Poe. Repleto de elementos que invocam a dualidade, a comparação — entre a vida e a morte, o antes e depois —, Edgar Allan Poe escreve um conto magnífico em que as poucas páginas fixam-se em nossa mente.
Egeu é um firme adepto da meditação. Passa horas a fio refletindo sobre os objetos e permite que sua mente vagueie por memórias. De fato, o homem acostumou-se a tornar o mundo real como algo secundário e seus pensamentos o mundo primário.
As realidades do mundo me afetavam como visões, e somente como visões, enquanto que as loucas idéias da terra dos sonhos tornavam-se, por sua vez, não o estofo de minha existência cotidiana, na realidade, a minha absoluta e única existência.”
Só esse fator nos faz questionar se Egeu é um narrador confiável. Toda a adoração com que ele descreve a aparência anterior de sua prima — e a descrição hórrida dos dias atuais —, levanta suspeitas quanto a veracidade dos acontecimentos. Ainda mais quando descobrimos o desfecho da história.
Fascinado pela escuridão, e com as lamúrias pelo pedido de casamento “antecipado”, é fácil contestar se o protagonista realmente ama a mulher pelo que é ou pela casca de quem se tornou.
E agora.. agora eu estremecia na sua presença e empalidecia ao vê-la aproximar-se; contudo, lamentando amargamente sua deplorável decadência, lembrei-me de que ela me havia amado muito tempo, e, num momento fatal, falei-lhe em casamento”
Ele a ama pelo que costumava ser? Pelo que é agora ? Por pena? Por compaixão? Ele… sequer a ama?
Berenice é um conto que nos faz refletir sobre até onde somos capazes de ir quando se trata de preservar nossas lembranças.
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