Você não dormiu ontem. Você tem somente 11 dias para fazer tudo o que quiser, porque vai enlouquecer logo. Nos seus momentos restantes, vai perder a cabeça e realizar loucuras, sem conseguir se controlar.
Este é o quadro de quem tem a SIP (Síndrome da Insônia Permanente), a doença fictícia da Graphic Novel 11 Dias, trabalho argentino recente de Sage e Aleta Vidal. Sem vacinas nem cura, tudo o que se sabe é que a enfermidade afeta somente jovens e dura 11 dias, desde o primeiro sintoma até os últimos dias, da loucura à morte.
A história segue Gabo, Maia, Lucas e Genshi, quatro amigos que possuem uma banda e tentam seguir suas vidas em um aparente final de mundo, cercados pelos extremos, os infectados que em seus últimos dias cometem loucuras, causando acidentes de carros, mortes violentas, e muito mais.
11 Dias assusta quando pensamos que isso parece mais próximo da nossa realidade do que achávamos. As situações e palavras colocadas parecem muito familiares aos nossos ouvidos: vacina, pessoas indo à loucura, perda de pessoas queridas, televisões sempre no noticiário. Assusta saber que algo de ficção científica se assemelha tanto com o que vivemos.
Ao mesmo tempo, parece que ficamos quase insensíveis ao tema. As ilustrações não assustam tanto, a possibilidade de uma doença que extermina vários jovens não assusta tanto quanto deveria. Talvez porque estamos de fato vivenciando isso, a realidade de uma obra de ficção científica. Até mesmo o desenvolvimento de personagens falha no quesito de criar empatia com o leitor, pois pouco conhecemos acerca dos protagonistas. Não sabemos seus sonhos, seus problemas, seus traços de personalidade.
A trama, segue uma certa previsibilidade, com o rumo dos acontecimentos nos guiando para saídas pouco surpreendentes. É um pouco frustrante perceber também que alguns pontos foram abordados de maneira insuficiente, como os encapuzados. Seria legal ter um plot os envolvendo mais, para descobrirmos mais sobre quem eles são e o que representam sob seu ponto de vista.
Se a intenção é nos fazer sentir medo, o traço da obra pouco contribui nesse aspecto. As ilustrações da Insônia Permanente não são horripilantes o suficiente, trazendo pouca imersão ao leitor no contexto. A arte se apoia muito no texto, e nos momentos em que finalmente começamos a nos interessar, a história acaba. A sensação que fica é a de que a história ficou incompleta, com uma continuação pendente.
A obra possui um enorme potencial, mas foi pouco aproveitado, e seus pontos positivos não foram abordados o suficiente.
11 Dias é um bom passatempo, com uma leitura leve e ilustrações bonitas, porém surpreende pouco quanto ao desenvolvimento da premissa apresentada.