Em O Gato Preto, um homem tranquilo e gentil começa a adquirir um comportamento agressivo conforme seu vício em bebida aumenta. Logo, a melhor solução para se livrar de todos e conseguir um pouco de paz é realizar algumas maldades ao redor, é claro.
Este é considerado um dos contos mais queridos pelos amantes de Edgar Allan Poe. É comum ver sua figura associada ao animal, e não é difícil de descobrir a razão após realizar a leitura do conto. Decerto, todos os elementos que caracterizam a obra de Poe estão presentes nesta história: a vilania desapercebida, a loucura e superstição, a presença de animais e objetos que desempenham um papel importante…
Está tudo ali, combinado de uma maneira deslumbrante, em uma mistura de elementos tão harmônica que parece que Poe estava escrevendo a receita perfeita para uma história de terror. É muito prazeroso assistir à progressão de acontecimentos com a presença de obstáculos pavorosos, interrompendo a linearidade da narrativa para um novo caminho.
Assim como em O Coração Denunciador, este protagonista também afirma não ser louco, muito embora sua narração apresente os elementos fantasiosos típicos do horror que, aliás, estão longe de serem normais.
Sob o aspecto psicológico, é interessante ver como o personagem opera depois dos crimes cometidos. Ele não mais sente qualquer coisa por seus atos; sim, ainda os vê como horrendos perante à humanidade e a lei, mas se preocupa mais com as tecnicalidades que os sentimentos.
Executado tão horrendo crime, logo e com inteira decisão entreguei-me à tarefa de ocultar o corpo.
A passagem acima ilustra como o homem perde sua humanidade aos poucos, cada vez menos assombrado com o que faz, e mais preocupado com as consequências que virão. Essa frieza progressiva até assusta ao leitor, mas a bebida é sempre a culpada. Nas primeiras linhas, descobrimos que ele está contando sua versão dos fatos após estar encarcerado, então será mesmo que o alcoolismo é o maior culpado? Mesmo assim, o criminoso assume suas ações, ainda que mostrando um desgosto contraditório à frieza em suas ações.
Certamente, um dos recursos que trazem tanto gosto para os que leem O Gato Preto é a disposição de recursos que o autor utiliza para conduzir o horror. A premissa é bem simples: um homem alcoólatra que agride seus animais de estimação. No entanto, Poe consegue tomar isso e trazer uma profundidade impressionante.
Ademais, o simbolismo que o gato preto adquire depois da leitura é forte demais. O gato é a culpa, o medo, o aborrecimento. Impossível ver um gato preto agora e não lembrar da história. Vale destacar, também, que após a leitura, é difícil desprender as imagens criadas na mente com o visual das cenas que se colam na mente com hiper realismo.
Em relação ao vocabulário, o escritor consegue manter um nível médio nas palavras utilizadas. Nem formal demais, nem formal de menos. Mesmo assim, é sempre recomendado ter um dicionário ao lado quando está lendo um conto publicado em 1843.
O Gato Preto é de tirar o fôlego, e é impecável em sua missão de se tornar uma mistura horrenda grudenta que fica no cérebro. Se você está procurando doses baixas de terror: esta história não é para você. Mas para os leitores com estômago bom, esta é a história ideal para conhecer a razão do fascínio que Poe ainda exerce atualmente. Leia O Gato Preto, e conheça toda a genialidade em transformar um ato de maldade em um mito de arrepiar os ossos.
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